segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Telegrama


Feliz ano velho.

Espero que você não passe o final de ano diante do micro. De toda forma, segundo dizem, daqui a uns dias será o fim do mundo. Portanto, feliz 2010.









ViaViva Saliva

domingo, 9 de dezembro de 2012

Telegramas








(­O sábio e desafortunado romano Pompônio Flato fala umas verdades ao Jesus menino. Ou Jesus moleque, se preferir.)
-Tudo que acontece, acontece por vontade de Deus, raboni?
-Não sei. Mas se é assim, devemos perdoá-lo, porque Deus ou os deuses do Olimpo não conhecem a dor de perder as pessoas queridas e isso os faz inferiores a nós.
Jesus me olhou com intensidade e exclamou:
-Isso que você está dizendo não é uma blasfêmia:
-Com certeza. Blasfemar é outro privilégio privativo dos homens. Não serve para muito, mas, em ocasiões como esta, até que não vai mal.



(...e, logo adiante, sobre a imortalidade da alma) 

-Das muitas coisas escritas, muito poucas estão comprovadas. Sócrates estava convencido da imortalidade da alma, assim como Platão. Mas nisso, com toda a humildade, discrepo de tão grandes mestres pelas razões que a seguir exporei. Antes de mais nada, partamos do pressuposto de que o homem é formado de duas partes bem diferenciadas, isto é a matéria e o espírito, ou, o que dá na mesma, o corpo e a alma. A alma é o que infunde vida ao corpo, de tal modo que quando o abandona, o corpo deixa de funcionar e dizemos que o homem a quem pertencia morreu. Já a alma, sim, pode existir sem o corpo, como demonstra o fato de que o corpo inanimado, seja quando dorme, seja quando por alguma causa perdeu a consciência, a alma o abandona e segue a seu bel-prazer, liberada de qualquer amarra, e por isso pode cobrir as maiores distâncias num instante, inclusive se deslocar no tempo, transmutar-se em outra pessoa sem perder, por isso, a consciência de sua própria identidade, e ter contato com seres vivos ou mortos, humanos ou animais, até mesmo com monstros ou quimeras, assim como conseguir façanhas que o corpo seria incapaz de realizar, ou desfrutar deleites, que ao corpo seriam inalcançáveis, para não falar de todo tipo de perversões. A essas experiências chamamos de sonhos. Não obstante, se os analisarmos um pouco, veremos que nesses episódios a alma obtém mais pesares que alegrias, com frequência sofre perseguições, opressões, angústias e tristezas, e encontra-se sempre em um estado de grande confusão, como se tivesse perdido o juízo. Por isso, ao cabo de muito pouco tempo, retorna ao corpo e o desperta com grande pressa e agitação, e quando de novo se une a ele,  tranquiliza-se e experimenta tal bem-estar que os problemas e aborrecimentos da vida real lhe parecem nímios em comparação com os apuros pelos quais passou em suas andanças. E, se é assim, o que acontecerá em comparação com os apuros pelos quais passou em suas andanças. E, se é assim, o que acontecerá se depois da morte a alma se vir obrigada a vagar eternamente, sabendo que nunca poderá voltar ao corpo que a conteve, posto que este se reduziu a pó? Por essa razão, muitos povos embalsamam e mumificam o corpo, para que a alma não se veja totalmente privada dele. Pois embora a alma, por sua capacidade, pareça pertencer à mesma ordem natural dos deuses, na realidade é inferior ao corpo, e está subordinada a ele, e só com ele consegue proteção e sossego. Por tudo isso, não me parece lógico que os deuses nos tenham condenado a um suplício semelhante, e prefiro acreditar que uma vez apurados os trabalhos e dissabores desta vida, quando também nosso corpo deixar de sentir, o espírito também encontrará seu descanso regressando para o nada em que estava tão placidamente antes de ter nascido.





(Trechos extraídos de "A Assombrosa Viagem de Pompônio Flato", de Eduardo Mendoza. Merecia melhor capa da editora. Dá impressão que o título é o nome do autor. Fora isto, ótimo livro, perfeito para amigos secretos)


(Imagem: Tracejado do grafite de Alexámanos. Encontrado em uma das ruínas do Monte Palatino em Roma. Supõe-se que seja uma chacota (bullying?) de um soldado romano contra outro, de fé cristã. No desenho, Cristo estaria representado com uma cabeça de burro. A legenda está em grego: Αλεξαμενοϲ ϲεβετε θεον, que poderia ser algo como "Alexámanos adorando a seu deus". A imagem seria do século III d.C.)

sábado, 8 de dezembro de 2012

Zerografia

Alexandre





Anteontem meu vizinho morreu.

Era um senhor bastante idoso, patriarca de uma família de muitas mulheres, que se distribui em vários apartamentos de meu condomínio. São imigrantes, vieram do ******. São Paulo é uma cidade com gente de todo lugar, do Líbano ao Japão, da Nigéria a Bolívia, mas ****** não é um país típico. Temos curiosidade sobre como vieram para aqui. Por conta das guerras e de tudo mais, imaginamos alguma história triste de fuga. Mas também pode não ser. Como é típico entre vizinhos, não somos íntimos. Não temos coragem de perguntar sua história.

Era um senhor de nome jovem, helênico. Nos dias frios usava uma boina. Tinha olhos azuis, o que imagino ser incomum no oriente. É uma família de muitas mulheres, divididas entre solteiras, viuvas e solteironas. Com elas há um pouco mais de diálogo. O básico de elevador. Bom dia, boa tarde, boa noite, meteorologia amadora, o crescimento dos filhos, o síndico, a roubalheira do governo ou de quem quer que seja.

Com aquele senhor, entretanto, evitávamos uma conversa mais longa. Falava com dificuldade, e não somente pelo sotaque. Por culpa do trânsito e de nossa preguiça, estamos sempre atrasados e com pressa. E que diálogo poderia haver entre nós, sem nada em comum?

Os encontros com este senhor viúvo ocorriam quase sempre pela manhã, horário para uma caminhada lenta ao redor do condomínio ou do quarteirão, dependendo do clima. Depois do passeio, ele sentava ao lado do porteiro do prédio e observava o movimento de pedestres e de carros e de vizinhos indo para escola ou trabalhar.

Numa destas manhãs, nevoeiro prometendo sol depois, eu saía com as crianças. Meus filhos não são dados, escondem-se entre as pernas na presença de estranhos no elevador. “São tímidos”, explicamos, enquanto os incentivamos a cumprimentar. Passamos pelo senhor viúvo, ele de boina e o cumprimentei. Enquanto esperávamos a grade da prisão se abrir (a portaria do nosso edifício também têm dois portões que se abrem separadamente), aquele velho senhor sentado gesticulou com as mãos um rápido “vem cá-vem cá” para meus filhos. Sem dizer nada, as crianças foram até lá para serem abraçadas. Meus dois filhos nascidos após a queda das Torres e a dispersão do wireless responderam ao abraço daquele senhor viúvo das montanhas, que caminhou entre ovelhas e rios gelados, em vilarejos destruídos por bombas e terremotos. Século XX e século XXI. Depois se afastaram.

Enquanto o portão se fechava, houve tempo para um último tchauzinho. Não sei se eles se viram depois disso. Possivelmente minha mulher e as crianças tenham se cruzado mais uma vez. Naquele dia de neblina, caminhamos de mãos dadas rumo a escola, onde se espera que sejam preparados para a vida. Enquanto isto, deixamos vidas passarem.





(Publicado originalmente no blog da Terracota. Imagem: pedaço de um mosaico encontrado em uma casa (A Casa do Fauno) nas ruínas de Pompéia, representando Alexandre o Grande enfrentando Dario III. O mosaico representa a batalha de Isso e é parte do acervo do Museu Arqueológico de Nápoles)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Telegrama






(Páprika, o anime)

1)

"O mundo dos vivos já contém suficientes maravilhas e mistérios sendo como é; maravilhas e mistérios agindo sobre nossas emoções e inteligências de modos tão inexplicáveis que quase justificariam a vida como um estado de encantamento."

Joseph Conrad, ao justificar seu desapego ao Sobrenatural, em introdução para o livro "A Linha de Sombra".

2)

Dois trechos (fora de ordem) de  uma antiga (2009) matéria de Audrey Furlaneto (na Folha de São Paulo) sobre Jorge Furtado, diretor da TV Globo e de filmes, como “O Homem que Copiava” e “Meu Tio Matou um Cara” e que fez a versão de Decamerão (Bocaccio).

a)

Em 2002, hospedado com a equipe num hotel para as filmagens de “O Homem que Copiava”, Furtado descobriu na TV do quarto um canal que exibia imagens da recepção em tempo real.”Eu ficava olhando a TV no quarto e me dei conta de que toda a equipe assistia”, lembra, rindo.

“Tem uma compulsão pela realidade, com Big Brother e todos os realities, os blogs, o YouTube. E o atrativo é: isso está acontecendo. Tudo bem. A “TV Portaria” está realmente acontecendo. O cara está realmente chegando com a pizza, está realmente entregando a pizza para a pessoa. E daí? Qual o valor dramático disso? O que eu aprendo com isso? É quase um voyeurismo e eu acho que a poesia é outra coisa. A arte é uma outra coisa.

Ou pelo menos, pode ser outra coisa que não tem nada a ver com a realidade.”


b)

Numa casa de matéria em que tudo remete ao século XIX, há uma caneca de plástico esquecida sobre a mesa. Nela, lê-se a frase de Rimbaud: “Jamais réel et toujours vrai”(Nunca real e sempre verdadeiro). Foi escrita à mão por Jorge Furtado, porque sintetiza sua busca como diretor de cinema e televisão: quer estar distante da realidade e perto da mágica.


(“Abaixo o realismo na TV”
Folha de São Paulo, caderno Ilustrada, sexta-feira, 22 de maio de 2009)



3)


- Lembre-se: é a verdade que surge da ficção.

(Páprika, anime de 2006 dirigido por Satoshi Kon)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Telegrama

Strange Fruit






Southern trees bear strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop
Here is a strange and bitter crop

(Billie Holiday, 1939)


* * *

"Billie Holiday tinha apenas 23 anos quando cantou pela primeira vez "Strange Fruit".

Ela estava no palco do Café Society, "a única boate de Nova York realmente integrada", descreve o jornalista americano David Margolick, referindo-se ao fato de que este era um dos raros locais em que brancos e negros eram tratados como iguais, em 1939, nos Estados Unidos.

Mas mesmo ali, continua Margolick, Billie Holiday teve medo de interpretar "uma canção que atacava de frente o ódio racial, numa época em que nem se sonhava com a música de protesto".

"Não houve nem mesmo uma tentativa de aplauso quando eu terminei", escreveu Holiday em sua autobiografia. "Então uma pessoa começou a aplaudir nervosamente. De repente, todo mundo estava aplaudindo."

Nos 21 anos seguintes, até sua morte, aos 44 anos, Billie Holiday causou comoção todas as vezes que entoou "Strange Fruit", música que descrevia o horror dos linchamentos de negros nos Estados do sul do país.

A trajetória dessa triste canção inspirou Margolick a escrever "Strange Fruit - Billie Holiday e a Biografia de uma Canção" (2000), que chega agora ao Brasil."




(Para ler o restante da matéria de Adriana Ferreira Silva na Folha, clique AQUI. A imagem é do linchamento de C.J.Miller em 1893. Encontrei  no Abagond. Outras informações sobre sua morte injusta, AQUI e AQUI.)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Escadas



nº17: Prova



Responda as questões abaixo baseado no conto lido anteriormente:

1)Quem é a menina que se dirige ao metrô? Para onde ela vai?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


2)Por que ela usa uniforme escolar se é sábado?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


3)Quem é o personagem que irá descer na mesma estação da menina? Para onde ele vai?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


4)Por que ele carrega um capacete cor-de-rosa na mão?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


5)O que ela pensa enquanto desce a escada rolante? Por que ela não está teclando seu celular?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


6)O que faz João parar enquanto sobe a escadaria?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


7)Complete a frase abaixo, de acordo com sua interpretação.

Quando os olhares dos dois jovens se cruzam, eles________________________________.


8)O que João disse para Maria sobre extintores de incêndio? Por quê?
R:_________________________________________________
___________________________________________________


9)Maria respondeu furiosa “A melhor história é sempre aquela que ainda está na sua cabeça, aquela que ainda não foi para o papel.” Relacione esta resposta com os eventos ocorridos na rave durante a madrugada.
R:_________________________________________________
___________________________________________________


10)Você aprovaria a ação da polícia, alvejando João dentro do vagão antes que pudesse reagir? Justifique.
R:_________________________________________________
___________________________________________________





(imagem pelo Flickr)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

o grito do sol sobre a cabeça




Convite:






Dia 20 de outubro, das 17h30 às 21h30, com som ao vivo de Cláudia Vaz e Celso Ribeiro, acontece o coquetel de lançamento de meu livro O grito do sol sobre a cabeça.
 
Inclui o conto vencedor do prêmio Hydra de 2012: (História com desenho e diálogo). O Concurso Hydra de Literatura Fantástica Brasileira, uma parceria entre a revista eletrônica norte-americana Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show e o website brasileiro A Bandeira do Elephante e da Arara, visa expor o melhor da literatura fantástica brasileira para leitores em língua inglesa do mundo inteiro. 

O conto recebeu tradução para o inglês e foi publicado na revista eletrônica Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show.

Além deste, o livro reúne boa parte de minha produção de contos.

 Apareçam!

Abaixo, o texto da orelha escrito por Caio Silveira Ramos (autor de “Sambexplícito – As vidas desvairadas de Germano Mathias”):



"
Prepare-se para morrer.

Brontops Baruq aponta para nossos olhos seu livro solo O grito do sol sobre a cabeça e não nos deixa nenhuma esperança. Seus contos ultrapassam a fronteira do imaginário e nos violentam com o real presente-passado- -futuropresente-futuropassado- -futurofuturo, desorganizando nossos labirintos e liberando dezenove minotauros famintos.

Talvez por isso, o crítico Marco Avinhão Minerdi tenha escrito: “(…) exceto pelo Baruq que evoca Spinoza – e os não deuses do autor são alimentados pela mão desse filósofo – tudo mais não existe: ‘Brontops’ não é um dinossauro, e equivoca-se quem o classifica como autor de ficção científica: se em seus textos há ‘ficção fantástica’, ele (ou alguém) se utiliza do rótulo ‘científica’ talvez para atrair incautos fãs de Star Wars. No fundo, Brontops vale-se do universo fantástico para expor sua desilusão sobre política, religião, moralidades e a (des)necessidade de deus. Há quem se fascine por suas (pré)visões de futuro ou de seus cenários apocalípticos, mas tudo é simulacro para provocar, questionar desde padrões de sexualidade até o desejo de perder-se de si e dos outros. ‘Brontops Baruq’ talvez nem seja homem, mulher, hermafrodita, ruminante ou mutante do transfuturo: deve ser uma invenção, algo que não existe de fato ou só vive no delírio de alguém. Eu o odeio: ele me sentenciou à morte”.

Desvarios à parte, o escritor utiliza todo seu arsenal de forma e de conteúdo recolhido durante anos de mergulho insano nas mais diversas literaturas, inclusive na dos quadrinhos. Os enredos perturbadores nascem não só dos livros lidos e imaginados: eles brotam de uma curiosidade compulsiva, que revira TV, cinema, arte, zoologia, internet e bizarrices.

Brontops, de fato, vai além dos rótulos ou gêneros, ficção científica ou fantástica e, se por acaso se utiliza deles, é para amadurecê-los. Ou corrompê-los. Por isso, o sol grita sobre a cabeça que a literatura está nua. Mas o próprio sol e a cabeça também estão. Assim como Noé igualmente está, mesmo sem ter se embriagado desta vez. E Spock corre nu segurando as orelhas. Não há mais tempo: como o hipopótamo de Brás Cubas, Brontops atravessa os tempos e invade a minha sacada. Não, não é um pesadelo, nem existem emplastos salvadores. Ameaçador, ele me condena ao futuro infinito: prepare-se para viver.
 "

sábado, 13 de outubro de 2012

Telegrama

Inversão 






Embora eu sempre tenha odiado jardins zoológicos e na verdade achado suspeitas as pessoas que os visitam, não escapei de ir certa vez ao zoológico de Schönbrunn e, a pedido de meu acompanhante, um professor de teologia, deter-me diante da jaula dos macacos para observar aqueles aos quais ele, meu acompanhante, alimentava com a comida que, para esse fim, tinha levado no bolso. O tempo passou e o professor de teologia que me pedira que fosse com ele a Schönbrunn, um ex-colega de faculdade, já havia dado aos macacos toda a comida que trouxera consigo, quando, de repente, os próprios macacos, por sua vez, puseram-se a coletar a comida que se espalhara pelo chão e, através das grades da jaula, ofereceram-na a nós. O professor de teologia e eu ficamos tão chocados com o súbito comportamento dos macacos que, no mesmo instante, demos meia-volta e partimos de Schönbrunn pela primeira saída que encontramos.



Thomas Bernhard . Extraído de "O Imitador de Vozes"

Imagem Jeremy Enecio.







quinta-feira, 11 de outubro de 2012

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Achados







a)Cirqueee:

Equilibristas, contorcionistas, acrobatas, trapezistas, malabaristas, pole dancing... tudo isto no tumbrl do Cirqueee.


b)A Margarida e o Mestre

Série de TV assistida por mais de 40 milhões de espectadores russos em 2005, baseada na obra de Mikhail Bulgarov.
Legendas em português

Via (agora estou confuso) o antigo Coisas do Arco da Velha.+ o ótimo tumbrl QUACK.

c)Super-heroínas

No SUPERDAMES!

Com imagens como esta:


ou


(Ops)





d)Literary Dogs

Cães + algum importante.


(Desculpem a preguiça)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Telegramas

BAD TRIP





a)Uma mega tristeza

(Christian Carvalho Cruz emulando uma teen. Publicado no Estadão em janeiro deste ano, com a história de uma garota brasileira que estava naquele naufrágio cretino do Costa Concordia. Lembram? Ou já é notícia velha?)

Trecho

"
Bom, tinha também a primeira vez de fazer um cruzeiro num daqueles naviozões enormes, com piscina, lojas, cinema, teatro, balada... E, o mais importante, o motivo da minha volta, da minha alegria e ansiedade (minha mãe até me deu floral antes do embarque em São Paulo, hehe), a primeira vez que eu via a Juliana desde o dia em que nos despedimos, ela chorando horrores, na minha partida um ano e pouco atrás. Super hiper melhor amiga, a Juliana. Nos conhecemos no colégio em Barcelona, ela recém-chegada da Colômbia, meio perdida e isolada. Como eu no começo.

Gente, vocês não têm noção do inferno que pode se transformar a adaptação de um adolescente estrangeiro num país que não é o dele. Com o tempo melhora, mas até lá, afff!

A Juliana ia fazer 15 anos em 12 de janeiro e ganhou de presente dos pais uma viagem no Costa Concordia. Uma semana pelo Mediterrâneo com a família toda e direito a levar uma amiga - no caso, eu \o/. Do dia 9 ao 16. Só que tinha uma maldita sexta-feira 13 no meio. Cheguei a Barcelona no dia 2, e como tínhamos muuito tempo livre antes de subir no navio, aproveitamos basicamente para:

1) Fazer corujão (passar a noite conversando e só dormir quando o sol nasce).

2) Ir ao kart perto da minha ex-casa, que era o nosso programa preferido. Dessa vez, achei engraçado poder usar os carrinhos grandes, de adulto. Antes a gente só andava nos de criança. Caraca, cresci!

3) Comprar o meu primeiro salto alto da vida, porque no navio rola noite de gala. Tive que praticar pra não cair, UHUAHUAHUA... Eu tinha um vestido longo na mala, vermelho, e a mãe da Juliana me deu outro, dourado, pro jantar de aniversário a bordo.

4) O melhor de tudo: ficar vendo na internet uns vídeos do Costa Concordia. Muuuito tops! A gente riu bastante dos elevadores panorâmicos que subiam e desciam por trilhos iluminados por lâmpadas verdes. E foi aí que a Juliana inventou a expressão que depois a gente repetia toda hora que via uma coisa legal na viagem: "guuaauuuu!"

Assim que embarcamos eu e a Juliana corremos pros elevadores. Apertamos todos os botões e em cada andar entrava alguém falando um idioma diferente. Só muito tempo e risadas depois é que fomos pra nossa cabine. Ela ficava no lado direito do navio, bem o que tombou. Número 2.405, piso Suécia, que era o nome do segundo andar do Costa Concordia. Ficamos numa Suécia esquisitamente localizada em cima da Holanda e embaixo da Bélgica - meio diferente das aulas de geografia, hehe. Ainda mais pra cima, tudo empilhado, ficavam Grécia, Itália, Grã-Bretanha, Irlanda, Portugal, França, Alemanha e Espanha no topo \o/\o/. Na nossa cabine não rolava varanda, mas ela tinha um janelão onde cabíamos nós duas sentadas. Passamos os melhores momentos da viagem ali, vendo o mar, rindo e combinando como faríamos pra nos ver de novo quando as férias acabassem e eu voltasse pro Brasil.

A tal noite de gala, que acontecia em dias alternados, não era nada demais, tirando o fato de a gente ter que se produzir toda. E só pra jantar, hehe. Eu e a Juliana saíamos da cabine meio envergonhadas. Cabelo, unha, longo, salto alto... E ainda tinha um moooonte de gente circulando de sunga e maiô, UHUAHUAHUA. Depois da refeição, os adultos dançavam um pouco no restaurante e no final todos cantavam Volare, ô-ô, Cantare, ô-ô-ô rodopiando os guardanapos de pano no ar. Divertido até ;-). Numa dessas noites, antes do jantar, fomos pro teatro. O comandante do navio ia se apresentar aos passageiros. O teatro ficou lotado, e olha que era beeeem grande, três andares. O capitão apareceu no palco, junto com a equipe dele. Falou primeiro em italiano, depois em inglês e espanhol. Se apresentou, apresentou os colegas e desejou boa viagem. Só isso. Foi mega aplaudido, parecia Domingão do Faustão. Umas pessoas gritavam, assoviavam, U-HU!, tipo, "esse cara é bom!" Na hora eu não prestei atenção no nome dele, mas depois de tudo não esqueço mais: Schettino. Schettino cretino. :-(

Fizemos muitos amigos a bordo, e passávamos o dia inteiro circulando. Teen Zone, piscina, lojinhas, o deck. O navio é mesmo uma cidade. Mas tínhamos que estar no restaurante Milano às 9 horas para jantarmos juntos. Era uma ordem dos pais da Juliana. E, pensando agora, vejo como foi importante essa ordem, porque quando tudo aconteceu não tinha ninguém do nosso grupo de 15 pessoas em outra parte do navio. Estávamos todos no restaurante Milano, na mesma mesa, assim que o Costa Concordia bateu na pedra. E se vocês vissem a cara dos pais procurando os filhos que não estavam perto deles... Ai, foi muuuuito apavorante. A pior parte."





b)


No mundo do ócio, compras e viagens se tornaram fins em si porque são atividades de puro potencial – cheias de possibilidades e promessas. (...)

As viagens também se baseiam em expectativas. O novo destino será exótico, diferente, inesperado, e dali nascerá um novo ser transfigurado. Mas o novo lugar, embora provavelmente mais empolgante, não passa de outro lugar, com céu, edifícios, pessoas e árvores – e o self ansioso e triste insistiu em vir junto. Em “A Arte de Viajar”, Alain de Botton conta uma temporada de férias que passou no Caribe com uma namorada. Antes de partir, eles sonhavam com a harmonia que praias, mar azul, palmeiras e magnífico pôr do sol com certeza inspirariam, mas, assim que chegaram, começaram a discutir sobre o tamanho e a aparência das sobremesas servidas no restaurante. Ambos pediram a mesma sobremesa, mas a porção dele tinha uma apresentação melhor, enquanto a dele era maior. Ela trocou os pratos e se justificou alegando que fazia aquilo para agradar a ele, quando na verdade agradava a si mesma. Eles discutiram e voltaram ao hotel de mau humor, indiferentes ao glorioso cenário que deveria inspirá-los. Todos já tivemos experiências como essa – e convenientemente as esquecemos. Porque as próximas férias já estão planejadas e com certeza trarão a verdadeira felicidade.

Tal é a compatilibilidade entre comprar e viajar que as duas coisas andam cada vez mais juntas. Pode-se comprar no aeroporto, no avião, na estação de trem, no saguão do hotel e até mesmo no quarto do hotel via internet – mas naturalmente, tudo isso é só uma preparação para o principal: experiências de compras inteiramente novas no novo destino.

A combinação perfeita entre viajar e comprar, porém, é o cruzeiro de luxo. Na verdade, como o cruzeiro também envolve diversão e outros mimos, o navio é o símbolo perfeito da era contemporânea: um enorme palácio móvel do prazer, que transporta crianças crescidas, vestidas em roupas informais de cor pastel, circulando em uma série de lojas.

O relato hilariante e terrível de David Foster Wallace sobre um cruzeiro pelo Caribe, “A supposedly fun thing I´ll never do again”, é de um escrupuloso realismo documental, mas também uma fábula de nosso tempo – porque o cruzeiro apresenta, embora de maneira exagerada, todas as novas tendências culturais. Ali está a universal sensação de direito a privilégios – todo mundo acredita que merece aquelas férias mais do que ninguém. Ali está a infantil necessidade de ser mimado – o navio de cruzeiros oferece serviços dia e noite, prestados por um exército de diligentes funcionários. Ali está a incansável, quase fanática, alegria da equipe de serviço. Ali está a recusa a pensar dos passageiros infantilizados. Wallace observa:

“Ouvi cidadãos americanos de classe alta perguntarem ao funcionário na mesa de informações se para mergulhar com snorkel era preciso se molhar; se o tiro ao alvo móvel seria praticado ao ar livre; se a tripulação dormia a bordo; e a que horas seria servido o bufê da meia noite.”

Ali estão as infinitas oportunidades de compras a bordo e nos portos, e as infindáveis oportunidades de distração e entretenimento: piscinas, academias, instações para a prática de vários esportes (inclusive um local para treinamento de golfe), cassinos, piano bars, discotecas, cinemas e um salão de shows, onde se apresentam um imitador, um ilusionista, um casal que canta um pot-pourri de músicas da Broadway e um hipnotizador que alega ter colocado em transe a rainha Elizabeth II e o Dalai-Lama.


(A Era da Loucura, por Michael Foley, editora Alaúde. Outros trechos AQUI, no Grifando.)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Achados



a)Domínio Público

Site "Public Domain"


b)A Cidade-Muro de Kowloon

(A cidade-muro-favela de Kowloon é citada no livro ldoru de Willian Gibson. Encontrei sua história AQUI)

"
Kowloon Walled City was a densely populated, largely ungoverned settlement in Kowloon, Hong Kong. Originally a Chinese military fort, the Walled City became an enclave after the New Territories were leased to Britain in 1898.
Its population increased dramatically following the Japanese occupation of Hong Kong during World War II. From the 1950s to the 1970s, it was controlled by Triads and had high rates of prostitution, gambling, and drug use. In 1987, the Walled City contained 33,000 residents within its 6.5-acre (0.03 km2; 0.01 sq mi) borders.
In January 1987, the Hong Kong government announced plans to demolish the Walled City. After an arduous eviction process, demolition began in March 1993 and was completed in April 1994. Kowloon Walled City Park opened in December 1995 and occupies the area of the former Walled City. Some historical artifacts from the Walled City, including its yamen building and remnants of its South Gate, have been preserved there.
"
Portanto, Kowloon não existe mais, mas encontrei uma "planta" AQUI, no Zoohaus. Algumas fotos aqui numa lista de 7 monumentos modernos arquitetônicos abandonados da Ásia, mas há várias pelo google.

c)Colecção Argonauta

"Este espaço é uma homenagem à Colecção Argonauta, um memorial que esperamos possa contribuir para esclarecer possíveis dúvidas relativas aos números publicados, bem como constituir um espaço de partilha, onde comentários relativos às obras possam ajudar a enriquecer o vasto universo de memórias aqui reunido."

d)Mistério Antigo

Sabe aqueles anúncios cheio de bugigangas e brinquedos supostamente maravilhosos que ficavam nas últimas capas das revistas importadas norte-americanas?

Então, um sujeito fez um livro revelando o que REALMENTE eram aqueles trecos. A maioria era pura enganação, mas o hovercraft realmente funcionava!!!



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Onirogrito

Vampiros x Zumbis





Vampiros e Zumbis são parentes. Ambos são mortos-vivos, são diferentes de fantasmas e demônios, uma vez que sua existência física não se discute.

Os vampiros são aristocráticos e elitistas. Os zumbis são a classe C. Os vampiros são criaturas especiais. O zumbi é gente como a gente. O vampiro vive em um castelo de onde sai para aterrorizar os indefesos. Os zumbis cercam shopping centers e casas isoladas, a última defesa possível contra suas hordas. Todos sabem os pontos fracos dos vampiros: alho, cruz, estacas, o sol. Zumbis são frágeis, morrem facilmente, sua força é o seu número. Mas não temem nada. São democráticos.

Os vampiros sobrevivem da exploração e do sangue de suas vítimas: são vistos como os senhores secretos do mundo. São elegantes, refinados, inteligentes, insidiosos, sedutores, provocadores. Os zumbis existem. Eles são o caos. Parecem bêbados, agem estupidamente. Vampiros e Zumbis são criaturas do desejo. Mas enquanto você deseja ser um vampiro, os Zumbis desejam você. O ataque do Vampiro o torna rico e eternamente jovem. A mordida do Zumbi o torna um idiota e um eterno mendigo.

O Vampiro da forma segundo a qual entendemos é relativamente recente, sua base se estruturando ao redor de Polidori, Le Fanu e Stoker[1] durante o século XIX. Nesta época, talvez, pudessem ser vistos como uma resposta do anseio burguês por um reconhecimento “nobre”. Depois dali se disseminou pela literatura, filmes, quadrinhos, discos, atravessando a maior parte do século XX. Eu estaria forçando muito se visse nos Vampiros e na sua relação com a humanidade uma metáfora política para exploração econômica e alienação? Não me ocorre nenhum caso, mas devem haver histórias nas quais Vampiros foram abordados sob o ponto de vista declaradamente político.

Já os Zumbis parecem ser moldados para este tipo de abordagem. Os Zumbis são criaturas ainda mais recentes no folclore do medo. Nos termos que nos interessam[2], os Zumbis se originaram no vudu haitiano. O Zumbi, inicialmente, seria um pobre coitado amaldiçoado que, após ser envenenado e “morrer”, tornava-se um escravo incapaz de desobedecer às ordens de um feiticeiro[3]. Mas este Zumbi inicial (que talvez remetesse à opressão da escravatura) foi ofuscado pelos criados por George Romero em “Night of the Living Dead”[4] e que, praticamente, redefiniu o mito a partir de então. Os Zumbis não são personagens, personagens são os outros que procuram escapar de seu ataque, e a história é montada basicamente na tensa relação entre os sadios contra os doentes.

Enquanto a tragédia do Vampiro é ser obrigado a ser “mau” e matar[5], o trágico no Zumbi é o fim da individualidade. Os zumbis são o olhar da sociedade “pressionando” a liberdade, nos restringindo, nos aprisionando. Adequado a nossos tempos neo-provincianos, onde o olhar do vizinho está na rede, querendo nossos miolos, querendo nos formatar sob um mesmo comportamento. Talvez seja revelador pensar que o sonho do último Vampiro de grande sucesso é ser igualzinho a todos os mortais.

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[1] Histórias dos Vampiros – Autópsia de um Mito, Editora Unesp
[2] Há um livro francês de 1697 Le Zombi du grand Pérou, ou La comtesse de Cocagne e existem lendas de mortos-vivos similares aos zumbis na África Central 
[3] Posteriormente encontrou-se certa base “científica” para esta lenda, no caso de homem chamado Clairvius Narcisse. Veja AQUI
[4] Conforme o próprio Romero admitiu, sua principal influência foi “Eu sou a Lenda” de Richard Matheson.
[5] Uma tragédia um tanto relativa já que o cardápio da maior parte da humanidade contem animais mortos.





(publicado originalmente AQUI, no blog da Terracota. Imagem é a primeira das tiras de "Z" de Raphael Salimena, disponível no Quadrinhos IG)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Telegrama






a)Morte de Animais
(transcrição copia-e-cola de postagem do blog de "Um túnel no fim da luz" de Kelvin Falcão Klein, numa citação de citação de citação de citação)
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Escrever sobre a morte de animais tem sido um exercício sistemático da literatura argentina: desde o célebre tigre morto por Facundo, de Sarmiento, e Yzur, de Lugones, até as caçadas sexuais e alimentares dos tadeys em O. Lamborghini [a tradução está "...de tadeys em O. Lamborghini", o que fica completamente sem sentido, já que os tadeys são os "selvagens", como em o território dos tadeys, etc] e as lebres de O desperdício (2007), de Matilde Sanchez, a literatura argentina tem feito dos animais mortos uma matéria recorrente sobre a qual se questionam sentidos [aqui, a tradução coloca um "por sua vez"] estéticos, históricos e políticos. Isso não tem nada a ver com uma especificidade nacional - como se a frequência de animais mortos nas ficções da cultura fosse o índice de uma violência argentina -, mas sim os traços de uma história e de uma política dos corpos, nos quais se exibem certas inflexões e particularidades locais. Nessa história e nessa política, por razões materiais evidentes, os matadouros sempre estiveram presentes: desde o texto clássico de Esteban Echeverría (mas também desde antes, nas cenas de sacrifício de animais no The voyage of the Beagle [que na tradução torna-se Voyage to the Beagle], de Darwin, ou no Lazarillo de ciegos caminantes, por exemplo [autor: Alonso Carrió de la Vandera; não sei porque a tradução manteve Darwin, arqui-conhecido, e não acrescentou o outro autor, mais obscuro]) até a cena da captura do touro fugitivo em Bajo este sol tremendo, novela [romance?] de Carlos Busqued, de 2009 (a qual reproduz a cena do touro do matadouro de Echeverría), passando por uma novela [romance?] de 1927, de título bastante óbvio, Los charcos rojos, de Gonzalez Arrilli, e por La hora de los hornos, o célebre filme de Fernando Solanas, em que uma montagem de imagens de matadouros e imagens publicitárias quer ilustrar a natureza da mercadoria. Os matadouros têm sido uma parte decisiva da paisagem das ficções e escrituras locais: um universo em que se costuram formas, sentidos, visibilidades e relações entre corpos.

 * Gabriel Giorgi. "A vida imprópria. Histórias de matadouros". Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica. Organização de Maria Esther Maciel. Editora da UFSC, 2011, p. 199-220 [a citação está na página 202, e vai aqui com algumas intervenções sobre a tradução - de resto, vale notar essa potência da enumeração, essa potência da série: uma imagem atravessa uma tradição literária e lhe dá um sentido provisório, armado para uma investigação específica, para uma inquietação particular daquele que vasculha o arquivo; neste caso, a imagem do matadouro, que é, na realidade, um feixe de imagens: o animal acuado, o animal agonizante, o animal morto, o gesto do assassino, a ferramenta do ato, a instalação do matadouro, seus galpões e acessos, seus sistemas sobrecarregados de escoamento, etc].
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b)Consciência dos animais
Trecho de "Lato, logo existo", artigo de Sergio Augusto no Estadão (22/07/2012) sobre as evidências da consciência animal.

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Em 55 a.C., o romano Pompeu patrocinou um grande espetáculo com homens e elefantes durante o qual os paquidermes, inferiorizados e encurralados na arena, tentaram e conseguiram despertar a compaixão da assistência por meio de gritos e gestos pungentes. Com pena dos elefantes, a multidão execrou Pompeu, reviravolta presenciada e comentada por Cícero. É um dos registros mais remotos de que os quadrúpedes, a seu modo, também cogitam e sabem atrair a solidariedade dos bípedes.

Elefantes são animais intensamente sociais, emotivos e solidários. Presenciei uma comovente demonstração de solidariedade e socorro a um elefante aparentemente doente por meia dúzia de outros, durante um safári fotográfico pelo Parque Nacional de Serengeti, na Tanzânia. Foi uma revelação, mesmo para quem, como eu, conhecia alguns dados posteriormente reunidos em Quando os Elefantes Choram (de Jeffrey Moussaieff Masson e Susan McCarthy), e havia lido as "conversas" de Konrad Lorenz com as bestas, as aves e os peixes, os ensaios de Diane Ackerman sobre as baleias, os crocodilos e outros bichos, e acompanhado pela imprensa as pesquisas de Jane Goodall com os chimpanzés, as de Dian Fossey com os gorilas e as de Sally Coxe com os socialmente exemplares macacos bonobos do Congo.

No reino da bicharada, os antropocêntricos fundamentalistas perdem todas. Até ratos de laboratório são dados a gestos de solidariedade e sacrifício, revelou faz pouco tempo uma experiência na Suíça. Muita gente ainda ignora que os porcos são muito inteligentes e sensíveis, além de limpíssimos por natureza (o primeiro editor da revista Granta, Bill Buford, cria em casa um suíno como se fosse um cachorro), e que as baleias, orcas, cachalotes e golfinhos têm o triplo das células fusiformes dos cérebros humanos. Essas células são fundamentais para o desenvolvimento da empatia.

Em 2006 descobriram no zoológico do Bronx um elefante que se reconhecia no espelho. E depois outro, e mais outro. Bichos que passam no teste do espelho, como os citados elefantes, certos primatas, golfinhos e uma espécie de pássaro chamada pica-pica, são supostamente mais próximos dos humanos e mais necessitados de nossa proteção. Foi dessa premissa que a biopsicóloga Diana Reiss, do Hunter College, partiu para sua pesquisa sobre a capacidade perceptiva e interativa de determinados mamíferos.

Reiss é uma das signatárias do Manifesto de Cambridge. Como os demais signatários, ela espera que, diante das evidências de que os animais "pensam, logo sofrem" (cogito, ergo patior?), a sociedade dos humanos passe a tratá-los com mais respeito, dignidade e carinho.
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c) Elefantes em Roma.
(O Sergio Augusto mencionou e fui googlear. Encontrei a referência em inglês sobre a piedade dos romanos pelos elefantes AQUI no interessante Encyclopedia Romana, no qual descobri que Plínio (seria aquele que morreu em Pompeia? Preciso ver.) e Sêneca também mencionaram o evento.)
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Whereas the Greeks and Carthaginians used elephants mainly in war, the Romans used them primarily for spectacle, the first time in 275 BC, when those that had been captured from Pyrrhus were displayed in triumph. In 55 BC, when Pompey dedicated his theater, the events in the Circus included venationes. Plutarch says that five hundred lions were killed, but there was "above all, an elephant fight, a most terrifying spectacle" (Life of Pompey, LII.4). Cicero, who was present, wrote to a friend that there were two animal hunts a day, which lasted for five days. "The last day was that of the elephants, and on that day the mob and crowd were greatly impressed, but manifested no pleasure. Indeed the result was a certain compassion and a kind of feeling that that huge beast has a fellowship with the human race" (ad Familiares, VII.1).
In his Natural History, Pliny records the same poignant event (VIII.7.20). Twenty or so elephants were cruelly killed and, "when they had lost all hope of escape tried to gain the compassion of the crowd by indescribable gestures of entreaty, deploring their fate with a sort of wailing, so much to the distress of the public that they forgot the general and his munificence carefully devised for their honour, and bursting into tears rose in a body and invoked curses on the head of Pompey."
Seneca, too, refers to the slaughter in De Brevitate Vitae (XIII),
"...does it serve any useful purpose to know that Pompey was the first to exhibit the slaughter of eighteen elephants in the Circus, pitting criminals against them in a mimic battle? He, a leader of the state and one who, according to report, was conspicuous among the leaders of old for the kindness of his heart, thought it a notable kind of spectacle to kill human beings after a new fashion. Do they fight to the death? That is not enough! Are they torn to pieces? That is not enough! Let them be crushed by animals of monstrous bulk! Better would it be that these things pass into oblivion lest hereafter some all-powerful man should learn them and be jealous of an act that was nowise human. O, what blindness does great prosperity cast upon our minds! When he was casting so many troops of wretched human beings to wild beasts born under a different sky, when he was proclaiming war between creatures so ill matched, when he was shedding so much blood before the eyes of the Roman people, who itself was soon to be forced to shed more. He then believed that he was beyond the power of Nature. But later this same man, betrayed by Alexandrine treachery, offered himself to the dagger of the vilest slave, and then at last discovered what an empty boast his surname was."
The elephants, writes Cassius Dio, "were pitied by the people when, after being wounded and ceasing to fight, they walked about with their trunks raised toward heaven, lamenting so bitterly as to give rise to the report that they did so not by mere chance, but were crying out against the oaths in which they had trusted when they crossed over from Africa, and were calling upon Heaven to avenge them" (XXXIX.38).
And so they were: Seven years later, Pompey was stabbed to death in Egypt.
"

d)Manifesto de Cambridge

A coluna de Sergio Augusto dizia respeito a um grupo de 13 neurocientistas que se reuniu em Cambridge para discutir diversos estudos sobre a consciência. O resultado, além de afirmações como "As evidências apontam que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência", foi um Manifesto "confirmando" (será que precisava de confirmação?) que diversos animais podem sentir afeto ou sofrer. O Manifesto, em inglês, está AQUI e pode ser lido durante seu almoço na churrascaria.



(imagem? via If Charlie Parker...)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Achados



a)
(Arte de Robert e Shana ParkeHarrison)



dreamfall

earthcoat

kingdom


Via Precious Light Tumbrl



b)
 (Dino Valls )





Via Precious Light Tumbrl 

c)Genética e mercado aumentam risco de incesto involuntário

(Notícia de 2011)

"Recorrer excessivamente ao esperma de alguns doadores aumenta o risco de transmissão de doenças genéticas e incestos involuntários entre meio irmãos e irmãs com o mesmo pai, alertaram especialistas.

O tema, em discussão há vários anos, inspirou recentemente o filme canadense "Starbuck", de Ken Scott, que conta as aventuras de um doador de sêmen que vai ao encontro de seus 533 filhos.

A história, sobre a busca do pai biológico, é semelhante a de Barry Stevens, diretor de documentários.

Stevens, cineasta de Toronto e nascido na Grã-Bretanha há 59 anos, graças ao sêmen de um doador, descobriu ter dezenas de meio irmãos e irmãs no Canadá, nos Estados Unidos e na Europa. Estima-se que esta fraternidade tenha entre 500 e 1.000 integrantes em todo o mundo."

(Encontrei inteira AQUI)


d)Voando com os abutres na África do Sul.

Um belo vídeo AQUI. Para descobrir algo sobre o Parahawking (voo de paraglider + falcoaria) no Coilhouse AQUI. Me pareceu bonito, mas tem sabor de "tourist trap".

e) Crise na Europa

Em Portugal, cortes nos feriados e nos gastos das famílias. Na Espanha, estão desligando os semáforos para economizar.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

a biblioteca de Alexandria









Um homem no Cairo pede um café e abre um livro. Antes de começar a ler, distrai-se com a paisagem restrita e entulhada de gente e mercadorias em exposição na rua. Acende um cigarro e se detem sobre um par de velhos entretido numa partida de gamão. Em outra mesa, um senhor elegante tosse perdigotos enquanto transfere resultados do futebol do jornal para uma caderneta. Uma mulher apressada passa arrastando sua filha que tenta seguí-la. Um garoto surge e oferece engraxar sapatos e vender haxixe. Em uma das janelas acima, escuta-se um choro miado de criança. Numa outra mesa, um senhor ri sozinho diante do Ipad. Um vendedor de bexigas e cataventos oferece um inflável com a forma do Bob Esponja. Saiu o novo filme do Homem Aranha, assista dublado no Gizé Center Shopping, veio por uma mensagem no celular. Um velho dormita enquanto espera clientes. Um rádio ligado dispara nova música da M.I.A. Sob o solo, escavam o túnel do metrô destruindo artefatos milenares. Dois jovens turistas debatem a real influência da Internet na Primavera Árabe. Um deles discute de forma enfática e, concomitante, escuta música mp3 no fone. Na televisão é o horário das notícias: um apresentador conhecido por ligações próximas com senhores pouco honestos expressa revolta e indignação: houve um desvio brutal de verbas destinadas originalmente para a construção da nova biblioteca de Alexandria. O garçom usa o controle remoto e muda para um canal de esportes no qual se transmite uma antiga corrida de Fórmula 1. O café chega, aguado como chá. O homem que lhe serve tem uma tatuagem de chefe apache. O cliente toma um gole, acha horrível, deixa algumas piastras e se retira: a xícara praticamente cheia, no qual logo se afogará uma mosca. O livro ficou aberto na mesa e não há nem uma brisa capaz de folheá-lo.







(Fotografia (a mais conhecida, talvez?) de Peter Beard. Aqui, um blog para o turista explorador colonial.)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Telegrama



Assalto? Como evitá-los







01. Não sair de casa.


02. Não ficar em casa.


03. Se sair, não sair acompanhado. Nem sozinho.


04. Se sair sozinho ou acompanhado, não sair a pé. Nem de carro.


05. Se sair a pé, não andar devagar. Nem depressa. Nem parar.


06. Se sair de carro, não parar nas esquinas. Nem no meio da rua. Nem nas calçadas. Nem nos postos de gasolina. Nem nos sinais. Melhor é deixar o carro e pegar uma condução.


07. Se pegar uma condução, não pegar ônibus. Nem táxi. Nem trem. Nem carona.


08. Se decidir ficar em casa. não ficar sozinho. Nem acompanhado.


09. Se ficar sozinho ou acompanhado, não deixar a porta aberta. Nem fechada.


10. Como não adianta mudar de cidade, nem de país, o único jeito é ficar no ar. Mas não num avião.








 (de Leon Eliachar)








(Texto de "O Homem ao Meio", livro de 1979. Leon Eliachar foi assassinado em 1987, aos 66 anos de idade, a mando de um rico fazendeiro paranaense com cuja esposa o autor vinha mantendo um romance. Trecho de sua biografia no Releituras: "Há pouquíssimo material sobre o biografado. A maior parte são artigos escritos por ele e por amigos, todos muito bem humorados, cheios de nonsense, o que bem demonstra o espírito do biografado." Outros textos de Leon AQUI e ALI.

Foto da Velhinha armada: ¿? 18 freiras armadas. Foto das armas de brinquedo: não sei.)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Achados


a)Jim Rugg

Galeria de Jim Rugg no Flickr. O desenho acima foi inspirado pelo filme "Driver"

 (Via SuperPunch)


b)Lula Vampiro

Não deve ser o que você está pensando: AQUI


 
c)Digital Comics Museum

Site para download de HQs raras em domínio público.
http://digitalcomicmuseum.com/.
Dentre outras coisas, Walter Kelly (Pogo) fazendo as Fairy Tales.

(Valeu Delfin)


d)Sonoluminescência

A sonoluminescência foi descoberta antes da Segunda Guerra Mundial, enquanto estudavam a corrosão das hélices de submarinos provocadas por bolhas de ar. Cito de memória o interessantíssimo livro "A Colher que desaparece" de Sam Kean que faz um passeio sobre os elementos da Tabela Periódica e suas histórias. Você sabia que o alumínio, estes das latas, já foi um elemento raríssimo e caríssimo? Pois é.


Mas voltemos à sonoluminescência. Trata-se de um fenômeno muito estranho e completamente contraintuitivo. Ao aplicar vibrações sonoras ultrassônicas sobre bolhas de ar contidas na água, elas encolhem e se expandem provocando brilhos de luz, como "uma estrela numa jarra de água".


A seguir uma descrição passo a passo do fenômeno via revista Galileu:


"
1. o ultra-som agita a bolha de ar, fazendo-a crescer de um diâmetro de 5 mícrons (5 milésimos de milímetros) para outro de 50;
2. assim expandida, a bolha passa a ter uma densidade muito baixa, praticamente se confundindo com o vácuo;
3. a pressão externa, exercida pelo meio líquido, torna-se várias vezes maior do que a pressão interna, produzida pelas moléculas de ar;
4. esse desbalanceamento faz com que a bolha imploda numa fração de segundo, passando de 50 para algo entre 0,1 e 1 mícron de diâmetro;
5. o colapso aquece brutalmente as moléculas de ar, gerando as temperaturas da ordem de 10 mil a 1 milhão de graus Celsius;
6. esse superaquecimento faz com que os elétrons das camadas externas dos átomos e moléculas se desprendam;
7. em conseqüência, o gás existente no interior da bolha se transforma num plasma, formado por íons (positivos) e elétrons livres (negativos);
8. o plasma emite um lampejo luminoso;
9. como o fenômeno se repete 30 mil vezes por segundo, a emissão luminosa parece estável aos olhos do observador.
"

Há um vídeo do fenômeno AQUI. Os cientistas não tem ideia do que ocorre, mas há quem veja nisso uma promessa de energia.


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Onirogrito

Mata-borrão à tinta de pendrive





É curiosa a menção ao mata-borrão em textos antigos. Tanto Rubem Braga quanto Mário Prata (Rimou?) falaram e explicaram o objeto. Se você for daqueles que se recusam a clicar em hiperlinks, além de perder textos melhores que este, não saberá que o mata-borrão era uma espécie de carimbo para secar a tinta fresca no tempos pré-esferográficos. Mário Prata não encontrou analogia para o mata-borrão no computador e descartou o verificador ortográfico como substituto.

Perdoe a petulância de quem nunca usou tinteiro para escrever… discordo… Assinar a carta, carimbá-la com o mata-borrão, envelopá-la e enviar a missiva ao amante pelo portador supostamente confiável. Não importava o conteúdo: “O culpado é o mordomo”, “Vamos fugir, espero-te atrás da capela.”, “Fui deflorada pelo meu irmão”, era essencial que se concluísse a carta e que ela ficasse limpa, formalmente intelegível : o mata-borrão surgia como um gesto de conclusão. O corretor gramatical parece ser a última coisa a passar pelo texto. Muitas vezes, na verdade, ele analisa o texto “melhor” que a pessoa do outro lado que deixa a mensagem dormir na caixa de entrada.

Gostaria de ver mais recursos tecnológicos presentes na literatura: coisas como celulares, monitores, mouses, teclados, GPS e não-coisas como sites, blogues, emails, google, redes sociais. Pois o imaginário se alimenta da realidade. E, querendo ou não, estes brinquedos vieram para fingir preencher nossas vidas ocas e devem permanecer até darmos um basta. Então se quisermos que a literatura seja minimamente relevante, viva, precisaremos no mínimo resvalar neste mundo colorido e flutuante.

Ao mesmo tempo, escrever sugere permanência. Só sugere, porque na prática nada garante esta imortalidade, mitologia, historicidade, como quer que a chame. A partir do momento que se registra suas ideias no papel ou no monitor, presume-se que estas persistam de alguma forma. Mas sabemos que quanto maior a distância entre o emissor e o receptor maior a chance de que algo dê errado ou seja incompreendido.

Imagine que o Facebook pudesse ser psicografado: teríamos perfis de nossos bisavôs e bisavós. Será que seriam espertos e engraçadinhos como nós? Primeiro há que considerar que, dadas as estatísticas, deveriam ser paupérrimos e analfabetos, caboclos, caipiras, caiçaras, bugres, escravos ou carcamanos. Ignore a ausência física dos dedos, mas não sua brutalidade: como poderiam teclar algo? É por isto que, por sorte, deles sabemos histórias, mas não restaram cartas ou registros mais formais.

Mas vamos supor que seus bisavós eram letrados e registraram sua conta no Facebook ou Orkut, vamos lhes dar a possibilidade de estarem sintonizados com a Rede Social do momento. Será que haveria fotos de viagens, de farras, bagunças e cervejadas? Provavelmente você os acreditasse um tanto presunçosos, com retratos posados em roupa de gala, diplomas, medalhas, certificados, ordem do grau supremo da loja maçônica. Enquanto sua obrigação é ser feliz, a deles era ser honrado, digno, um cavalheiro respeitável.
(Não se anime, crendo que éramos melhores: tudo falso. As hipocrisias unem nossas gerações. Apenas o enfoque era diferente.)

Eu entendo a preocupação de quem não arrisca fotografar o mundo atual nas literatura: mouses, mp3, pendrive, kindle, tablet, URL, fotoblog, YouTube, quanto destas coisas estarão aí, na boca do povo (ou do monitor) daqui a dez anos? Quando se percebe que a Internet gera menos conteúdo do que comunicação, via redes sociais, fóruns, ou conversas pelo msn, skype ou equivalente, nota-se que estes brinquedos, estas pequenas maravilhas se apequenam e tornam-se borrões diante do maior mistério de todos: quem é a pessoa que está do outro lado, atrás de seu perfil, ou de sua cara? Quem é você e, afinal, por que não gosta de mim?





(Imagem: ?. Publicado originalmente AQUI)

sábado, 11 de agosto de 2012

Telegrama

Heróis 


a)





 b)















(O clip de Fabio Jr, não lembro de onde veio: memória afetuosa minha.
 O de Spiritualized, bom para caraglio, destruindo tudo que veio antes, veio do Esquema )

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Escadas


Nº15: Anáfora





Primeiro um pé. Depois outro pé. E mais um pé. Depois outro pé. E vai um pé. Depois outro pé. E vem um pé. Depois outro pé. E então o pé. Depois outro pé. E sobe o pé. Firmam-se os pés.

Surge a garota, indo em direção à plataforma. A escada é rolante, portanto ela só faz é descer descer descer descer descer.

No meio do percurso, eles se vêem. Coração fazia Tum e Tum e Tum e Tum e Tum e Tum e Tum, porém agora é tumtumtumtumtumtumtumtumumtumtumtumumtumtum.

Ele deveria voltar seu caminho e ir falar com ela. Mas pra quê? Pra levar um fora como naquela vez? E teve mais aquela vez. E houve uma outra com a Ana. E daquela vez, então? E todas as vezes que não lhe deram vez ou voz. Ele continuou subindo.

Veio o metrô, que em seguida foi embora túnel adentro. Mas logo veio novo trem. Parou e foi embora. Em seguida, chegou outra composição. Deixou as pessoas, levou as pessoas, apitou e tchau. Veio mais um trem, burururum, sai aquele povo, entra outro povo, toca o sinal, fecha as portas e bye.

Ela também vai. Num destes trens, numa destas vezes.













(
Relembrando (retomando?) um "projeto" à la Raymond Queneau. 
Aproveitando, Matt Madden fez algo mais fiel à ideia original, 99 ways to tell a Story - Exercises in style (em quadrinhos) que deve sair por aqui pela Cosac Naify 
)

(imagem via SuperBlackSampler)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Telegramas

Taking me home





You come here to my work
You come here every day
To make sure I'm still here
You look at me that way

Rings on my fingers
And bows in my hair
You think I'm your present
You'll unwrap me here

Is this a bad dream
Is this really my life
Well you wanna know
You'll show me tonight

I have this one face
And i only check out
It gets so far think it's time

Not for sale
Not your girl
Not your thing

I'm here on the counter
With no money down
For nine ninety nine
You're taking me home

A dozen red roses
A cute little house
A cheap little ring
The deal is cut, now

Something is messed up here
Something isn't right
We're supposed to be free
I'm supposed to be mine
This part of my body
That you're pricing now
I'm cutting it off
I'm throwing it out

Not for sale
Not your girl
Not your thing

Got me mixed up with somebody else
Got me mixed up with somebody else


(letra e música da banda sleater-kinney ; ilustração do japonês Namio Harukawa. Imagens > 18 aqui.)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Onirogrito

Outros espelhos distantes


















Uns meses atrás, alguns artigos reclamavam do cenário habitualmente sombrio da ficção científica. Dentro do caderno Link do Estadão, o colunista Alexandre Matias dava espaço às ideias do neurocientista palmeirense Miguel Nicoelis. Conforme Nicoelis afirma, a ficção científica prefere os futuros apocalípticos: “Hoje em dia você pega um filme de Hollywood ou um livro best-seller, é tudo assim: ‘Vamos destruir a raça humana… Vai acabar o mundo… Vamos criar um híbrido de não sei o quê… Os computadores vão nos deixar obsoletos…’

Escritores gringos de ficção científica também se comunam nesta percepção. O artigo de Alexandre Matias cita o norte-americano Neal Stepherson e o crítico e escritor Antonio Luiz M.C.Costa analisa Shine, uma antologia do holandês Jetse de Vries que se propunha a ficção científica em um contexto otimista. Costa ainda discorre sobre os motivos históricos que levaram a uma preponderância das distopias e cenários pessimistas na Ficção Científica, que, para mim, soou mais interessante que os contos de Shine.

O fato é que esta conversa toda inverte a questão.

A ficção não molda a realidade. A realidade é quem molda a ficção.

A ficção fornece “lentes” que permitem diferentes interpretações da realidade. Mas quem escolhe as interpretações são os indivíduos. Qualquer pessoa que viveu os últimos trinta anos de transformações abraçou – principalmente via consumismo – todas as grandes mudanças que a ciência e tecnologia disponibilizou à humanidade. O impacto destas mudanças acelerou a economia e a vida e trouxe muitos benefícios. E, também malefícios. É inegável o sentimento de descontrole, de se estar perdido em meio ao turbilhão.

E isto se espelha na ficção de, pelo menos, duas formas: ou na fantasia de indivíduos absurdamente poderosos… ou na distopia apocalíptica ou totalizadora na qual as pessoas são meros joguetes.
Não existe bem ou mal. Existem gestos, ações e reações. Para cada passo a frente, um mundo fica para trás, e tudo que é belo e horrível também desaparece. Hoje não conseguimos imaginar o que seria o mundo sem celulares, televisão , internet. E também não conseguimos imaginar o que é silêncio, que estar sozinho é diferente de estar solitário. “Acreditar” ne evolução do homem, “acreditar” nos benefícios da tecnologia, “acreditar” que o futuro sempre será melhor, é ignorar a realidade.


(Publicado originalmente aqui, na Terracota. Fonte da imagem: o tumbrl Metropolis of Tomorrow


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Achados




a)Penas

Dá para fazer mais coisas com penas, além de travesseiros e adereços de madrinhas de bateria.

Vejam as obras de Kate MccGwire. Via La Zèbre Bleu





b)Ars vita est

Ótimo tumblr com arte, poesia, fotografia e outras cositas más. Com mais
"conteúdo" que o habitual do tumbrl (imagens, fotografias e aforismos) e com séries de postagens, organizado de um modo que jamais consegui fazer por aqui.

De lá veio a imagem abaixo, (Jean-Léon Gérôme, Le Barde Noir, 1888) de uma série de postagens "Orientalistas" (referência a Said)






c)Pombos Fotógrafos

Em 1908, um farmacêutico alemão chamado Julius Neubronner usava pombos-correio para a entrega de medicamentos. Ele desenvolveu um equipamento para que fotografar o voo dos pombos (sob o ponto de vista deles, lógico, senão não haveria graça). A falta de interesse militar ou comercial após a Primeira Guerra, fez Julius abandonar seus experimentos, mas a ideia ressurgiu brevemente após a década de 30, por um relojoeiro suíço e pelas forças armadas da França, Alemanha e a CIA. Fonte AQUI.

Via Pratinho de Couratos e Coisas do Arco da Velha.

A história soa fidedigna; muitos sites repetem a história, inclusive há recortes antigos de jornal sobre o assunto. Por outro lado, algumas imagens dos pombos com câmeras penduradas "parecem" colagem. Além disso, o que é mais estranho, existem poucas imagens disponíveis da rede (google) destas fotografias... São sempre as mesmas.

Mas pode-se considerar a possibilidade da coisa não ter dado lá muito certo e só ficaram as imagens que "deram certo".

Sei lá. Estou com o pé atrás.