quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Telegrama






a)Morte de Animais
(transcrição copia-e-cola de postagem do blog de "Um túnel no fim da luz" de Kelvin Falcão Klein, numa citação de citação de citação de citação)
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Escrever sobre a morte de animais tem sido um exercício sistemático da literatura argentina: desde o célebre tigre morto por Facundo, de Sarmiento, e Yzur, de Lugones, até as caçadas sexuais e alimentares dos tadeys em O. Lamborghini [a tradução está "...de tadeys em O. Lamborghini", o que fica completamente sem sentido, já que os tadeys são os "selvagens", como em o território dos tadeys, etc] e as lebres de O desperdício (2007), de Matilde Sanchez, a literatura argentina tem feito dos animais mortos uma matéria recorrente sobre a qual se questionam sentidos [aqui, a tradução coloca um "por sua vez"] estéticos, históricos e políticos. Isso não tem nada a ver com uma especificidade nacional - como se a frequência de animais mortos nas ficções da cultura fosse o índice de uma violência argentina -, mas sim os traços de uma história e de uma política dos corpos, nos quais se exibem certas inflexões e particularidades locais. Nessa história e nessa política, por razões materiais evidentes, os matadouros sempre estiveram presentes: desde o texto clássico de Esteban Echeverría (mas também desde antes, nas cenas de sacrifício de animais no The voyage of the Beagle [que na tradução torna-se Voyage to the Beagle], de Darwin, ou no Lazarillo de ciegos caminantes, por exemplo [autor: Alonso Carrió de la Vandera; não sei porque a tradução manteve Darwin, arqui-conhecido, e não acrescentou o outro autor, mais obscuro]) até a cena da captura do touro fugitivo em Bajo este sol tremendo, novela [romance?] de Carlos Busqued, de 2009 (a qual reproduz a cena do touro do matadouro de Echeverría), passando por uma novela [romance?] de 1927, de título bastante óbvio, Los charcos rojos, de Gonzalez Arrilli, e por La hora de los hornos, o célebre filme de Fernando Solanas, em que uma montagem de imagens de matadouros e imagens publicitárias quer ilustrar a natureza da mercadoria. Os matadouros têm sido uma parte decisiva da paisagem das ficções e escrituras locais: um universo em que se costuram formas, sentidos, visibilidades e relações entre corpos.

 * Gabriel Giorgi. "A vida imprópria. Histórias de matadouros". Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica. Organização de Maria Esther Maciel. Editora da UFSC, 2011, p. 199-220 [a citação está na página 202, e vai aqui com algumas intervenções sobre a tradução - de resto, vale notar essa potência da enumeração, essa potência da série: uma imagem atravessa uma tradição literária e lhe dá um sentido provisório, armado para uma investigação específica, para uma inquietação particular daquele que vasculha o arquivo; neste caso, a imagem do matadouro, que é, na realidade, um feixe de imagens: o animal acuado, o animal agonizante, o animal morto, o gesto do assassino, a ferramenta do ato, a instalação do matadouro, seus galpões e acessos, seus sistemas sobrecarregados de escoamento, etc].
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b)Consciência dos animais
Trecho de "Lato, logo existo", artigo de Sergio Augusto no Estadão (22/07/2012) sobre as evidências da consciência animal.

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Em 55 a.C., o romano Pompeu patrocinou um grande espetáculo com homens e elefantes durante o qual os paquidermes, inferiorizados e encurralados na arena, tentaram e conseguiram despertar a compaixão da assistência por meio de gritos e gestos pungentes. Com pena dos elefantes, a multidão execrou Pompeu, reviravolta presenciada e comentada por Cícero. É um dos registros mais remotos de que os quadrúpedes, a seu modo, também cogitam e sabem atrair a solidariedade dos bípedes.

Elefantes são animais intensamente sociais, emotivos e solidários. Presenciei uma comovente demonstração de solidariedade e socorro a um elefante aparentemente doente por meia dúzia de outros, durante um safári fotográfico pelo Parque Nacional de Serengeti, na Tanzânia. Foi uma revelação, mesmo para quem, como eu, conhecia alguns dados posteriormente reunidos em Quando os Elefantes Choram (de Jeffrey Moussaieff Masson e Susan McCarthy), e havia lido as "conversas" de Konrad Lorenz com as bestas, as aves e os peixes, os ensaios de Diane Ackerman sobre as baleias, os crocodilos e outros bichos, e acompanhado pela imprensa as pesquisas de Jane Goodall com os chimpanzés, as de Dian Fossey com os gorilas e as de Sally Coxe com os socialmente exemplares macacos bonobos do Congo.

No reino da bicharada, os antropocêntricos fundamentalistas perdem todas. Até ratos de laboratório são dados a gestos de solidariedade e sacrifício, revelou faz pouco tempo uma experiência na Suíça. Muita gente ainda ignora que os porcos são muito inteligentes e sensíveis, além de limpíssimos por natureza (o primeiro editor da revista Granta, Bill Buford, cria em casa um suíno como se fosse um cachorro), e que as baleias, orcas, cachalotes e golfinhos têm o triplo das células fusiformes dos cérebros humanos. Essas células são fundamentais para o desenvolvimento da empatia.

Em 2006 descobriram no zoológico do Bronx um elefante que se reconhecia no espelho. E depois outro, e mais outro. Bichos que passam no teste do espelho, como os citados elefantes, certos primatas, golfinhos e uma espécie de pássaro chamada pica-pica, são supostamente mais próximos dos humanos e mais necessitados de nossa proteção. Foi dessa premissa que a biopsicóloga Diana Reiss, do Hunter College, partiu para sua pesquisa sobre a capacidade perceptiva e interativa de determinados mamíferos.

Reiss é uma das signatárias do Manifesto de Cambridge. Como os demais signatários, ela espera que, diante das evidências de que os animais "pensam, logo sofrem" (cogito, ergo patior?), a sociedade dos humanos passe a tratá-los com mais respeito, dignidade e carinho.
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c) Elefantes em Roma.
(O Sergio Augusto mencionou e fui googlear. Encontrei a referência em inglês sobre a piedade dos romanos pelos elefantes AQUI no interessante Encyclopedia Romana, no qual descobri que Plínio (seria aquele que morreu em Pompeia? Preciso ver.) e Sêneca também mencionaram o evento.)
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Whereas the Greeks and Carthaginians used elephants mainly in war, the Romans used them primarily for spectacle, the first time in 275 BC, when those that had been captured from Pyrrhus were displayed in triumph. In 55 BC, when Pompey dedicated his theater, the events in the Circus included venationes. Plutarch says that five hundred lions were killed, but there was "above all, an elephant fight, a most terrifying spectacle" (Life of Pompey, LII.4). Cicero, who was present, wrote to a friend that there were two animal hunts a day, which lasted for five days. "The last day was that of the elephants, and on that day the mob and crowd were greatly impressed, but manifested no pleasure. Indeed the result was a certain compassion and a kind of feeling that that huge beast has a fellowship with the human race" (ad Familiares, VII.1).
In his Natural History, Pliny records the same poignant event (VIII.7.20). Twenty or so elephants were cruelly killed and, "when they had lost all hope of escape tried to gain the compassion of the crowd by indescribable gestures of entreaty, deploring their fate with a sort of wailing, so much to the distress of the public that they forgot the general and his munificence carefully devised for their honour, and bursting into tears rose in a body and invoked curses on the head of Pompey."
Seneca, too, refers to the slaughter in De Brevitate Vitae (XIII),
"...does it serve any useful purpose to know that Pompey was the first to exhibit the slaughter of eighteen elephants in the Circus, pitting criminals against them in a mimic battle? He, a leader of the state and one who, according to report, was conspicuous among the leaders of old for the kindness of his heart, thought it a notable kind of spectacle to kill human beings after a new fashion. Do they fight to the death? That is not enough! Are they torn to pieces? That is not enough! Let them be crushed by animals of monstrous bulk! Better would it be that these things pass into oblivion lest hereafter some all-powerful man should learn them and be jealous of an act that was nowise human. O, what blindness does great prosperity cast upon our minds! When he was casting so many troops of wretched human beings to wild beasts born under a different sky, when he was proclaiming war between creatures so ill matched, when he was shedding so much blood before the eyes of the Roman people, who itself was soon to be forced to shed more. He then believed that he was beyond the power of Nature. But later this same man, betrayed by Alexandrine treachery, offered himself to the dagger of the vilest slave, and then at last discovered what an empty boast his surname was."
The elephants, writes Cassius Dio, "were pitied by the people when, after being wounded and ceasing to fight, they walked about with their trunks raised toward heaven, lamenting so bitterly as to give rise to the report that they did so not by mere chance, but were crying out against the oaths in which they had trusted when they crossed over from Africa, and were calling upon Heaven to avenge them" (XXXIX.38).
And so they were: Seven years later, Pompey was stabbed to death in Egypt.
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d)Manifesto de Cambridge

A coluna de Sergio Augusto dizia respeito a um grupo de 13 neurocientistas que se reuniu em Cambridge para discutir diversos estudos sobre a consciência. O resultado, além de afirmações como "As evidências apontam que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência", foi um Manifesto "confirmando" (será que precisava de confirmação?) que diversos animais podem sentir afeto ou sofrer. O Manifesto, em inglês, está AQUI e pode ser lido durante seu almoço na churrascaria.



(imagem? via If Charlie Parker...)

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