quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Telegrama

Sabedoria

WISDOM Trailer from Andrew Zuckerman Studio on Vimeo.









"Você não para de fazer as coisas porque fica velho; Você fica velho porque para de fazer as coisas"
Rosamonde Pilcher

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Achados





a)Lançamento do romance "A Tríade" durante Fantasticon

Sábado, dia 28/08, às 18h, na Biblioteca Viriato Corrêa - Rua Sena Madureira, 298 - SP. Próximo à estação Vila Mariana do metrô, haverá o lançamento do romance "A Tríade", escrito pelo quarteto de cordas: Carlos Andrade, Claudio Brites, Kizzy Ysatis e Octavio Cariello.


b)Michael Kepp e a Cultura do "QI"

As crônicas do norte-americano "abrasileirado" Michael Kepp são sempre interessantes. Precisamos do outro para nos enxergar direito.

"Aqui, empregados emendam feriados e patrões fingem não notar, tudo na base do "uma mão lava a outra". Leia texto integral AQUI.

c)BOOOOOM!

Uma baleia voadora feita com sacos de lixo. Arte postal. Amano. Andrew Hem. Imagem do post é de Angie Wang. Tudo isto via BOOOOOOOOOM!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Telegrama

Más notícias.



Via Coisas do Arco da Velha

Escadas



nº07: negativo




João não pegou o metrô naquele dia. Não sentou no assento preferencial, destinado aos inválidos. Não perscrutou discretamente os demais passageiros. Não ouviu o condutor da composição anunciar sua estação. Não seria sua estação, porque não estava lá. Não desceu, não cruzou a linha amarela de segurança na plataforma ou as trilhas em relevo para as bengalas dos cegos. Não acompanhou a multidão no caminho para a saída. Não foi mais um, embora sempre tenha sido. Não subiu passo a passo os degraus da escadaria fixa. Não viu Maria do outro lado. Maria também não estava lá, então não haveria Maria para ver. Ela não desceu as escadas rolantes. Maria não viu João do outro lado. Nem esperou o trem chegar, nem ouviu seu sopro rugir no túnel, nem o freio rinchar nos ouvidos. O trem que não levou Maria sumiu na escuridão no caminho para as demais estações.

João e Maria que não pegaram o metrô naquele dia. Nunca esperariam encontrar seu amor no metrô. João e Maria que não estavam sozinhos, estavam um com o outro, em um não-lugar todo deles.












(Fonte imagem: R. Demachy, portrait de femme retouchée,
négatif sur verre au gélatino-bromure d’argent - 1905
)

domingo, 15 de agosto de 2010

Telegramas



Um tributo a Lorenzo Mattotti. Via Comicsando

Achados




a)
Paixão segundo G.H... no Mangá?

Uma postagem em inglês do "Tokio Scum Brigade" (Blog em inglês que explora o trash japonês) fala de um mangá chamado "Baptism" no qual uma aluna força a esposa de seu professor a comer um apetitoso "mingau" de baratas. E então descobrimos que existe uma série de aulas (em japonês) para quem se dispuser a preparar receitas com baratas.

Há uma outra postagem diferente, mas bastante deliciosa AQUI, mais fácil de acompanhar por serem fotos apenas e estarem em inglês.

b)
Cenas de "The Golden Voyage of Sindbad": Centauro versus Grifo. E viva Ray Harryhausen neste vídeo (E dá-lhe Tito Puente!)!

c)IV Simpósio de Literatura Fantástica

http://fantasticon.com.br/?p=35

Dias 27, 28 e 29 de agosto na Biblioteca Viriato Correa, Av Sena Madureira, 298 - Vila Mariana - São Paulo - SP

* * *

"A idéia do Fantasticon é reunir pessoas interessadas em Literatura Fantástica (ficção científica, fantasia e horror) para
que elas possam se encontrar, debater idéias, trocar informações, levantar tendências e se divertir.

A proposta é incentivar e enriquecer o estudo e o debate sobre o Fantástico no Brasil. Para isso, contaremos com
palestras, mesas-redondas, oficinas, mostra de filmes, exposições, lançamentos, sessões de autógrafos e muita
confraternização!

O Fantasticon é organizado por Silvio Alexandre, em uma realização da Biblioteca Viriato Corrêa, do Sistema Municipal de Bibliotecas e da Secretaria Municipal de Cultura. Com o apoio da Fly Cow Produções Culturais, da TV Cronópios e da Revista MOVIE."

Programação do Evento:
http://fantasticon.com.br/?page_id=381

"Sábado dia 28 de agosto 15h às 16h

Celebração: “Projeto Portal”

O Projeto Portal, coordenado por Nelson de Oliveira, é uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral. Cada número da revista homenageia, no título, uma obra célebre do gênero: já foram lançados o Portal Solaris, o Portal Neuromancer, o Portal Stalker e o Portal Fundação.

O Projeto Portal realizará uma celebração para lançar o Portal 2001, com a presença dos autores, que conversarão com o público e sortearão exemplares da revista.

Portal 2001, o quinto número do Projeto, traz contos inquietantes que vão do universo da ficção científica ao do fantástico, passando pelo da fantasia. São 31 narrativas sobre novas tecnologias, viagens no tempo, ciberespaço, telepatia, contatos imediatos do terceiro grau, pós-apocalipse, pós-humano, utopias e distopias, de dezesseis autores contemporâneos.

Os contistas são: Braulio Tavares, Brontops Baruq, Claudio Parreira, Daniel Fresnot, Delfin, Luiz Bras, Marcelo Bighetti, Marco Antônio de Araújo Bueno, Maria Helena Bandeira, Mayrant Gallo, Mustafá Ali Kanso, Ricardo Delfin, Roberto de Sousa Causo, Rodrigo Novaes de Almeida, Rogers Silva e Sid Castro."


Imagem via Popholic

domingo, 8 de agosto de 2010

Telegrama


Alguém me avisou
(Composição Dona Ivone Lara)



Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?
Eu estou aqui, o que é que há?
Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho
Mas eu vim de lá pequenininho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho
Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho

Sempre fui obediente
Mas não pude resistir
Foi numa roda de samba
Que juntei-me aos bambas
Pra me distrair
Quando eu voltar na Bahia
Terei muito que contar
Ó padrinho não se zangue
Que eu nasci no samba
E não posso parar
Foram me chamar
Eu estou aqui, o que é que há?







(Gil, Caetano e Bethânia. A gente chamava "PAAAAI" e lá vinha ele cantarolando esta música.)

au revoir, mon amur





O micro já estava desligado e precisou conferir a hora no celular. Só então se deu conta que a bateria se esgotara. Apropriado até: a bateria de Marco também estava nas últimas. Precisava dormir. Espiou entre as persianas e leu a hora na torre do outro lado da Avenida. Mais de onze.

Jogou a caixa da pizza no lixo, os caroços de azeitona correram em seu interior. Apagou a luz, trancou a sala e depois a porta de vidro. Chamou o elevador, a chave do carro na mão. Demorava. Só falta esta merda estar quebrada. Sentiu então um cheiro estranho, antigo, remetia a terra e a zoológico. A campainha indicou qual das portas iriam abrir. Marco se posicionou diante e, ao abrir, espantou-se com o fato da cabine estar cheia num horário ingrato como aquele.


Eram três caçadores de faces asiáticas. Em dois deles, longos e finos bigodes desciam pelos cantos dos lábios dos lábios, evocando pequenos cabides pendurados nas narinas. O último era um adolescente de aspecto feroz. Vestiam peles escuras e grossas e traziam várias zibelinas mortas penduradas em varas. Marco disse boa noite e eles (menos o adolescente) devem ter respondido o mesmo em seu idioma, espremendo-se no fundo do elevador.

Marco deu as costas para os três, os números das planilhas ainda dançavam em sua cabeça, sentia que estava esquecendo de algo, mas que se dane, já era tarde demais. Se faltasse algo, amanhã ele veria. Tentou conter o odor de carniça beliscando sutilmente as narinas como se as coçasse ou estivesse resfriado. Depois do silêncio inicial, os dois mais velhos retomaram o diálogo anteriormente interrompido. Um fez um gesto a demonstrar como era pesada sua vara. O outro pesou com a mão algumas das zibelinas do primeiro e ponderou algo que fez ambos rirem. O adolescente calado não esboçou um esgar. Fungou profundamente, chamando catarro e cuspiu no mármore do elevador.

O andar dos três caçadores chegou antes: pediram passagem e Marco deu espaço para eles saírem, um de seus sapatos afundou e ele sentiu o suor nas meias se condensar rapidamente. Eles desceram numa paisagem nevada de árvores desfolhadas como foguetes abandonados em suas plataformas de lançamento. Estava dia.

Marco desceu no S3. Passou pela cadeira vazia do segurança. Desta vez não foi difícil encontrar o carro, era o último estacionado, junto a uma pilastra. Caminhava rapidamente, destravou o alarme a distância e o veículo buzinou e piscou em resposta. Todavia, Marco não o alcançou. Um leopardo-de-amur saltou sobre suas costas, o molho de chaves tilintou no chão, ele não chegou a entender o que estava acontecendo, sentiu apenas o peso do animal, as garras atravessando o paletó, a prensa das presas em seu pescoço. Mas chegou a escutar o sistema automático de seu carro travar novamente o alarme do carro.







(Minha pesquisa sobre Amur foi zero, portanto não levem a sério demais. O Leopardo de Amur é um dos animais mais ameaçados de extinção no planeta. A imagem é do Endangered Species Print Project. )

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Telegrama



valeu


(Paulo Leminski)




dois namorados olhando o céu
chegam à mesma conclusão
mesmo que a Terra não passe da próxima guerra
mesmo assim, valeu

valeu encharcar esse planeta de suor
valeu esquecer as coisas que eu sei de cor
valeu encarar essa vida que podia ser melhor

valeu


valeu







(Imagem via Super Punch: Peace(1985), de Steff Geissbuhler)

Achados



a)Zdzisław Beksiński

(1929-2005): um artista polonês fabuloso. Vá a seu site ou procure no google outras obras dele. Dão medo. Suas obras "emolduram" a música-tema de "O Bebê de Rosemary", composta por Krzysztof Komeda neste "clipe" do YouTube..

b)Pray for "Rosemary´s Baby"

Um trailer assustador de "O Bebê de Rosemary"... na época em que os trailers não entregavam o filme.

Como "Poltergheist", corre a lenda a respeito do filme "O Bebê de Rosemary" ser um filme maldito.

Primeiro: meses após o filme ser lançado, a modelo Sharon Tate, esposa grávida do diretor Roman Polansky é assassinada por seguidores de Charlie Manson em uma mansão (que já tinha fama de ser mal-assombrada). Já li algo a respeito que Sharon Tate teria tido pesadelos premonitórios de sua própria morte.

Segundo: Komeda, amigo e parceiro de Polanski sofre um acidente e morre por danos cerebrais.

Terceiro: o edifício Dakota, onde o filme foi rodado, foi onde se desenrolou o assassinato de John Lennon.

Tema de Komeda reinterpretado por Fantomas, a banda capitaneada pelo velho general Mike Patton

c)Gárgulas

Um passeio (em inglês) pelas Gárgulas na Europa. A palavra "gárgula" ainda hoje pode ser usada como escoadouro d´água de chuva sobre os telhados: no cotidiano, pelo menos, aqui usamos a palavra "calha". A Gárgula decorava com "motivos monstruosos" estas saídas de água. O texto é basicamente, extraído do Wikipedia... Mas, há as fotos e a penúltima delas vale uma olhadela.

d)Iniciando na vida literária.

No blog da jornalista Raquel Cozer encontramos sua matéria que saiu no Estado de São Paulo sobre uma pesquisa informal entre escritores e suas dificuldades para publicar seu primeiro romance por uma editora de "primeira linha", vamos dizer assim.

também estão os links para uma pesquisa similar (de onde ela tirou a ideia para a matéria) realizadas nos EUA pelo escritor Jim C. Hines (de Orcs) entre os escritores que conhecia.

(Via Meia Palavra)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

rota migratória






Estação, hora do rush.
No inverno escurece cedo, sendo assim já era noite quando Maria se viu em meio à multidão. A cabeça vazia de tudo que não seja caminho e caminhar. Mas mesmo assim, alguns mugidos fizeram Maria levantar a cabeça e reduzir o ritmo. Todavia, ninguém abrandou o passo, e logo ela sentiu uns primeiros empurrões. E entre as pernas e costas e corpos, ela viu no meio um gnu. Não quis interromper-se, seguiu a romaria cotidiana. Dentro do trem, no aperto e no sufoco, é que ela foi atinar. O que era aquilo? A melhor hipótese era a de um carroceiro puxado por um pangaré de chifres.



Praça
O ônibus cheio de pessoas que não se olham nos olhos. Para escapar, tentam a confusa tela urbana na janela de fios, placas e árvores mirradas. Em uma praça, dormiam uns mendigos e seus cães. Aqui e ali pastavam os gnus.



Sirenes.
Uma moto do Resgate passa entre os automóveis presos no trânsito. Alguns minutos depois, uma ambulância força caminho entre os carros. Alguém sobe na calçada e ela passa gritando sirene nas nossas orelhas. Mais adiante, descobre-se o motivo. Estendido no chão, o corpo de um gnu atropelado no cruzamento.



Rio
Para evitar as enchentes, aprofundaram o leito do rio. Cimentaram suas margens e plantaram árvores chicoteadas pelo ar em movimento das vias expressas. Apenas os pássaros se aproveitam de suas sombras. Os gnus escorregam pelas paredes, os cascos incapazes de se prender. Caem no rio, já sem crocodilos ou peixes, e atravessam a crosta de lixo para realizarem sua migração. Mas do outro lado não conseguem encontrar forma de subir a muralha e se acumulam atabalhoados na beira da água podre.



Madrugada
João não precisa de alarme para acordar. O trânsito da via expressa bem adiante da janela de seu apartamento é o seu despertador. Às vezes, uma freada noturna indica um acidente. De tantos, João se habituou: nem se levanta para ver o que sobrou. Se enterra sob a fronha e espera não acordar quando chegarem os socorristas. Mas naquela noite fria foi diferente. João quase perdeu a hora. Estranhou o silêncio, silêncio de automóveis. Foi para a janela e viu as faixas vazias de carros. O céu coloria-se, mas ainda não havia sol. Nestas horas intermediárias, com uma linha se faz o contorno do mundo. Lá adiante, iluminada pelos postes, se aproximava uma massa estranha e se escutava seus mugidos, as mães chamando os filhotes, os filhotes querendo perder-se. Era uma manada, era um rebanho sem pastoreio. Fediam como fede tudo que está vivo. Seus cascos rastejavam e trotavam no asfalto. Eram muitos. Milhares talvez. João não tinha o costume de tomar café da manhã em casa: sentiu fome, mas esperou até o final da migração. Era possível observar as pessoas nos edifícios vizinhos, todos olhando pela janela, como se aquele fosse um enterro de alguém importante. Deixaram um rastro de esterco e urina e carcaças de abortos, filhotes perdidos e animais velhos e mortos, prontamente esmagados e ocultos pela rota migratória dos automóveis coloridos que vinham logo a seguir. Só então fechou a cortina e foi trabalhar. O chefe descontaria o atraso.












(imagem via)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Telegramas

Provérbios do Inferno





No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.

Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.

A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência.

Quem deseja, mas não age, gera a pestilência.

O verme partido perdoa ao arado.

Mergulha no rio quem gosta de água.

O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.

Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela.

A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.

A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.

Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes.

Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez.

Um cadáver não vinga as injúrias.

O ato mais sublime é colocar outro diante de ti.

Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando sábio.

A loucura é o manto da velhacaria.

O manto do orgulho é a vergonha.

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da educação.

As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião.

O orgulho do pavão é a glória de Deus.

A luxúria do bode é a bondade de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.

O rugir dos leões, o uivar dos lobos, o furor do mar tempestuoso e a espada destruidora são fragmentos de eternidade grandes demais para os olhos humanos.

A raposa condena a armadilha, não a si própria.

Os júbilos fecundam. As tristezas geram.

Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha.

O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.

O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado.

A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.

A cisterna contém; a fonte derrama.

Um só pensamento preenche a imensidão.

Dize sempre o que pensa, e o homem torpe te evitará.

Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade.

A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha.

Da água estagnada espera veneno.

A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.



(As Mercenárias: um grupo paulista da década de 80, punk feito por garotas. Elas musicaram boa parte dos "Provérbios do Inferno", de William Blake, provavelmente em cima da tradução de Paulo Vizioli. Eu tinha uma gravação extraída do rádio em cassete. Ilustração de Jeremy Enecio.)