segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Telegrama

Ontem eu recebi uma carta do diabo







História de Raphael Gancz e desenhos de Bruno Maron (Nos comentários, alguém disse que a frase-título "Onte, eu..." é de Flavia Reis). Extraído do Dinâmica de Bruto, blog (muito, muito bom) deles: Eles fazem humor, mas é sério. Via Raquel Cozer.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Achados




a) "O que é um analema?

Olhando para trás no tempo ao longo de 2010, você consegue se lembrar em que posição do céu o Sol estava diariamente exatamente às 9 horas da manhã? Talvez não. No entanto, não se preocupe, a resposta está aqui: o Sol, ao longo do ano, forma nos céus uma figura celestial parecida com o número 8 ou, diriam alguns, o símbolo do infinito ∞. Esta curva é um analema."

(Para ver outras fotos e outras explicações, clique AQUI. Conheça o excelente - e em português - Eternos Aprendizes. Fotografia acima de Anthony Ayiomamitis)


b)O tamanho do cérebro

A notícia DAQUI talvez já seja velha: o cérebro humano está cada vez menor. Alguns atribuem esta redução como um fato provocado pela evolução: ambientes civilizados "exigiriam" menos do cérebro e por isto eles estariam ficando menores...

Cá entre nós, eu não sei de onde tiraram a ideia que um grande cérebro implica necessariamente numa grande inteligência: poderíamos falar das baleias e de outros animais maiores... Ok, talvez exista uma relação cérebro x corpo... mas queria saber como "testaram" esta hipótese.

AQUI há um artigo da neurologista brasileira Suzana Herculano-Houzel que comenta justamente a história destas teorias e em que pé elas estão "agora" (A matéria é de 2007). Neste outro texto (em inglês e sem assinatura), comenta-se que pássaros conseguem apresentar comportamento complexo e inteligente (como alguns corvos e papagaios) com um cérebro bastante pequeno.

Das outras vezes que ouvi (na TV ou em jornais) sobre o tamanho do cérebro, informaram primeiro que cérebro das mulheres é menor que o dos homens (que resultou num monte de piadinhas alguns anos atrás) e em um documentário (não sei onde) que parece haver uma correlação entre o tamanho do cérebro e o autismo. Mas vamos voltar ao texto original:

"A smaller brain is the signature of selection against aggression," Hare tells Lyden. "Another way to say that is an increase in tolerance."

Hare says when a population selects against aggression, they can be considered to be domesticated. And for a variety of domesticated animals like apes, dogs or turkeys, you can see certain physical characteristics emerge. Among these traits are a lighter and more slender skeleton, a flattened forehead — and decreased brain size.

Hare's studies focus on chimpanzees and bonobos. In evolutionary terms, they are much like humans, but are physically quite different from one another. Bonobos have smaller brains than chimpanzees — and are also much less aggressive."


Sendo assim, este cientista faz uma analogia entre o resultado desta pesquisa e a transformação decorrente em alguns animais de estimação (e também entre chipanzés normais e os bonobos), cujos cérebros das versões domesticadas é menor que o das selvagens. O cérebro humano estaria se adaptando para a vida social e, portanto, menos agressivo e menor.




(Via Neatorama)

c)Fotos Bing

A melhor coisa do BING, o Sistema de Buscas da Microsoft são as fotos que ilustram sua tela de apresentação.

AQUI, um blog que compila estas imagens.

Onirogrito




Zerar

A crônica "Racismo Camuflado" foi escrita para a revista Trip 195 pelo cineasta Henrique Goldman, vivendo em Londres. Segue o trecho inicial (para o caso do link estar indisponível)

"
Sábado passado foi um dia de cão. Eu estava com meu filhinho de 3 anos numa enorme fila do caixa num supermercado aqui em Londres. Com aquela inocência típica de uma criança que descobre o mundo e se maravilha com cada detalhe, meu filho começou a encarar uma senhora negra que estava logo atrás de nós na fila. Secando a senhora com os olhos maravilhados, ele me perguntou, bem alto, em português: “Papai, por que esta mulher é marrom?”. A senhora percebeu que o menino tinha dito algo a seu respeito e, sorrindo, perguntou em inglês: “O que foi que você disse?”. Meu filho continuou calado, ainda mais abismado ao ver que a senhora, além de ser marrom, estava falando com ele. Eu hesitei um pouco, mas resolvi dizer a verdade e respondi com um sorriso apologético: “Ele perguntou por que a senhora é marrom”. Profundamente ofendida, a senhora me disse: “Você deveria educar o seu filho a não ser racista!”. E foi, com a cara amarrada, para outra fila. Ao meu redor, notei no olhar de muitas pessoas o desconforto, que ficou ainda maior quando meu filho começou a perguntar, agora falando ainda mais alto e em inglês: “Why did the brown lady leave, daddy?” (Papai, por que a senhora marrom foi embora?).


O que eu podia responder? “Filho, eles inventaram e implantaram no século 17 o modelo da escravidão colonial, cujos lucros astronômicos financiaram a Revolução Industrial, criando as bases do império britânico. Para gerar essa riqueza, por séculos milhões de vidas foram destruídas e um continente inteiro, a África, foi devastado. O legado de racismo e pobreza continua ativo, espalhado pelo mundo. Mas também, filho, neste país esquizofrênico, tem muita gente legal, e eles, praticamente ao mesmo tempo, inventaram o abolicionismo, movimento de massa em defesa dos direitos humanos. A filha-da-putice e a enorme culpa gerada por tamanha filha-da-putice sobrevivem ainda hoje. Por isso, não seria um problema perguntar para uma senhora loira por que ela é amarela, mas pode ser um problema perguntar para uma senhora negra por que ela é marrom. E olha, filho, aqui na Europa, onde a cor das pessoas é uma questão tão fundamental, nós dois, que somos brasileiros, somos considerados já meio marronzinhos. Mas não é um problema. É bom ser meio marronzinho.” Aproveitei que chegou minha vez no caixa para distraí-lo, sentindo-me aliviado por não ter que responder algo tão complicado.
"

..Acho que ao invés disto tudo que se propôs, ele poderia ter dito: Filho, as pessoas são diferentes; Tem quem tem o cabelo enrolado, a pele preta, o olho rasgado, a barriga grande, a bunda enorme, o que não anda, o de barbona, o careca, a pele amarela, a pele canela, a pele azul, o cabeludo, o que fala espanhol, o árabe, o alto, o anão. Ela é marrom porque ela é diferente e isto não é ruim, nem bom. É só diferente.

Cair numa justificativa histórica é mais uma forma de preservar preconceitos. Acaba alimentando e justificando o ódio. O esquecimento pode nos fazer errar de novo. Existe este risco. Por outro lado, pode nos libertar, deixar-nos livres pra fazer as coisas do jeito certo. Recomecemos.





(imagem: ? - via Haw-Lin)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Telegrama

The suburbs





In the suburbs I
I learned to drive
And you told me we'd never survive
Grab your mother's keys we're leaving

You always seemed so sure
That one day we'd be fighting
In a suburban war
Your part of town against mine
I saw you standing on the opposite shore
But by the time the first bombs fell
We were already bored
We were already, already bored

Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling
Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling again

The kids want to be so hard
But in my dreams we're still screaming and running through the yard
When all of the walls that they built in the seventies finally fall
And all of the houses they build in the seventies finally fall
Meant nothing at all?
Meant nothing at all
It meant nothing

Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling
Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling and into the night

So can you understand
Why I want a daughter while I'm still young?
I want to hold her hand
And show her some beauty
Before all this damage is done

But if it's too much to ask, if it's too much to ask
Then send me a son

Under the overpass
In the parking lot we're still waiting
It's already past
So move your feet from hot pavement and into the grass
'Cause it's already past
It's already, already past

Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling
Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling again

I'm moving past the feeling
I'm moving past the feeling

In my dreams we're still screaming
We're still screaming
We're still screaming


(Clipe de Spike Jonze para música do Arcade Fire; p.s. Aniversário do blog)

Achados








a)FLORESTAS

Ilustrações da espanhola Raquel Aparicio. Via Animalarium, BOOOOOOM! e Signature Illustration.

b)SOBRECAPA(S)

O SOBRECAPA informa os lançamentos literários da semana (quer filar um vinhozinho? Mas pelo menos folheie o livro!)

o SOBRECAPAS, do Samir Machado, fala de capas de livros, design literário, etc.


c)CAPAS em QUADRINHOS.

Através deste último (o sobre-capas) fiquei sabendo desta coleção da Penguin que usou quadrinistas renomados para fazer as capas de alguns clássicos; gente como Chris Ware, Frank Miller, Art Spiegelman, Charles Burns e etc.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Telegrama

Sisenegues



x







(As tiras vieram do Manual do Minotauro, do Laerte. Já o microconto "Siseneg" foi escrito por Arthur C. Clarke em 1984: deu no Neatorama. O link leva a um site especializado em publicar cartas manuscritas curiosas: o Letters of Note)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Telegrama





Cavalo bravo

(Renato Teixeira)

Olhando um cavalo bravo
No seu livre cavalgar
Passou-me pela cabeça
Uma vontade louca
De também ir
Para um cavalgar
Coração atrevido
Pernas de curioso
Olhos de Bem-te-vi
E ouvidos de boi manhoso
E lá vou eu mundo afora
Montado em meu próprio dorso.




(Foto? - Via Haw-Lin)

balcão



Seu neto também se chamava Francisco. Lá estava ele do outro lado do balcão. Quiseram abrir espaço, avisá-lo para pegar a fila dos idosos e deficientes. Ele se recusou, acreditando que o faziam apenas por aquele lá do outro lado do balcão ser seu neto. Francisco não queria favorecimento. Precisaram insistir muito, e foi uma estagiária (tirando o piercing e o cabelo azul, pareceria Rosa) quem o convenceu. Um outro senhor, de aspecto mais urbano, tentou puxar conversa. Francisco evitava estes outros velhos das filas: costumavam reclamar de tudo, de todos, do mundo (era uma forma de evitar reclamar de si mesmo, de Deus, de tudo). Mas aquele velho era diferente. Comparou o tempo de antigamente e o de hoje e afirmava: este era o melhor tempo de todos. Francisco ouviu, mas não queria saber muito. Pensava nas galinhas, na chuva, na plantação. Ficou cabisbaixo: fitou os próprios pés, confinados em sandálias, ambos pareciam do mesmo couro ressequido. Francisco não era dado a fantasias, mas esquecera de um sonho no qual formigas se confundiam de caminho e faziam um ninho ali na sola, entre os dedos cor de pedra. O painel mudou de cor, e foi seu neto quem o chamou para ser atendido.


O neto não pediu benção nem nada. Francisco jamais ia falar com a vó ou com os pais sem pedir a benção. O neto tinha um fiozinho que saía de sua orelha, o velho lembrou-se de uma pescaria na qual levara o neto e este chorara no mesmo desespero do peixe vivo lutando para sobreviver. Agora ele mesmo se enganchava nos anzóis. O assunto que os parentes tinham era chato demais para desenvolver aqui: percentuais, juros, safra, terras. Francisco ouvia, mas não escutava. Deve haver uma hora para se usar calçados; uma hora para sair do mato; de perder a dó de matar galinhas; de aprender a falar direito; de deixar de roubar goiaba. Chega uma hora de deixar de ser Chico. Foi neste momento que Francisco percebeu que perderia sua terra para os homens que viviam atrás do balcão.







(imagem Sebastião Salgado - Sem título - 1983. Fonte: Antropologia Social.)

Achados




a)

"A felicidade. Sempre sentiu medo desta palavra, que lhe soa arrogante, quando levada a sério; quando usada ao acaso, gastou-se completamente pelo uso e não corresponde mais à coisa nenhuma, além de um anúncio de tevê ou uma foto de calendário."

Cristovão Tezza, O Filho Eterno


b)Medo de pensar

(matéria da Folha em 08/12/2008)

"A pergunta que Cordelia Fine lança a seus leitores no início de seu último livro já é praticamente uma tentativa de induzir uma resposta. Quem sempre se considerou um animal racional tende a reavaliar o assunto num segundo, e talvez diga a si: "Não tenho certeza."

Contudo, por que alguém começaria a escrever um livro com essa frase, senão pelo propósito de de instigar o leitor com a perspectiva de uma resposta negativa? Em "Idéias Próprias" (Difel, 2008), a psicóloga inglesa radicada na Universidade de Melbourne (Austrália) trata de como o desempenho real de nossos cérebros não corresponde mesmo àquilo que desejamos.

Listando diversos experimentos feitos à moda da psicologia cognitivo-comportamental americana, o principal mérito do livro é incutir dúvidas em quem quer que se considere imune à presunção, ao auto-engano, a preconceitos étnicos e a vícios morais de toda sorte.

A edição em português do livro de Fine sai no mesmo ano em que foram lançados "Kluge" (Gambiarra), de Gary Marcus, e "On Being Certain" (Sobre Ter Certeza), de Robert Burton. Três livros talvez sejam uma amostra pequena para apontar qualquer tendência acadêmica, mas todos são dedicados ao mesmo propósito. A ordem do dia parece ser denegrir a reputação da mente humana como o instrumento capaz de atingir conhecimentos objetivos e fazer julgamentos com alguma isenção.

Tomemos como exemplo um experimento simples e inofensivo, que fazia duas perguntas a diversos jovens universitários: "Quão feliz é sua vida?" e "Quantos encontros com garotas você teve no último ano?". Voluntários que respondiam ao questionário nessa ordem tinham muito mais probabilidade de se declarar felizes do que os outros.

Certamente, a ordem das questões não alterou a realidade anterior ao teste nem a pontuação que cada voluntário atribuía à qualidade de sua vida sexual. Mas a mera menção ao assunto já fazia com que o tema fosse considerado com maior peso na hora de refletir sobre felicidade em termos genéricos."


c)Cérebro é "gambiarra evolutiva" (Clique para ler toda a entrevista)

"Engenheiros americanos costumam usar a gíria "kluge" ao se referirem a soluções improvisadas para problemas em projetos. A falta de iluminação numa casa nova pode rapidamente ser resolvida, por exemplo, com um fio desencapado, uma lâmpada velha, uma extensão e esparadrapo. Esse tipo de gambiarra, diz o psicólogo Gary Marcus, da Universidade de Nova York, é também a melhor analogia para descrever a mente humana.

"Kluge" é o título do novo livro de Marcus, dedicado a mostrar como nossas faculdades mentais mais caras -consciência e raciocínio lógico- foram construídas pela evolução aproveitando estruturas cerebrais primitivas, na falta de algo melhor. Dá para o gasto, mas o preço que pagamos por não sermos fruto de um "projeto inteligente" é que nossa gambiarra cerebral freqüentemente entra em curto-circuito.

Auto-engano, teimosia, presunção --e crenças religiosas- seriam todos efeitos colaterais da forma como a mente é estruturada. Nossa memória, também, parece ser ótima para um caçador identificar pegadas de animais, mas não muito para guardar senhas de banco.

Analisando suas teorias à luz de experimentos psicológicos, Marcus mostra o quanto somos capazes de violar a racionalidade que supostamente é a marca registrada do Homo sapiens, o homem que sabe. Em um fenômeno conhecido como "ancoragem e ajuste", por exemplo, o cérebro é normalmente induzido por valores arbitrários --o autor descreve um experimento no qual números que saíam numa roda da fortuna influenciavam voluntários a responder uma questão não-relacionada, como "qual é a porcentagem de países africanos na ONU?"

Outro fenômeno analisado por Marcus a chamada "preparação", ou indução subliminar. As pessoas tendem a responder a perguntas sobre suas vidas com mais otimismo depois de assistir a "Os Smurfs" do que a "O Ladrão de Bicicletas". "

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Telegrama







Altos e baixos
(Lula Queiroga)

Eu tô botando dúvida
Eu tô botando defeito
Eu tô prestando pra nada
Tô ficando obsoleto de mim
Ficando absolutamente não afim

Eu tô na crista da onda
Eu tô fazendo sucesso
Tô no topo do cristo
Sou o motor do progresso
faço tudo pra chegar no primeiro lugar
Que eu nem sei onde é, mas deve
Ser melhor do que aqui

Eu fico frio de medo
Eu fico cheio de dedo
Eu tô prestando pra nada
Tô querendo me livrar de mim
Eu fico transparentemente não afim

Eu sou o herói do momento
Eu sou a capa da veja
Eu sou o tampa de crush
Sou a loura da cerveja Schin
Eu sou a nova coqueluche do inverno
Pobre feliz de mim

Eu fui tirando do time
Tô em regime de fome
Eu tô prestando pra nada
Tô perdendo a validade de mim
Eu fico aparentemente não afim

Eu tô nadando em dólares
Eu fiz o gol da vitória
Eu sou o centro da história
Eu sou o aço da Votorantim
Eu sou Jesus tirando férias no inferno
Pobre feliz de mim