sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Achados




a)

"A felicidade. Sempre sentiu medo desta palavra, que lhe soa arrogante, quando levada a sério; quando usada ao acaso, gastou-se completamente pelo uso e não corresponde mais à coisa nenhuma, além de um anúncio de tevê ou uma foto de calendário."

Cristovão Tezza, O Filho Eterno


b)Medo de pensar

(matéria da Folha em 08/12/2008)

"A pergunta que Cordelia Fine lança a seus leitores no início de seu último livro já é praticamente uma tentativa de induzir uma resposta. Quem sempre se considerou um animal racional tende a reavaliar o assunto num segundo, e talvez diga a si: "Não tenho certeza."

Contudo, por que alguém começaria a escrever um livro com essa frase, senão pelo propósito de de instigar o leitor com a perspectiva de uma resposta negativa? Em "Idéias Próprias" (Difel, 2008), a psicóloga inglesa radicada na Universidade de Melbourne (Austrália) trata de como o desempenho real de nossos cérebros não corresponde mesmo àquilo que desejamos.

Listando diversos experimentos feitos à moda da psicologia cognitivo-comportamental americana, o principal mérito do livro é incutir dúvidas em quem quer que se considere imune à presunção, ao auto-engano, a preconceitos étnicos e a vícios morais de toda sorte.

A edição em português do livro de Fine sai no mesmo ano em que foram lançados "Kluge" (Gambiarra), de Gary Marcus, e "On Being Certain" (Sobre Ter Certeza), de Robert Burton. Três livros talvez sejam uma amostra pequena para apontar qualquer tendência acadêmica, mas todos são dedicados ao mesmo propósito. A ordem do dia parece ser denegrir a reputação da mente humana como o instrumento capaz de atingir conhecimentos objetivos e fazer julgamentos com alguma isenção.

Tomemos como exemplo um experimento simples e inofensivo, que fazia duas perguntas a diversos jovens universitários: "Quão feliz é sua vida?" e "Quantos encontros com garotas você teve no último ano?". Voluntários que respondiam ao questionário nessa ordem tinham muito mais probabilidade de se declarar felizes do que os outros.

Certamente, a ordem das questões não alterou a realidade anterior ao teste nem a pontuação que cada voluntário atribuía à qualidade de sua vida sexual. Mas a mera menção ao assunto já fazia com que o tema fosse considerado com maior peso na hora de refletir sobre felicidade em termos genéricos."


c)Cérebro é "gambiarra evolutiva" (Clique para ler toda a entrevista)

"Engenheiros americanos costumam usar a gíria "kluge" ao se referirem a soluções improvisadas para problemas em projetos. A falta de iluminação numa casa nova pode rapidamente ser resolvida, por exemplo, com um fio desencapado, uma lâmpada velha, uma extensão e esparadrapo. Esse tipo de gambiarra, diz o psicólogo Gary Marcus, da Universidade de Nova York, é também a melhor analogia para descrever a mente humana.

"Kluge" é o título do novo livro de Marcus, dedicado a mostrar como nossas faculdades mentais mais caras -consciência e raciocínio lógico- foram construídas pela evolução aproveitando estruturas cerebrais primitivas, na falta de algo melhor. Dá para o gasto, mas o preço que pagamos por não sermos fruto de um "projeto inteligente" é que nossa gambiarra cerebral freqüentemente entra em curto-circuito.

Auto-engano, teimosia, presunção --e crenças religiosas- seriam todos efeitos colaterais da forma como a mente é estruturada. Nossa memória, também, parece ser ótima para um caçador identificar pegadas de animais, mas não muito para guardar senhas de banco.

Analisando suas teorias à luz de experimentos psicológicos, Marcus mostra o quanto somos capazes de violar a racionalidade que supostamente é a marca registrada do Homo sapiens, o homem que sabe. Em um fenômeno conhecido como "ancoragem e ajuste", por exemplo, o cérebro é normalmente induzido por valores arbitrários --o autor descreve um experimento no qual números que saíam numa roda da fortuna influenciavam voluntários a responder uma questão não-relacionada, como "qual é a porcentagem de países africanos na ONU?"

Outro fenômeno analisado por Marcus a chamada "preparação", ou indução subliminar. As pessoas tendem a responder a perguntas sobre suas vidas com mais otimismo depois de assistir a "Os Smurfs" do que a "O Ladrão de Bicicletas". "

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