terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Achados

Eu também quero uma cadeira de balanço






-Este é realmente um "achado". Graças ao "Coisas do Arco da Velha", achei um "YouTube" russo, onde um grupo coletou as 100 melhores animações do século(De 1906 a 2006). Não sei quem fez esta lista... Mas é muito boa. Como está tudo em russo, não descobri COMO postar os vídeos... E nem como reuní-los de uma forma amigável... De toda forma, aqui vão alguns links:

058.Jumping, de Osamu Tesuka(1984).

023.Pai e filha, de Michael Dudok de Wit
(chorei)

010.The Street, do National Film Board of Canada (1976)
(Baseado numa história de Mordecai Richler. Assisti a este milhares de anos atrás, num programa da Cultura chamado Lanterna Mágica)

003. Hoznosti dialogu Krátký Film Praha-Jiri Trnka Studio-Jan Svankmajer, 1982
(Arcimboldo! E que nheca.)

006.(Tale of Tales)Shazka skazok Soyuzmultilm-Yuri Norstein, 1979
(Legendas em inglês. O lobinho de uma canção de ninar vivendo em uma casa abandonada)

002.Fantasmagorie, de Emile Cohl (1908)
(mudo e feito com giz)

015.(o famoso filme da luminária-pai e luminária-filho da Pixar)

062.Legend of the forest, de Osamu Tesuka (1987)
(trilha Tchaikovsky)

080. Feelings from Mountain and Water Shanghai Animation Film Studio-Te Wei, 1988

004. Crac! Société Radio-Canada-Frédéric Back, 1981
(A história de uma cadeira de balanço... e das imagens acima)

001. Gertie the Dinosaur Winsor McCay, 1914

073. The Sinking of the Lusitania Winsor McCay, 1918

078. The Sandman Paul Berry, 1991


(Um detalhe importante: muitas destas animações são "mudas" ou não necessitam de compreensão sobre o que está sendo dito. Eu mesmo gostaria de ficar o ano todo vendo estas animações. Se quiser fuçar mais, use o tag Top100, que aparecerão vários, fora de ordem)

Abs

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Telegrama

And when it lands, will my eyes be closed or open?




Hyperballad (live) Bjork

* * *





Moramos no alto de uma montanha, bem no topo, com um vista linda de tudo. Toda manhã, eu caminho até a beira do abismo e jogo coisas de lá: garrafas, talheres, pneus, motores, que encontro esparramados ao redor. Virou um hábito, mais um jeito de começar o dia. Eu faço tudo isto antes de você acordar, assim me sinto mais feliz, mais protegida de estar aqui com você, no alto da montanha. Ainda madrugada, ninguém acordado. Volto ao rochedo, continuo jogando coisas de lá, vejo-as caindo, escuto o som da queda. Imagino o som do meu corpo se esmagando contra aquelas pedras. Estaria de olhos fechados ou abertos?







(.)

sábado, 26 de dezembro de 2009

carmen miranda




Nosso pai foi Papai Noel.


Ele usava mangas compridas e ternos e coletes para esconder as tatuagens feitas na prisão. Foi assim que conseguiu aquele emprego. Nosso pai oferecia balas e doces, mas tinha unhas escuras e dedos ásperos. As mães não reclamavam do cheiro de cigarro, naquele tempo elas fumavam tanto ou mais. Quando a loja abria, não havia muitas clientes e ele ficava só com o fotógrafo, um sujeitinho perfumado que só pararia de falar depois de tomar um tiro na boca. Para não precisar encará-lo, nosso pai fixava o olhar no burro empalhado que era montado pelas crianças. Ficamos sabendo anos mais tarde que usavam olhos de boneca para preencher os globos oculares dos animais mortos.

Nosso pai fazia questão de lembrar como éramos seu inferno. Depois que fui à Coréia, o entendi melhor. Tanto que repeti muitos de seus erros. Nós também o odiávamos. Não estranhamos (ou não nos preocupamos) quando não voltou para casa. Em janeiro, encontraram seu corpo em meio à neve. A polícia acredita que ele bebeu demais, caiu e morreu na beira da estrada, enquanto tentava voltar para casa. No bolso, encontraram um recorte de revista com a foto de Carmen Miranda.










{ Inspirado pelas f otos macabras de Papai Noel: Creepy Santa Claus (post do Mental Floss) & Sketchy Santas ...BOAS FESTAS}

aranha, três espécies de.

a) Cada vez que se arranca uma pata de azaranha-do-araguaia (Argyroneta araguaiensis), crescem mais duas no lugar. De tanto os pequenos peixes se fartarem, nasce então um ouriço-de-água-doce (Echinometra araguaiensis). 

 

b) As teias da azaranha-da-serra (Latrodectus terribilis familiaris) podem cobrir a distância de vários metros entre árvores e resistem bem a estação das chuvas e aos furacões, mas não às brisas. Os biólogos já registraram todo tipo de objeto encontrado em suas teias: aviões de papel, bexigas, latas de cerveja e pequenos troquilídeos. Os colibris capturados serão parte do incomum processo de reprodução desta espécie de artrópode: incomum não pelo fato dos machos cantarem para atrair as fêmeas; tampouco pelas fêmeas devorarem os machos tão logo se conclua o acasalamento; nem pela inserção dos ovos nos cadáveres dos beija-flores; também não se deve pela mãe azaranha canibalizar a própria ninhada tão logo esta ecloda dentro da carcaça de ossos miúdos. O estranho é que, devorada a última cria, a azaranha mãe usa as quelíceras contra o próprio abdômen e devora seus próprios órgãos, fiandeiras, patas, os olhos e resseca-se acompanhada de suas vítimas em sua antiga teia. 

 

c) A azaranha doméstica (Loxosceles nostalgicus) é relativamente comum, armando seus ninhos atrás de porta-retratos, rolos de filmes preto e branco, álbuns de fotografia ou agendas telefônicas. Inúmeros casos fatais de picadas acabam registrados como suicídios, especialmente por ocorrerem na época de Natal, durante os aguaceiros de final de tarde, pois os relâmpagos e o som molhado da passagem de carros de família no asfalto estimulam os solitários a percorrerem o fundo das gavetas e guarda-roupas em busca de tempos menos silenciosos.  

 

 

(...Imagem: Bibliodissey)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

renascido






Imagino o gosto morto do filho na língua na boca. Nasceu e não se levantou. Ainda assim, ela comeu daquela placenta, e ficou ali, a seu lado, naqueles dias de primavera. Mugia para acordá-lo, incentivá-lo a levantar, mas o sono era pesado. Lambeu o filhote naquela insistência de quem tem leite, mas ele continuou deitado no solo daquela floresta sem neve.

Daí surgiram os ursos seguindo o fedor do filhote. Lamberam-no como fizera a mãe e o sacudiram, ele adquiriu uma súbita leveza, brincou um pouco, virou de costas no chão, todo exposto para receber mais cócegas e os ursos se alimentaram de seu ventre naquela posição de abraço.



A fêmea de alce fugiu dos ursos, sabia o que eles queriam. Mas ela poderia imaginá-los como anjos gordos e peludos prontos para levar o filho para uma terra quente.










(documentário na TV)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Telegrama




Hoje: em dia



a)
Depoimento de Chico Buarque no documentário Vinicius (2005) de Miguel Faria Jr.

"Não sei onde estaria Vinicius de Moraes hoje em dia. Porque ele é o contrário de muito coisa que hoje é vitoriosa: a ostentação... Ele tinha uma coisa muito generosa, às vezes ingênuo, às vezes porra-louca, coisas que não existem mais hoje. Nem a porra-louquice, nem a generosidade, muito menos a ingenuidade. Existe sempre um resultado que se busca, um objetivo, uma coisa pragmática - tudo que Vinicius não era. Então ele faz muita falta, ou talvez, ele não pudesse mesmo estar vivo sendo Vinicius hoje. Não imagino em que lugar ele estaria dentro deste país em que a gente vive - deste país e deste mundo".


b)
Trecho de entrevista com crítico musical Marco Avinhão Minerdi realizada por Lucas Blisset por ocasião do 14º Festival de Documentários e Gastronomia de Antofagasta, onde o filme foi exibido pela primeira vez no Atacama. (Via El Mercuryo de Antofagasta)

"Mas de quem o Chico falava? Sobre Vinicius? Ou sobre Caetano? Sobre Germano? Ou sobre ele mesmo?
De todo modo, acredito que de tudo que ele diz, talvez o mais concreto seja afirmação sobre que sempre se busca algo, sempre há um objetivo, nestes nossos tempos pragmáticos.
Mas de resto, existe a ingenuidade. Uma ingenuidade em contexto South Park. Onde crianças sabem muito, julgam-se muito espertas, mas fazem burrices inacreditáveis. As pessoas macaqueiam, atores se fazendo de adultos. Sendo assim, existe também a porra-louquice. O que dizer de Jackass? Mas era mais engraçada antes, quando não era praticada na Globo ou em Hollywood ou por equipes de marketing pagas e bem comportadas.

Já quanto a generosidade, prefiro não me pronunciar. Sou crítico profissional e lido mal com estes paradoxos. Como quase todos nós, por sinal."






((a) Via Serrote nº3. (b) Psicografado via Sambexplícito)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Telegrama

(história com desenho e diálogo)



Bruxa afogando-se antes que navio tivesse chance de salvá-la





(Portal Fundação se aproxima)






Onirogrito


Ciao Luna



(Uma edição especial da Bravo "lista" (coisa mais comum nestes tempos de blogues) os 100 melhores contos da literatura universal. Não irei discutir sobre a (i)relevância de debater tais listas: acho que Nick Hornby já deve ter feito isto com apuro suficiente e Franco Moretti arrematou a questão dizendo que literatura não é concurso de miss, muito embora Umberto Eco tenha dito que "a lista é a origem da cultura". Para mim, a princípio, vale mais para conhecer os desconhecidos, confirmar algumas certezas e checar a quantas anda minha vasta ignorância (A desgraçada não tira o pé do acelerador!).

O conto de posição 39 é de Italo Calvino, e está no livro "Todas as Cosmicômicas": A Distância da Lua. Diz lá a Bravo sobre a primeira vez que a história fora publicada: "... eram acompanhdas de uma nota em que o autor explicava que a inspiração vinha do contato com Georgio de Santillana, o filósofo da ciência que em 1963 reforçou a teoria de que uma hipótese científica precede a formação de um mito. É assim que Calvino estrutura as narrativas que compõem as Cosmicômicas: cada uma delas é precedida por uma hipótese."

Continua a Bravo: "Em A Distância da Lua - primeiro conto da série -, a epígrafe traz a teoria de um astrônomo inglês: "Houve tempo, segundo sir George H. Darwin, em que a Lua esteve muito próxima da Terra. Foram as marés que pouco a pouco a impeliram para longe: as marés que a própria Lua provoca nas águas terrestres e com as quais a Terra vai perdendo lentamente energia.""

Bom.
Há muito tempo atrás, assisti no Discovery um documentário muito confuso que afirmava exatamente isto: a Lua está indo embora, alguns centímetros por ano. O que confundia não era esta informação e sim os efeitos que este afastamento provocava nos demais movimentos do nosso planeta. Pelejei até achar um site chamado Bad Astronomy (existe um blogue também, ligado ao Discovery Magazine) cujo objetivo é procurar por "batatadas científicas" sobre astronomia em filmes e programas de televisão. Você sabe, coisas como barulho de explosão no espaço e outras coisas mais difíceis que sou incapaz de explicar.

Dentre a lista de programas, reconheci o conteúdo do tal documentário e o autor do site se esforça em corrigir diversos dos erros enunciados no programa. Quem quiser espiar está AQUI.

Portanto, se na época em que Calvino escreveu era uma hipótese, ela se confirmou: a Lua está indo embora e por este e outros motivos criou uma de suas histórias mais fantásticas. Vale muito uma olhada para quem não conhece. Leia A Distância da Lua.)



(com cara de "Achados")