segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
renascido
Imagino o gosto morto do filho na língua na boca. Nasceu e não se levantou. Ainda assim, ela comeu daquela placenta, e ficou ali, a seu lado, naqueles dias de primavera. Mugia para acordá-lo, incentivá-lo a levantar, mas o sono era pesado. Lambeu o filhote naquela insistência de quem tem leite, mas ele continuou deitado no solo daquela floresta sem neve.
Daí surgiram os ursos seguindo o fedor do filhote. Lamberam-no como fizera a mãe e o sacudiram, ele adquiriu uma súbita leveza, brincou um pouco, virou de costas no chão, todo exposto para receber mais cócegas e os ursos se alimentaram de seu ventre naquela posição de abraço.
A fêmea de alce fugiu dos ursos, sabia o que eles queriam. Mas ela poderia imaginá-los como anjos gordos e peludos prontos para levar o filho para uma terra quente.
(documentário na TV)
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