terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Achados

Eu também quero uma cadeira de balanço






-Este é realmente um "achado". Graças ao "Coisas do Arco da Velha", achei um "YouTube" russo, onde um grupo coletou as 100 melhores animações do século(De 1906 a 2006). Não sei quem fez esta lista... Mas é muito boa. Como está tudo em russo, não descobri COMO postar os vídeos... E nem como reuní-los de uma forma amigável... De toda forma, aqui vão alguns links:

058.Jumping, de Osamu Tesuka(1984).

023.Pai e filha, de Michael Dudok de Wit
(chorei)

010.The Street, do National Film Board of Canada (1976)
(Baseado numa história de Mordecai Richler. Assisti a este milhares de anos atrás, num programa da Cultura chamado Lanterna Mágica)

003. Hoznosti dialogu Krátký Film Praha-Jiri Trnka Studio-Jan Svankmajer, 1982
(Arcimboldo! E que nheca.)

006.(Tale of Tales)Shazka skazok Soyuzmultilm-Yuri Norstein, 1979
(Legendas em inglês. O lobinho de uma canção de ninar vivendo em uma casa abandonada)

002.Fantasmagorie, de Emile Cohl (1908)
(mudo e feito com giz)

015.(o famoso filme da luminária-pai e luminária-filho da Pixar)

062.Legend of the forest, de Osamu Tesuka (1987)
(trilha Tchaikovsky)

080. Feelings from Mountain and Water Shanghai Animation Film Studio-Te Wei, 1988

004. Crac! Société Radio-Canada-Frédéric Back, 1981
(A história de uma cadeira de balanço... e das imagens acima)

001. Gertie the Dinosaur Winsor McCay, 1914

073. The Sinking of the Lusitania Winsor McCay, 1918

078. The Sandman Paul Berry, 1991


(Um detalhe importante: muitas destas animações são "mudas" ou não necessitam de compreensão sobre o que está sendo dito. Eu mesmo gostaria de ficar o ano todo vendo estas animações. Se quiser fuçar mais, use o tag Top100, que aparecerão vários, fora de ordem)

Abs

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Telegrama

And when it lands, will my eyes be closed or open?




Hyperballad (live) Bjork

* * *





Moramos no alto de uma montanha, bem no topo, com um vista linda de tudo. Toda manhã, eu caminho até a beira do abismo e jogo coisas de lá: garrafas, talheres, pneus, motores, que encontro esparramados ao redor. Virou um hábito, mais um jeito de começar o dia. Eu faço tudo isto antes de você acordar, assim me sinto mais feliz, mais protegida de estar aqui com você, no alto da montanha. Ainda madrugada, ninguém acordado. Volto ao rochedo, continuo jogando coisas de lá, vejo-as caindo, escuto o som da queda. Imagino o som do meu corpo se esmagando contra aquelas pedras. Estaria de olhos fechados ou abertos?







(.)

sábado, 26 de dezembro de 2009

carmen miranda




Nosso pai foi Papai Noel.


Ele usava mangas compridas e ternos e coletes para esconder as tatuagens feitas na prisão. Foi assim que conseguiu aquele emprego. Nosso pai oferecia balas e doces, mas tinha unhas escuras e dedos ásperos. As mães não reclamavam do cheiro de cigarro, naquele tempo elas fumavam tanto ou mais. Quando a loja abria, não havia muitas clientes e ele ficava só com o fotógrafo, um sujeitinho perfumado que só pararia de falar depois de tomar um tiro na boca. Para não precisar encará-lo, nosso pai fixava o olhar no burro empalhado que era montado pelas crianças. Ficamos sabendo anos mais tarde que usavam olhos de boneca para preencher os globos oculares dos animais mortos.

Nosso pai fazia questão de lembrar como éramos seu inferno. Depois que fui à Coréia, o entendi melhor. Tanto que repeti muitos de seus erros. Nós também o odiávamos. Não estranhamos (ou não nos preocupamos) quando não voltou para casa. Em janeiro, encontraram seu corpo em meio à neve. A polícia acredita que ele bebeu demais, caiu e morreu na beira da estrada, enquanto tentava voltar para casa. No bolso, encontraram um recorte de revista com a foto de Carmen Miranda.










{ Inspirado pelas f otos macabras de Papai Noel: Creepy Santa Claus (post do Mental Floss) & Sketchy Santas ...BOAS FESTAS}

aranha, três espécies de.

a) Cada vez que se arranca uma pata de azaranha-do-araguaia (Argyroneta araguaiensis), crescem mais duas no lugar. De tanto os pequenos peixes se fartarem, nasce então um ouriço-de-água-doce (Echinometra araguaiensis). 

 

b) As teias da azaranha-da-serra (Latrodectus terribilis familiaris) podem cobrir a distância de vários metros entre árvores e resistem bem a estação das chuvas e aos furacões, mas não às brisas. Os biólogos já registraram todo tipo de objeto encontrado em suas teias: aviões de papel, bexigas, latas de cerveja e pequenos troquilídeos. Os colibris capturados serão parte do incomum processo de reprodução desta espécie de artrópode: incomum não pelo fato dos machos cantarem para atrair as fêmeas; tampouco pelas fêmeas devorarem os machos tão logo se conclua o acasalamento; nem pela inserção dos ovos nos cadáveres dos beija-flores; também não se deve pela mãe azaranha canibalizar a própria ninhada tão logo esta ecloda dentro da carcaça de ossos miúdos. O estranho é que, devorada a última cria, a azaranha mãe usa as quelíceras contra o próprio abdômen e devora seus próprios órgãos, fiandeiras, patas, os olhos e resseca-se acompanhada de suas vítimas em sua antiga teia. 

 

c) A azaranha doméstica (Loxosceles nostalgicus) é relativamente comum, armando seus ninhos atrás de porta-retratos, rolos de filmes preto e branco, álbuns de fotografia ou agendas telefônicas. Inúmeros casos fatais de picadas acabam registrados como suicídios, especialmente por ocorrerem na época de Natal, durante os aguaceiros de final de tarde, pois os relâmpagos e o som molhado da passagem de carros de família no asfalto estimulam os solitários a percorrerem o fundo das gavetas e guarda-roupas em busca de tempos menos silenciosos.  

 

 

(...Imagem: Bibliodissey)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

renascido






Imagino o gosto morto do filho na língua na boca. Nasceu e não se levantou. Ainda assim, ela comeu daquela placenta, e ficou ali, a seu lado, naqueles dias de primavera. Mugia para acordá-lo, incentivá-lo a levantar, mas o sono era pesado. Lambeu o filhote naquela insistência de quem tem leite, mas ele continuou deitado no solo daquela floresta sem neve.

Daí surgiram os ursos seguindo o fedor do filhote. Lamberam-no como fizera a mãe e o sacudiram, ele adquiriu uma súbita leveza, brincou um pouco, virou de costas no chão, todo exposto para receber mais cócegas e os ursos se alimentaram de seu ventre naquela posição de abraço.



A fêmea de alce fugiu dos ursos, sabia o que eles queriam. Mas ela poderia imaginá-los como anjos gordos e peludos prontos para levar o filho para uma terra quente.










(documentário na TV)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Telegrama




Hoje: em dia



a)
Depoimento de Chico Buarque no documentário Vinicius (2005) de Miguel Faria Jr.

"Não sei onde estaria Vinicius de Moraes hoje em dia. Porque ele é o contrário de muito coisa que hoje é vitoriosa: a ostentação... Ele tinha uma coisa muito generosa, às vezes ingênuo, às vezes porra-louca, coisas que não existem mais hoje. Nem a porra-louquice, nem a generosidade, muito menos a ingenuidade. Existe sempre um resultado que se busca, um objetivo, uma coisa pragmática - tudo que Vinicius não era. Então ele faz muita falta, ou talvez, ele não pudesse mesmo estar vivo sendo Vinicius hoje. Não imagino em que lugar ele estaria dentro deste país em que a gente vive - deste país e deste mundo".


b)
Trecho de entrevista com crítico musical Marco Avinhão Minerdi realizada por Lucas Blisset por ocasião do 14º Festival de Documentários e Gastronomia de Antofagasta, onde o filme foi exibido pela primeira vez no Atacama. (Via El Mercuryo de Antofagasta)

"Mas de quem o Chico falava? Sobre Vinicius? Ou sobre Caetano? Sobre Germano? Ou sobre ele mesmo?
De todo modo, acredito que de tudo que ele diz, talvez o mais concreto seja afirmação sobre que sempre se busca algo, sempre há um objetivo, nestes nossos tempos pragmáticos.
Mas de resto, existe a ingenuidade. Uma ingenuidade em contexto South Park. Onde crianças sabem muito, julgam-se muito espertas, mas fazem burrices inacreditáveis. As pessoas macaqueiam, atores se fazendo de adultos. Sendo assim, existe também a porra-louquice. O que dizer de Jackass? Mas era mais engraçada antes, quando não era praticada na Globo ou em Hollywood ou por equipes de marketing pagas e bem comportadas.

Já quanto a generosidade, prefiro não me pronunciar. Sou crítico profissional e lido mal com estes paradoxos. Como quase todos nós, por sinal."






((a) Via Serrote nº3. (b) Psicografado via Sambexplícito)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Telegrama

(história com desenho e diálogo)



Bruxa afogando-se antes que navio tivesse chance de salvá-la





(Portal Fundação se aproxima)






Onirogrito


Ciao Luna



(Uma edição especial da Bravo "lista" (coisa mais comum nestes tempos de blogues) os 100 melhores contos da literatura universal. Não irei discutir sobre a (i)relevância de debater tais listas: acho que Nick Hornby já deve ter feito isto com apuro suficiente e Franco Moretti arrematou a questão dizendo que literatura não é concurso de miss, muito embora Umberto Eco tenha dito que "a lista é a origem da cultura". Para mim, a princípio, vale mais para conhecer os desconhecidos, confirmar algumas certezas e checar a quantas anda minha vasta ignorância (A desgraçada não tira o pé do acelerador!).

O conto de posição 39 é de Italo Calvino, e está no livro "Todas as Cosmicômicas": A Distância da Lua. Diz lá a Bravo sobre a primeira vez que a história fora publicada: "... eram acompanhdas de uma nota em que o autor explicava que a inspiração vinha do contato com Georgio de Santillana, o filósofo da ciência que em 1963 reforçou a teoria de que uma hipótese científica precede a formação de um mito. É assim que Calvino estrutura as narrativas que compõem as Cosmicômicas: cada uma delas é precedida por uma hipótese."

Continua a Bravo: "Em A Distância da Lua - primeiro conto da série -, a epígrafe traz a teoria de um astrônomo inglês: "Houve tempo, segundo sir George H. Darwin, em que a Lua esteve muito próxima da Terra. Foram as marés que pouco a pouco a impeliram para longe: as marés que a própria Lua provoca nas águas terrestres e com as quais a Terra vai perdendo lentamente energia.""

Bom.
Há muito tempo atrás, assisti no Discovery um documentário muito confuso que afirmava exatamente isto: a Lua está indo embora, alguns centímetros por ano. O que confundia não era esta informação e sim os efeitos que este afastamento provocava nos demais movimentos do nosso planeta. Pelejei até achar um site chamado Bad Astronomy (existe um blogue também, ligado ao Discovery Magazine) cujo objetivo é procurar por "batatadas científicas" sobre astronomia em filmes e programas de televisão. Você sabe, coisas como barulho de explosão no espaço e outras coisas mais difíceis que sou incapaz de explicar.

Dentre a lista de programas, reconheci o conteúdo do tal documentário e o autor do site se esforça em corrigir diversos dos erros enunciados no programa. Quem quiser espiar está AQUI.

Portanto, se na época em que Calvino escreveu era uma hipótese, ela se confirmou: a Lua está indo embora e por este e outros motivos criou uma de suas histórias mais fantásticas. Vale muito uma olhada para quem não conhece. Leia A Distância da Lua.)



(com cara de "Achados")

domingo, 29 de novembro de 2009

Telegrama


Pyramid Song


i jumped in the river and what did i see?


black-eyed angels swimming with me
a moon full of stars and astral cars
all the figures i used to see
all my lovers were there with me
all my past and futures
and we all went to heaven in a little row boat

there was nothing to fear and nothing to doubt

i jumped in the river
black-eyed angels swimming with me
a moon full of stars and astral cars
all the figures i used to see
all my lovers were there with me
all my past and futures
and we all went to heaven in a little row boat
there was nothing to fear and nothing to doubt


(Radiohead)

(Foto: Weeki Wachee spring, Florida (1947), por Toni Frissell)

Achados





a)Farrazine 14

Por puro esquecimento, deixei de mencionar no último Achados, a edição nº 14 do Farrazine.

Edição de dois anos de aniversário: Entrevistas com ALZIR ALVES e RAIMUNDO GUIMARÃES. Agente Dias e Jacarandá trazem dois textos sobre como começar uma carreira nos quadrinhos. Wilton Pacheco, com a penúltima parte da HQ ALBARIA e mais contos e artigos.

Links aqui: ISSUU ou pra baixar no 4shared. Parabéns Farrazine...!



b)Parasselênio

Descobri esta palavra no romance Meridiano Sangrento de Cormac McCarhy. A definição da internet não ajuda muito: "fenômeno óptico da família dos halos, similar porém menos brilhante que o parélio, sendo que o astro luminoso é a lua." Fuçando melhor no google, achei uma explicação mais tranquilizadora (e em português) em um portal sobre OVNIS...

Mas também descobri belos sites com fotografias e breves explicações sobre fenômenos visuais da atmosfera, como o alemão Paraselene, ou o britânico Atoptics. Em inglês, usam o termo "moondogs", um "apelido" que me leva a crer que seja mais comum em outras latitudes, talvez pela presença de gelo na atmosfera... ou talvez não: somos tão distraídos do céu que nos rodeia que restou apenas o termo científico.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Telegrama

sésamo, bananas e kung fu




Pequenas histórias sórdidas






“Ao passar pela guarita, os funcionários do prédio param de conversar, cumprimentam-no com o habitual boa noite e persistem calados até ele se distanciar rumo ao vestíbulo de seu bloco. No elevador, vigiado pela câmera, confronta-se no espelho. Ele sabe que há quem pense nele como homossexual por morar com a mãe e ouvir música clássica.”


O texto não está bom e fico lendo e relendo o parágrafo antes de decidir o que fazer com ele. Escuto então o chiado dos chinelos atrás de mim e inspiro fundo, preparando-me para sua chegada. Ela me pergunta o que é esta televisão, não tento explicar que é o note. Ela quer saber por que o pai não chegou até agora, eu deveria ligar para o serviço dele. Não repetirei que está morto. Salvo o arquivo, levanto-me. Ela se assusta ao me encarar. Desta vez, me reconhece. Admira-se ou se entristece: Minha Nossa Senhora, como você está acabado. Recomenda que eu largue Madalena, uma namorada antiga. Não sei por onde anda, se anda. Distancio-me rumo à sala, as paredes repletas de retratos e lembranças de lugares que desconheço. Ela me segue, um vulto de camisola, quase uma mortalha, quase um fantasma, não fosse o arrastar da borracha nos tacos. Esta Madalena não é mulher para você. Ela descreve todos os defeitos. Soube só recentemente o quanto a desprezava. Abro o piano e peço para se sentar. Ela ainda toca perfeitamente, quando começa pode ficar entretida por horas, absorta, absoluta, a alma intacta, os dedos ágeis nas mãos carcomidas pelo tempo. Gostaria de ouvir sua música, mas se recusa a me escutar. Percebo que não me deixará em paz. Quer atenção. Incito a contar algo antigo. Antigas histórias com quem já morreu ou quase. Adultérios, trapaças, vícios, torpezas, falcatruas. Algumas ela muda de protagonista para não se comprometer. Mas eu sei: só poderia ser ela. Deixo falar à vontade, enquanto meu olhar passeia pelas molduras e o papel de parede e o intrincado desenho do tapete e a escadaria dentro de outras escadarias dos tacos. O tempo passa e ela não para. Inspiro fundo. Continua seu monólogo, mesmo quando me levanto para buscar um dos espelhos escondidos pela casa. Sem dizer nada, entrego-lhe. Revelo seu rosto de velha, as rugas, os cabelos brancos. Ela se interrompe. Experimenta o relevo de sua própria face e tateia aquela do reflexo. A textura lisa no espelho deveria repousar na pele. Chora e grita. Chama pelos santos de devoção. Ela se afasta em lágrimas sem entender ou talvez entendendo o que acontece. Eu a amparo, a levo para o quarto. Apago a luz e encosto a porta. Ela logo esquecerá. Ela sempre esquece. Volto para a biblioteca sem livros na estante, caixas pardas de papelão pelos cantos, apenas o notebook sobre a antiga escrivaninha. Está tarde, demoro a engrenar: modifico o texto, continua curto, mas hesito em me alongar. Deixo para terminar no dia seguinte. Se conseguir.



“Ao passar pela guarita, os funcionários do prédio cortaram a conversa, deram o habitual boa noite e persistiram calados até ele se distanciar rumo ao vestíbulo de seu bloco. No elevador, vigiado pela câmera, confrontou-se no espelho. Suspeitavam que era homossexual. Não os culpava: um velho solteiro e refinado,cabelos tingidos e gostava de ópera. Ele mesmo pensaria o mesmo. Mas ninguém sabia que os cabelos eram tingidos para a mãe, uma ajuda para reconhecer o filho, mais velho do que deveria ser pela sua memória.

Talvez ele devesse atender a esta suspeita dos vizinhos. Assim evitaria a tentação de se deitar com ela. Seria fácil. Depois de vinte minutos, ela esqueceria e perguntaria pelo pai. Responderia o de sempre, papai acabou de sair. Mamãe então concluiria em um tom cínico e duro: logo vi.





(Imagem Decomposition of Memory, de Colin Harbut. Via Draw in Black.)

Achados




a) Eternautas

Via Overclockzine.

Curta metragem mostrando a invasão de Montevidéu por Robôs Gigantes.

Mas invasões alienígenas na América do Sul não são novidade, vamos dizer assim. Na década de 50, Héctor Oesterheld e Francisco Solano López desenvolveram a história do Eternauta. A história é bastante consistente e tem um clima sufocante bem condizente com a época da Guerra Fria.
Um grupo de amigos jogar cartas em uma casa de Buenos Aires. Subitamente, começa a cair uma espécie de neve que mata todas as pessoas que toca. Até eles começarem a entender o que se passa, muita tensão vai se desenrolar. A primeira aparição do Eternauta se deu no Hora Cero Suplemento Semanal em 4 de setembro de 1957. Rapidamente se tornou um sucesso e a série continuou até 1959.
Estão fazendo um filme sobre o Eternauta... Imagino a pressão que não está sendo: os argentinos são ardorosos defensores deste quadrinho. Ainda mais agora com este curta uruguaio... espero que não sofram a tentação de fazê-lo "espetacular".


Para saber mais:

- wikipedia El Eternauta.
- no outro lado dos comics (blog português)
- no capacitor fantástico
-série especial sobre quadrinhos argentinos no blog dos quadrinhos.
- Site argentino do Eternauta
- Aqui também.

b)O que aconteceria se Watchmen fosse um desenho para TV estilo anos 80?

Veja

O que aconteceria se fizessem uma versão norte americana de Akira?

Veja

(Via Teenage Thunder)

c)Robogeisha

Robô-gueixa, trailer de filme de Noburu Igushi. Não tenho coragem de comentar nada: veja com seus próprios olhos. O clipe da trilha do filme tem mais algumas cenas impagáveis. No YouTube tem cinco minutos iniciais de um outro filme dele, Machine Girl...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

lua nova





Entre os cães mordidos por pessoas, há aqueles que viram gente. Acontece na lua nova. Fazem compras no supermercado, experimentam sapatos de salto, escovam os dentes ou os cabelos, vão para os bares, fumam, bebem, recebem multas, debatem política e o resultado dos jogos do fim de semana e logo antes do amanhecer prendem-se em suas coleiras para dormir na casinha do quintal.












.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Telegrama


Fotografia de Lucio Boschi


Respire fundo


Abra os braços, respíre fundo

E corte os laços todos deste mundo


Com a sua imagem e semelhança

Nos mesmos traços de uma criança



Muito mansa e muito louca

Com a sua voz na minha boca

Há um segundo, Jesus Cristo

Por todos nós, por tudo isso



(Walter Franco)

Achados

Fotografia maravilhosa de Mario Giacomelli (Achei no Arco da Velha)





1)Coisas do arco da velha

Um blog lusitano, "curto e grosso" com imagens antigas do século XX, principalmente. Muito bom! Você pode fuçar lá por horas.

-Lá achei um desenho animado russo de 55. Confira a qualidade. Houve um programa chamado Lanterna Mágica na TV Cultura exclusivamente sobre animação... Durante uma época, eles apresentaram desenhos soviéticos que me impressionaram , especialmente uns sobre contos de fadas. Aproveite o link do You Tube para conhecer outros.

-Por ele, encontrei este filme anti-drogas de 1969, onde a pobre vítima discute com um cachorro-quente.


2)Fotografias dos prisioneiros nos campos de Pol Pot, antigo ditador do Camboja.

O regime de Pol Pot é conhecido como um dos mais brutais do século XX. No programa de TV do Lonely Planet, lembro de uma sala de aula cheia de crânios. Procure pelas crianças nas fotografias.

3)Atlas Obscura

Um coletânea de locais estranhos, bizarros, místicos, curiosos ao redor do planeta. Em inglês. Me parece que precisam de mais colaboradores...

Neste link, doze ossuários de todo mundo.


4)Eventos


a)CONTOS IMEDIATOS (Terracota)



Dia 28 de novembro, às 15 horas, Lançamento da antologia de contos de ficção científica Contos Imediatos.

Organizado pelo escritor Roberto de Sousa Causo, o livro apresenta um panorama da Ficção Cientifica nacional.

Com André Carneiro, Ademir Pascale, Ataíde Tartari, Chico Pascoal, João Batista Melo, Jorge Luiz Calife, Luiz Bras, Miguel Carqueija, Mustafá Ali Kanso, Sidemar V. de Castro, Tatiana Alves, Tibor Moricz.

Onde? Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, 509 (próximo ao metrô Brigadeiro). São Paulo.


b)MEU PAI SABE VOAR (FTD)




Dia 05 de dezembro, a partir das 15 Horas, lançamento de Marcelo Maluf e Daniela Pinotti.

Onde? Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, 509 (próximo ao Metrô Brigadeiro). São Paulo.

c)CARTAS do FIM do MUNDO




Dia 12 de dezembro: Cartas do Fim do Mundo. O livro reúne 13 "cartas" de autores novos e consagrados, cada uma dessas cartas escrita dia 31 de julho de 2013, brincando com a ideia do fim do mundo.

O livro reúne grandes nomes da Literatura nacional como: Os ganhadores do Jabuti Moacyr Scliar, Raimundo Carrero, Marcelino Freire, Márcio Souza e Menalton Braff. E mais os escritores Fausto Fawcett, Xico Sá, Luiz Bras, Luis Dill, Marne Lucio Guedes e Moacyr Godoy Moreira. E eu, Brontops, perdido no meio desta gente bamba.

Onde? Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, 509 (próximo ao Metrô Brigadeiro). São Paulo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Telegrama


Réquiem por Ruth Handler

Morreu ontem a mãe da Barbie,
a boneca adolescente. À semelhança de
Atena, Barbie saiu armada dum
cérebro, não divino, mas industrioso,
com a longa cabeleira e a azúlea mirada.

Morreu a mãe da Barbie, a filha
que nunca será órfã, pequeno duende
de sutiã 38 e de 33 polegadas
de altura. Trinta e três polegadas
multidesejantes de sonho
anatomicamente impossível.

Morreu a mãe da Barbie, que
faz balé, esqui, patins em linha e
todos os desportos radicais e tem
um namorado elegante que jamais
a trairá e amigos tão anatomicamente
imperfeitos como ela.

Morreu a mãe da Barbie, que vai
a todas as festas com muitos
vestidos de gala e enegreceu
há uns anos, qual Naomi Campbell, para
ser consumida pela boa
consciência racial do Ocidente.

Morreu a mãe da Barbie, que jamais
a viu, assim anatomicamente imutável,
padecer de uma gravidez adolescente.
A Barbie é sabida e deve ter tido educação
sexual. Que fará ela com o Ken
no regresso de tantas festas?

Nem paixão nem desgosto nem fome
ou uma boa sova dos adultos alteram
a sua fábula de plástico, muito menos
fabulosa do que a de Branca de Neve ou a
da Bela Adormecida, onde existiam
humanas bruxas, vencidas maldições
e príncipes que davam beijos para acordar.

Morreu a mãe da Barbie, cedo demais
para inventar uma Barbie de burka,
ou com explosivos escondidos no cinto. No
fim da vida continuava a vender milhões
de próteses mamárias, na seqüência da sua
própria mastectomia. Coisas sem brilho,
impossíveis de acontecer
à Barbie.

(poesia da portuguesa Inês Lourenço, graças ao livro Axis Mundi, de Nelson de Oliveira)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

nascedouro 5







1
Tenho duas filhas, com pouca diferença de idade entre si. Quando conto isto para as pessoas, elas geralmente respondem, E você não vai tentar um menino? Não gostaria de um casal certinho? Mas eu pergunto, Por que esta obsessão em ter um casal? Mesmo que eu tivesse um macho e outra fêmea, estas categorias não esgotariam as alternativas. Mesmo quem já tem um casal deveria tentar mais um: no mínimo, um hermafrodita. Me avisaram que os hermafroditas verdadeiros são raros. Em geral, um dos sexos é atrofiado. Se for assim, ampliam-se as opções: um macho, uma fêmea, um hermafrodita macho, outro fêmea e mais um, o/a verdadeiro/a hermafrodita. Tenho dúvidas se encerrariam aí as alternativas relacionadas ao sexo, mas as deixarei de lado para me concentrar nas outras. Por exemplo, preciso considerar aquelas referentes à raça. Pois eu deveria ter um filho para cada cor: branca, negra, amarela. Um índio. Tupi, guarani ou apache. Tão pouco. Parece inexistir uma palheta adequada para que todas as cores de pele: sardas, café-com-leite, canela ou nanquim. E as cores de cabelos? Continuo tentando uma ruiva. Cabelos lisos ou cacheados. Cristão, judeu, muçulmano, hindu, budista, animista, agnóstico. Ateu. Quero alguns peludos e outros pelados, conforme a síndrome genética adequada. Um pequeno lobisomem irmão de uma menina com cílios ausentes.


.

2
Não sei se um dia poderei parar de ter filhos e esposas. Até precisei derrubar a mangueira e vendi o cachorro para construir um puxadinho onde era o quintal. Saudade do João de Barro. Poupei o ninho, deixei sua casa apoiada sobre o muro para depois colocá-la sobre um dos postes de energia. Mas alguém a destruiu com uma estilingada. A temporada de mangas fará falta. A geladeira sempre vazia e estas frutas quebravam um galho. A fome os deixa inquietos. Sempre há muitos gritos e brigas entre eles, mas já mandei parar de se matarem, senão fico obrigado a repor quem estiver faltando. Na hora de dormir, as crianças se espalham por todas as camas, beliches, berços, redes, mesas, sofás, poltronas e colchonetes. Passo pelos quartos apagando as luzes, a maioria me chama de homem que apaga as luzes. Muitos só me veem nesta hora. Outros me chamam de distribuidor de chupetas. Convenço a minhas esposas grávidas que amanhã será um dia melhor. O mais chato é esquecer dos nomes e dos aniversários das crianças. É difícil acompanhar suas notas e as viagens à Praia Grande são sempre um inferno. Mas tudo bem: não se pode querer tudo.


.


















(...)

Achados





Ultimamente não ando com muita paciência pra escrever pro blogue. Não estranhem se eu rarear as postagens.

Segue o que ando encontrando poraí:

a) Draw in black

Segue uma ideia que tentei manter, mas não consegui ser tão disciplinado assim: usar apenas imagens em preto e branco. O autor também não é tão rígido assim, mas...


b) Snublic


No Draw in black, descobri este cara que desenha compulsivamente paisagens sujas com milhões de detalhezinhos, como uma espécie de "Onde-está-Wally-punk?"

Dá pra ver que o enforque crítico-político-fanzineiro em Juarez (na fronteira do México-EUA) ou na Torre de Babel.

c) Books by its cover


O nome do site é uma referência àquele provérbio sobre "Julgar um livro pela capa": sobre livros de arte. Este site é bonito.

d)
Péssima ideia para uma capa:




Mas existem alguns outros, mais engraçados, que se baseiam no conceito do provérbio. Mas a ideia é buscar livros com títulos estapafúrdios, tipo "Como fazer cocô no mato" ou a "A Arte Zen do Peido".

Tem um AQUI (Judge a book) e outro AQUI (Bookfail).


(Você leria este no ônibus?)





e) Caustic cover critic

Sobre design de livros. Este post fala da "cara" dos livros de Patricia Highsmith (1921-1995: escritora de grandes livros policiais e autora por trás do "Talentoso Sr. Ripley") e nele descobri que uma foto nua da autora (!). Acho que por influência da Agatha Christie sempre pensei nela como uma senhora. O autor do blogue sugeriu este outro também, o Book Covers Anonymous.

f) Tatuagens literárias


Este blogue se especializou em tatuagens literárias. Em inglês. "And so it goes" = "Coisas da vida" em Matadouro 5, de Kurt Vonnegut

sábado, 31 de outubro de 2009

Achados


a) Sibling Rivalry (Love Bites)
por Jenny Kendler, "enviromental artist". Gostei.





A proposta deste blogue é apresentar e relembrar artistas esquecidos ou colocados de lado pelo "mainstream". O foco principal recai sobre artistas do século XIX e XX, e - provavelmente - sob um ponto de vista norte americano/europeu ou (no mínimo) googliano. Brasileiro lá encontrei o Di Cavalcanti. Dentre os que mais me chamaram a atenção, estão:

Joachim Beuckelaer (c.1534-c.1574)


Os luares de John AtkinsonGrimshaw (1836-1893)



Ernest Bieler (1863-1948)


E etc: a lista dos dez maiores/melhores "desconhecidos" segundo o autor do blogue está AQUI.


c)Wurzeltod: Taxidermia



O site desta garota relaciona uma série de "obras" de taxidermia que transformam animais mortos em peças de "arte".

Observe móveis-animais do século XIX, como a cadeira-bebê-elefante... Quem quiser, que veja AQUI, continuando ALI.

Já neste outro link, são mostrados vários (como direi...?) "cenários" de casa de bonecas, repleto de pequenos bichos empalhandos. Em um deles, por exemplo, feito por volta de 1870, dezenas de lindos gatinhos divertem-se ao ar livre, outros tomam chá em um jardim... Todos empalhados.

Não gostei nada.

Aqui em São Paulo, houve uma "moda" semelhante: usavam-se formigas saúvas para montar presépios e pequenos bonecos. Relembre aqui.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

fábula dos Lobos







O fogo na lareira se acendeu em um fulgor alaranjado quando a pequena pilha vermelha de roupas infantis alimentou seu corpo impalpável. A menina nua subiu na cama rangente da parenta e deitou-se sob a coberta puída da velha para escutar a voz esganiçada narrar:

-Quando a primeira Chapeuzinho caiu naquele túnel estreito e carmim dentro da boca do Lobo ela tentou se agarrar nas reentrâncias dos tecidos que recobrem o poço vertical até o estômago, mas foi tudo em vão, ela caiu, caiu, e teria se dissolvido no ácido daquele lago se não fosse um outro menino devorado anteriormente. Ele fizera uma jangada com ossos não digeridos, pedaços roídos do couro de botas velhas, os pregos destas solas, dentes de ouro, a madeira das próteses, o conteúdo de bolsas amarradas junto ao corpo ou enfiadas no rabo dos viajantes covardes que temiam mais os ladrões que os Lobos. De tudo isto fez uma embarcação com a qual salvou Chapeuzinho. Ele a levou para um promontório onde outros sobreviventes se reuniam em uma favela miserável, iluminada pelos gases intestinais recolhidos por lanternas espetadas em varas pelo chão. Eram muitos e eram homens e mulheres e sobreviviam como parasitas daquilo engolido pelo Lobo que nunca alcançava satisfação, as costelas aparentes sob a pele e o pelo. O tempo passou e eles ali construíram uma cidade sobre palafitas de material indigesto, com enormes redes tecidas de fios de cabelo com os quais colhiam a chuva de gente e carne mastigada cadentes do olho negro daquele céu escuro. Assim recebemos as sementes e plantávamos árvores e pomares que aprenderam a crescer na treva, as raízes acostumaram-se a beber dos sucos gástricos e do sangue, os frutos fosforesciam para atrair os pirilampos polinizadores. Ali os primeiros habitantes envelheceram para antes de morrer, terem filhos, e seus filhos tiveram outros filhos, até chegarmos a nós duas, eu e você neste quarto no meio deste bosque. Saiba, minha neta querida e apetitosa, dizem que um dia virá um caçador, ele romperá com seu machado a derme e a carne deste monstro que nos rodeia e veremos um cometa rasgar o céu desta noite, trazendo uma luz tão forte que nos cegará e neste dia sairemos da barriga de nosso hospedeiro velho e quase morto e saberemos então o que é o frescor e o que é o frio. Neste dia finalmente seremos livres para procurar um novo Lobo para viver.










(editado em 31.10, para "limpeza"...)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Onirogrito




Vivendo em vísceras



Não sei quem criou a primeira cidade dentro de um organismo. O Mestre Jonas de Zé Rodrix se recusa a sair da Baleia, mas sei de um episódio de “Viagem no Fundo do Mar”, onde um batiscafo tripulado pelo Almirante Nelson e uma cientista russa é engolido por uma baleia. Li um pequeno conto dos innuite (vulgo esquimós) que narra as descenturas das duas esposas de um marido violento que se fogem dele e se escondem nos restos putrefatos e fétidos de uma enorme baleia. Moral da história: melhor uma baleia podre e fedida do que um mau marido. No quase-subversivo desenho das Aventuras de FlapJack, o protagonista mora dentro de uma baleia bem maternal, chamada Bolha. Lembro-me que em uma das viagens de Sindbad ele chega a uma ilha que na verdade é uma monstruosa tartaruga, ideia que foi reaproveitada depois na primeira história em quadrinhos dos novos X-Men, no qual toda uma ilha bombardeada por testes atômicos adquire uma única consciência mutante. Mas nem Sindbad nem os X-Men foram engolidos como aconteceu com Jonas e com Pinóquio; talvez se aproximem mais do conceito por trás do game Shadow of Colossus no qual um guerreiro precisa enfrentar Gigantes pendurando-se e escalando seu corpo (nunca joguei, só li a respeito). Algo semelhante a um quadrinho do Quarteto Fantástico onde a equipe chega a um Planeta Vivo onde enfrenta milhares de criaturas que Reed Richards identificou como anticorpos. Talvez estas histórias sejam reflexos das incomensuráveis criaturas da cosmologia primitiva na qual o mundo era chato, boiando em um pires, carregado por criaturas monstruosas cada vez mais desmesuradas, como era o caso por exemplo de um Bahamut. Em outras histórias, as pessoas é que se apequenam: em Viagem Fantástica um submarino é injetado no organismo de um diplomata que sofreu um atentado, a ideia é tentar remover o coágulo formado em seu cérebro. Lembro da cena dos escafandristas na lágrima. Deste filme derivou o mais recente e abobalhado Viagem Insólita, com Meg Ryan e Dennis Quaid. Mais insano foi o episódio de South Park no qual um camundongo introduzido no ânus de um pervertido realiza uma jornada épica pelas tripas do homem.

Tudo isto ainda não é o mundo dentro do monstro. Como diria Neil Gaiman em seu conto "Golias", criado para o site do filme Matrix: "Um sonho dentro de um pesadelo". Recentemente, houve um filme que misturava atores de carne e osso com animação chamado Osmosis Jones : este explora a ideia de uma cidade numa célula, ameaçada por vírus e bactérias. Virou desenho animado no cartoon network. A verdade é que me recordo mais da série de desenho animado do que do filme. Sei de um gibi chamado Gutsville (“Cidade-tripa”? ), ainda não publicado no Brasil, mas que parte da ideia de uma cidade nas entranhas de alguma criatura enorme. Mas o primeiro lugar em li a respeito de uma cidade surgir dentro de uma criatura foi através do conto de Moacir Scliar, “As Ursas”, que usa uma passagem da Bíblia como base, mas que, segundo me disseram, teria sido inspirado em um outro, mais antigo, que não li e não sei o nome, de Maupassant.

Quando adolescente escrevi um quadrinho com a história de um duende que era apaixonado por uma princesa, e que só podia encontrá-la em seus sonhos. Para isto, ele invadia sua boca todas as noites. Nunca terminei e nem sei onde foi parar este caderno. E também não havia cidade alguma dentro dos sonhos daquela menina. E nunca houve nos meus.



(a foto acima foi a vencedora do Prêmio Veolia de Fotografia da Vida Selvagem: trata-se de um salto de um raro lobo ibérico flagrado por uma máquina de disparo automático na Espanha. Descobri pelo Neatorama. Clique na imagem para ir ao site e vê-la com melhor definição)

domingo, 18 de outubro de 2009

Achados



(Hooligans 4, 2002, pintura de Nicola Verlato, italiano de Verona
que vive em Nova Iorque. Outros quadros aqui. Localizado graças ao Ideiafixa)


a)Polícia para quem precisa de polícia

O site "English Russia" traz notícias estranhas, curiosidades, bizarrices destes que foram os "inimigos do Mundo Livre". (Pra ser sincero, sinto falta de algo semelhante sobre o Brasil). Quem gosta muito dele é o Warren Ellis, que volta e meia posta algum comentário sobre algo publicado lá.

Este post é um teste com certa dose de humor negro sobre manchetes sobre violência policial no noticiário da Rússia. São 20 manchetes e você precisa descobrir qual é verdadeira e qual é falsa. Se você achou a polícia em Tropa de Elite um tanto quanto truculenta vai adorar saber até onde podem chegar os heróicos defensores da justiça e da sociedade de lá.

Basta saber que a maioria das manchetes é verdadeira. Não vou traduzir tudo (sou preguiçoso demais pra fazer isto direito), mas segue uma "palhinha":

4.Um delegado amputou a mão de seu assistente; 11.Um policial mordeu e arrancou o nariz de um barman; 12.Um policial bêbado arrancou a cabeça de um jovem por 60 rublos; 14.Um policial jogou um homem de negócios pela janela do quarto andar durante interrogatório.


b)Papo de homem

Bom site para estes nossos tempos frouxos. Seguem algumas postagens interessantes: 15 flagras na hora "H"; a nova geração de homens mimados; lendas urbanas (ou não) sobre casos de empalamento.

c)Papo de homem 2

A revista Trip deste mês (nº182) traz em sua entrevista das Páginas Negras dois homens de trajetórias violentas: Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE, um dos homens por trás do livro Elite da Tropa que originou o filme Tropa de Elite; Luís Mendes, ex-presidiário, 31 anos de prisão, escritor dos livros Memórias de um Sobrevivente, Às cegas, Tesão e prazer. Vale muito ler.


d)Terry Rodgers

Graças a mesma Trip descobri o site deste pintor. Pelas datas das obras disponíveis em seu site, dá para notar que Terry Rodgers se dedica a algum tempo a estas pinturas, enormes quadros de "orgias"... Veja o que ele diz a respeito de seu próprio trabalho, AQUI. Abaixo The Dimensions of Ambiguity (2005).




(Entre o Verlato e o Rodgers, sou mais o Verlato. Mas não me perguntem o motivo.)

e) EVENTOS

e.1) 23 e 24 de outubro

A convivência do escritor Nelson de Oliveira (Ódio Sustenido, A Maldição do Macho, Subsolo Infinito, Os Saltitantes Seres da Lua, etc) com alguns poetas portugueses contemporâneos deu origem a um livro, “Axis Mundi - O Jogo de Forças na Lírica Portuguesa Contemporânea”, que será lançado em duas datas neste final de semana:

Dia 23 de outubro, sexta-feira
Às 19h
Na Livraria da Vila da alameda Lorena
Al. Lorena, 1731

&

Dia 24 de outubro, sábado
Livraria Pantemporâneo
Às 15h
Av. Nove de Julho, 3653

Mais detalhes, aqui


e.2)
Dia 31 de Outubro, às 15 horas:
Livraria Martins Fontes
Av. Paulista, 509
Próximo ao Metrô Brigadeiro

Lançamento do livro Galeria do Sobrenatural - Jornadas além da imaginação.


Organizado por Silvio Alexandre, é uma homenagem aos 50 anos do seriado de TV Twilight Zone (Além da Imaginação no Brasil) e reúne 18 narrativas inspiradas no clima do seriado.


No dia do lançamento, haverá uma conversa com Fernanda Furquim e a projeção do primeiro episódio, o piloto de 1959.

Os autores são: Andréa Del Fuego, Braulio Tavares, Cavani Rosas, Claudio Brites, Cláudio Villa, Danny Marks, Fábio Fernandes, Giulia Moon, Jana Lauxen, Lucio Manfredi, Luis Filipe Silva, Márcia Olivieri, Mario Carneiro Jr, Max Mallmann, Miguel Carqueija, Octávio Aragão, Regina Drummond, Shirley Souza e Tatiana Alves.





quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Telegrama


E quando acordou, a baleia ainda estava lá



Mestre Jonas
(Zé Rodrix)


Dentro da baleia mora mestre Jonas,
Desde que completou a maior idade,
A baleia é sua casa, sua cidade,
Dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho.
E ele diz que se chama Jonas,
E ele diz que é um santo homem,
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria,
E ele diz que está comprometido,
E ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia,
Até o fim da vida,
Até o fim da vida.
Dentro da baleia a vida é tão mais fácil,
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas.
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora,
A baleia é mais segura que um grande navio.
E ele diz que se chama Jonas,
E ele diz que é um santo homem,
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria,
E ele diz que está comprometido,
E ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia,
Até o fim da vida,
Até o fim da vida,
Até subir pro céu.

sábado, 10 de outubro de 2009

Zerografia





Mister Mário Miranda Wong Quintana


Não era difícil ver aquele senhor nesta mesma praça alimentando aos pombos. Ele acompanhou a colocação de grades, portões e interfones sob as marquises onde anteriormente se amontoavam os sem-teto. Percebeu a troca dos bancos da praça por novos, ergonomicamente voltados a colocação de bundas e totalmente desaconselháveis a quem tentasse tirar uma soneca ali. O senhor Mário escreveu um poema criticando e denunciando o desprezo da sociedade por aquelas pessoas e o enviou aos jornais. Amarrou a mensagem na perna de seu pássaro favorito e o soltou pela janela. Apesar da assinatura graciosa de Miranda Passarinho, o responsável pelo envio da mensagem era Wong, uma de suas cinco personalidades identificadas e diagnosticadas posteriormente pelo renomado psiquiatra e militar da reserva Capitão Rodrigo Terra. Internaram aquele senhor no Instituto Psiquiátrico Forense para observação, e pararam de aparecer pombos mortos. Como nada é perfeito, também ressurgiram os mendigos na praça. Dormiam sentados, confortáveis em seu desconforto. Talvez nunca mais ouvíssemos falar dele, não fosse outra de suas personalidades, o paranóico fumante piromaníaco Quintana Boleadeira. Ao fugir de sua cela, deixou fogo ateado nos colchões provocando o incêndio do edifício. Após uma noite de mortes, feridos e da maior fuga em massa de psicopatas e maníacos homicidas da história de Porto Alegre, a brigada militar e os bombeiros conseguiram controlar as chamas. Em meio aos populares que testemunhavam as operações de rescaldo, um ou dois internos hesitavam em voar para mais longe. Uma enorme coluna preta subia ao céu claro de inverno. Talvez pelo frio, um lamentou a demolição de sua antiga moradia. O outro acompanhava a fumaça que lembrava uma lava leve no ar e murmurou encantado por aquela manhã “As únicas coisas eternas são as nuvens.”

















(...)

Onirogrito




28/09/2009


Em determinado momento, depois de deixá-la na portaria de seu edifício, percebi a escuridão na qual me encontrava. Dirigia com os faróis apagados, um breu me rodeava feito venda, aqui e ali distinguia uma esquina, um poste, um cruzamento, uma porta fechada, um corpo na calçada. Não acendi o farol, talvez já estivesse funcionando, mas aquela noite não se rendia por qualquer coisa. Os outros poucos veículos prosseguiam devagar, mas sem parar em local nenhum pelo perigo de assaltos nas quebradas. Eram navios amaldiçoados, submarinos imersos em um meio viscoso, vagueando sem aportar.

Mas logo vi que não era madrugada, a escuridão era só ali, naquela baixada, a cidade rebentava sob um sol peçonha de holofote, os raios brancos na cabeça flechando a pele, uma luz nuclear sobre as paredes mudas dos edifícios sem janelas, o calor de doença, ar ressecado, inflamação na pedra, as avenidas desertas, o brilho túmido do horizonte, parece que sofro de catarata; tudo compensava o nicho úmido da baixada do Glicério. Despertei, os olhos cheios de grãos, ausência de lágrimas.









(No dicionário, definição para glicério: medicamento que usa glicerina como umectante. Clique na imagem para a fonte)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

pequena história inverossímil de esperança




O homem sem dois dedos da mão direita ultrapassou a catraca. Desceu as escadas rolantes. Conferiu a diferença entre o relógio de pulso e o da plataforma. Afastou-se da linha amarela de segurança. Cedo ainda. Encostado na parede, entre um mapa de localização e um poster de publicidade, observou o movimento. Urro da composição ao sair do túnel e chegar na estação. Os trens cobertos por uma purpurina de gotas de chuva. Passageiros saíam e esbarravam naqueles que pretendiam entrar, empunhando guarda-chuvas. Um sinal sonoro e a porta se fechava, automaticamente. Uma pessoa correu, mas não conseguiu alcançar a tempo. Frustrado, rumou para um lado mais vazio da plataforma. Acidentalmente, encarou aquele que aguardava a hora exata.





Este se moveu, caminhando lentamente até o diagrama das linhas e estações do metrô e suas conexões com o sistema de trens metropolitanos e de ônibus intermunicipais. Colocou o indicador numa das várias linhas coloridas. Depois que o trem seguinte partiu, o homem prosseguiu seu passeio pela plataforma. Um pilar cruzava os vários níveis da estação. Atrás da coluna, ocultas na sombra de concreto, duas adolescentes se beijavam em namoro, mochilas nos pés. Não eram bonitas, nem particularmente interessantes. Ninguém as notava. Apenas o homem sem os dois dedos da mão direita. Antes que percebessem sua presença, ele caminhou novamente em direção a linha amarela e ao precipício dos trilhos.




Conferiu a hora no pulso. Decidiu pegar o próximo. Um papel voou com a vinda do trem. Havia um número pintado na lateral. Ele memorizou para mais tarde, para o telefonema. Entrou, sentou-se em uma das extremidades do interior do vagão, os bancos disponíveis rareando. Ao seu lado, um rapaz distraía-se com o próprio reflexo na janela, isolado em seu fone de ouvido. O som do aparelho escapava nervosamente dos ouvidos, os próprios pensamentos abafados. As meninas entraram no mesmo vagão, mas por uma outra porta. Mãos dadas como irmãs, caminharam pelo corredor até ficarem em pé, por acaso próximas a ele. O homem fixou o olhar em um ponto neutro, o piso preto emborrachado.





Mas depois as paradas do percurso lotavam cada vez mais o trem de passageiros sonolentos e mal-humorados. O clima chuvoso favorecia uma moda de capas e jaquetas em tom cinzento, as pessoas precisavam se camuflar na paisagem. O interior do vagão foi coberto pela penumbra, uma mata fechada de corpos humanos em pé. As meninas acuadas em um ponto privilegiado para a discreta vigilância do homem em cuja mão direita faltavam o dedo mínimo e o anular. Agora, escondidas e ao mesmo tempo expostas, evitavam o abraço.
Mas continuava evidente. Ao menos para ele, os demais passageiros as ignoravam, como ignorariam a todos. Cegos uns para os outros. Elas procuravam-se uma no olhar da outra, mas sem coragem de se encarar e terminarem cegas também, mas para o mundo. Elas se tocavam e conversavam, palavras perdidas na floresta de adultos escutando músicas em mp3 ou trocando torpedos ou jogando tetris, e elas, as mãos como cílios e borboletas, as pontas dos dedos de unhas curtas teclando uma a outra, anéis e pulseiras, dedilhando camas de gato, canções invisíveis e sorrisos tímidos. O homem conferiu a hora, preocupado.


Ele deveria descer na estação imediatamente anterior a da Praça General Vargas, aquela de maior movimento. O homem precisaria romper a barreira de pessoas e se antecipar para sair no intervalo em que as portas ficariam abertas. Elas ignoraram os anúncios por parte do condutor da composição. Sabendo que isto contrariava a diretriz, o homem de oito dedos prosseguiu, sem descer onde deveria. O rapaz a seu lado ouvia Bach, o terceiro concerto de Brandenburgo. Na General Vargas, boa parte dos passageiros saiu do trem, as meninas desceram em meio ao estouro para desaparecer. Ele nunca mais as veria. O homem acompanhou a multidão, encarava o piso e os calçados das pessoas, esqueceu-se do rapaz de fones no ouvido, este continuou a viagem, ele e próprio reflexo, o guarda-chuva abandonado sutilmente sob o banco, timer ativado. Quando o homem ultrapassou a catraca, escutaram aquela trovoada incomum. Todas as demais ocorreram no horário e local previsto. Mas esta explosão ocorreu no túnel entre uma estação e outra, estragando a coreografia planejada para aquela manhã.















(...)

Achados




Modelinho básico: Escafandro francês de 1882, exposto no Museu da Marinha Francesa. Achei no Neatorama.

a)Farrazine 13

Legião, de Ricardo Andrade e Snuckbinks, uma história em quadrinhos noir. O penúltimo capítulo de Albaria, de Wilton Pacheco, mais uma entrevista com o autor. Um artigo sobre o Festival de Censura que assola o país. Seção Por Onde Anda?, HQ’s Bíblicas e Infilmáveis, Baú do Batman. Um festival de contos: Star Warghs, Trave na Treva, As Noites do Bar do Limbo, 37 Dias.
E mais coisas como Dito ou Mal-Dito (seção nova), Toca Raul (homenagem ao Raulzito), Blues, Nostalgia, Uma Sombra Viva.


Escrevi o conto "Trave na treva no campo de trevos"... Para ler, baixe pelo link:

http://www.4shared.com/file/134317356/92f1b2d/FARRAZINE__13.html



b)Sete de Outubro, às 19 horas.

Lançamento do livro "Rapsódias, primeiras histórias breves", de Rodrigo Novaes de Almeida, que participou comigo do Portal Stalker. Será na Editora Multifoco, Av. Mem de Sá, 126, na Lapa, Rio de Janeiro.

c)Um link para quem gosta de astronomia, astronautas e notícias fora de órbita:

Space: http://www.space.com/

d)Mais do Neatorama. É um blogue que recebe colaboração de dezenas de outros blogueiros... Todos os links abaixo em inglês.

Coelhos matando cobras

Sete espécies bizarras de animais de criação

(Na lista descolada pelo Neatorama faltou o Jacobino, um pombo de capuz muito esquisito... Achei umas fotos deste e de outras espécies bem estranhas de pombos AQUI, no Bukisa)




e)E mais um blogues/links interessante pra guardar:

Dinosaurs and robots : sobre objetos incomuns

"Rather than focus on the newest trend, we will seek authentic, handy, rarefied, disgusting, illuminating, delicious, mysterious, intoxicating, commonplace, historic, intensely personal, entertaining and enlightened objects, both priceless heirlooms and exquisite trash. "

Xplanes (via Warren Ellis) : sobre aeroplanos e máquinas voadoras incomuns.

"experimental aircraft. exotic aeromachines. oddities. sleek silver cigars. pedal-o-trons. soviet hive-mind bombers. aerial joy. the olden days. action shots. propaganda posters. etc "

Prensada (em português), da Patrícia.

http://prensada.blogspot.com/

domingo, 20 de setembro de 2009

Telegrama

...








Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo







...

Achados



Gabrielle d'Estrées e uma de suas irmãs
1595
Musée du Louvre, Paris



a)Pipoquinha

Conhecia o quadro acima de uma história do Giuseppe Bergman, personagem criado pelo Milo Manara. Mas sempre o achei mais estranho do que propriamente erótico, por se tratarem de duas irmãs e pelo gesto parecer mais o de quem pega uma pipoca do que um mamilo. Agora a Beluga (cujo "O Belogue" acabou de fazer quatro anos) esclareceu minhas dúvidas. CLIQUE.



b)As dez árvores mais espetaculares do mundo.

Vá primeiro ao (grande) Bráulio Tavares no Mundo Fantasmo para entender e depois ao link do Neatorama. Existe também uma lista de árvores famosas no wikipedia, onde não consta um único "pé de laranja-lima" sul-americano. Deveria - no mínimo, é a primeira que me ocorre - haver a árvore sob a qual Funes, o Memorioso, passou seus últimos dias... Ou então o Maior Cajueiro do Mundo do Rio Grande do Norte... Ou alguma mangueira, araucária, jaqueira, seringueira, andiroba, jequitibá, as árvores citadas em Bem Leve da Marisa Monte, sei lá...

Chamem a Regina Casé do Pé de quê!!!

c)Kafka faz bem à saúde


Leitura do absurdo estimula habilidades mentais

"
Travis Proulx [Univ. da Califórnia, Santa Bárbara] e Steven Heine [Univ. da British Columbia], psicólogos, descobriram que a nossa habilidade de encontrar semelhanças e sentido é estimulada quando nos absorvemos na literatura do absurdo. E mais interessante ainda: habilitando-se essa capacidade, ela reaparece aprimorada para resolver outras tarefas ou problemas fora do campo da leitura." (Continua...)

fonte: Peregrina Cultural, da Ladyce West


d)A literatura e as escalas de grandeza

"Tera é uma adaptação originária do grego tetra-, que, como sabemos desde 1994, é um prefixo que significa "quatro", como em "tetracampeão", "tetraciclina" ou "tetralegal". Tera é um multiplicador, por exemplo, um teragrama equivale a um trilhão de gramas. (Não confundir com "tetragrama", que significa uma palavra com quatro letras.) Donde podemos concluir que um teraconto são um trilhão de contos." (Continua...)


A fonte do texto é o blogue Prosa Caótica e já é um texto meio antigo (mas eu gostei)...

Mas eu encontrei neste outro blogue que só copia textos de outros blogues.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Onirogrito


(Compress, de Alyssa Monks)


tatuíra

Éramos muitos. Muraram aquela praia com calçadões e quiosques, mas naquele tempo as castanheiras reinavam. Ficamos naquele mar até cansar. Buracos de tatuíras na beira. Chamam hoje de corruptos. Culpa do Jô. Meu pai dizia que se estes crustáceos estivessem na areia molhada, a água seria limpa. Hoje os banhistas os retiram para guardar em baldes. Comemos por lá qualquer coisa. Talvez até farofa. Não queríamos voltar, desejávamos algo diferente. Um de nós sugeriu o poço. Um lugar onde as crianças caiçaras represaram um pedaço de um ribeirão não muito profundo até formar uma piscina ideal para mergulhos. Fomos para lá. Murmúrio de rio não é chiado de mar. Uma tromba d´água derrubara o dique dos meninos. Mas ainda era bom para nadar. Os homens foram brincar. As crianças estavam livres. Quem quisesse nadar que fosse. Outros tempos. Eu tive medo. No mar só ia onde dava pé, embora soubesse nadar. Era ruim de pisar naqueles seixos. A água fria. Fiquei sobre uma pedra maior. Era cinza muito clara, quase branca, uma pedra calma. Fiquei de córcoras, o sol batia ali. Contorno das árvores e nuvens. Sol. Quando olhei para o lado, dentro do rio estava meu primo de três quatro cinco anos rindo para mim. A cabeça fora d´água, o corpo naquele meio transparente, os pés batendo a esmo sobre um verde profundo. Ele estava a meu alcance. Poderia ter esticado o braço. Não fiz nada, não era muito mais velho. Acho que tive medo de ajudar e me afogar. Hoje ainda é assim. Com você também é. Mas ele afundou uma vez. Eu gritei. Atualmente, recorro à montanha russa ou ao trem fantasma. Entendo a vergonha de quem fica preso no elevador durante dias sem berrar por ajuda. Mas inventaram os interfones. Não sei se gritei algo compreensível, talvez o nome do meu primo. Os homens vieram nadando, ele foi levado na correnteza. Como folha correndo na calha. Lembro de continuar gritando, lembro de meu tio salvar meu primo. Choro, choros. Na outra margem, viraram-no de cabeça para baixo. É assim que se desafoga uma criança. Éramos muitos: deixamos a bola para o outro defender e acabou passando por todos. Assim, ninguém acusou ninguém. Nunca contaram nada para a mãe do menino. Ninguém sabe se ele sabe disso. Ou se ele se lembra. Sem traumas ou sofrimento. Ninguém morreu. Dizem que o rio secou ou envenenou. Derrubaram aquelas árvores. A pedra calma virou pedregulho.

por que não fiz nada?












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