sexta-feira, 31 de julho de 2009

Achados


(clique na imagem para uma figura maior, fonte e explicações mais detalhadas)



a)O que estará passando na Terra hoje?

O blog strange maps (em inglês) provavelmente é um dos melhores da Internet. É só dar uma olhadela geral e você confirmará a qualidade. Veja, por exemplo, o mapa "Portugal não é pequeno".

Lá encontrei esta imagem: se existirem extraterrestres monitorando nossos sinais de televisão, o que eles estarão assistindo. Cada círculo indica uma distância de 5 anos-luz.

Não deve ser difícil alguém bolar um da TV brasileira... As proezas de Pelé e cia na Copa de 70 e a novela Gabriela Cravo e Canela devem estar em algum lugar entre Póllux e Zeta Reticulli. Em algum lugar destes teriam os alienígenas se espantado ao descobrir a axila de pêlos delicadamente encaracolados de Sônia Braga?

b)Farrazine 12

Uma entrevista inédita, exclusiva, com Maurício de Souza, pai da Mônica e também do Cebolinha, do Cascão, do Astronauta, do Horácio... ??!? Esta é bom você dar uma olhada...
Outra entrevista, desta vez com o argentino Eduardo Risso. Resenhas críticas de todas as aparições do Justiceiro nos cinemas. Batman septuagenário. E muito mais.

Links para download: aqui e aqui. No issuu, é aqui.

c) Fotografias antigas

http://www.squareamerica.com/blog/
Veja os detalhes da foto do eclipse.



http://anonymousworks.blogspot.com/
Outro blog incrível com imagens anônimas e de desconhecidos.

http://mourningphotography.com/
Se você assistiu a´Os Outros, sabe do que se trata este site. Reúne uma coleção de fotografias de velório, um costume antigo que só não está tão morto quanto estas pessoas, porque às vezes alguém de péssimo gosto resolve relembrar este costume e colocar sob uma manchete do tipo "Morto com 20 tiros na baixada" ou coisa parecida.

Estou sendo irônico (¿preciso explicar?).

Naquele tempo, tirar fotografia não era este exercício banal, leviano e desvalorizado que hoje praticamos em nossos celulares. Provavelmente também não era barato. Uma das maneiras de se guardar uma última lembrança de um parente. Reza uma lenda familiar que o único registro de uma tataravó era uma destas fotografias. Mas, certa vez, meu bisavô pediu um empréstimo ao irmão que estava se dando melhor na vida. Este teria respondido que não iria fazer empréstimo, uma vez que o outro não tinha condições de pagar. Enraivecido pela humilhação, meu bisavô rasgou em pedaços de confetes esta foto da própria mãe.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Portal Stalker



Portal Stalker
chegou: alienígenas ontem curupira homenzinho caixão vazio Ariel trans-humana alienígenas três irmãos Liberdade árvore seca Eral útero tera Halo fim do mundo Lígia Coletivo dos Anjos singularidade nua LDL Bono Vox esquizóide aracnídeo bicicleta pulso eletromagnético

terça-feira, 28 de julho de 2009

Telegrama


(Jaime Hernandez, em Love and Rockets, o quadrinho, não a banda. Pois é, existiu uma banda)


Música hoje (ou amanhã)

"Uma vez Lo me contou uma história sobre um emprego que teve. Ele trabalhava para um vendedor ambulante de sopa em Hong Kong, num carrinho que ficava na calçada. Contou-me que o vendedor trabalhava ali há mais de cinquenta anos, e o segredo era que eles nunca haviam limpado o caldeirão. Na verdade, nunca haviam parado de cozinhar a sopa. Estavam vendendo a mesma sopa de frutos do mar há cinquenta anos, mas não era sempre a mesma, porque acrescentavam ingredientes novos todos os dias, dependendo do que estava disponível. Ele disse que era assim que ele via a carreira dele como músico, e era do que ele gostava nela."

Idoru, de William Gibson (1996)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

telegrama


(Grafite por Crespo)

não vou morrer

(letra e samba de Germano Mathias)



todo mundo morre só eu não vou morrer
vou ficar para semente
cá no meu modo de ver

todo mundo morre só eu não vou morrer

vou ficar para semente
plantada no seu jardim
só pra ver você, meu bem
jogar água em cima de mim

se você não me regar
a chuva irá me regando
e florescendo
numa linda planta eu irei me tornando

todo mundo morre só eu não vou morrer

(extraído do livro Sambexplícito, de Caio Silveira Ramos)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

dez dedos


(Grafite por Nunca)



Luís pediu Marisa em namoro. Ela recusou: explicou que se apaixonara pelo menino que sentava à sua frente no banco da igreja, durante as missas de domingo. Luís quis saber quem era o adversário. Descobriu: Inácio, filho do carroceiro. O rapaz perdera um dos dedos devido à dentada do Ernandez, um pangaré de costelas aparentes e cheio de berne que ajudava no sustento da família. Luís pediu ao irmão, empregado no açougue, que lhe cortasse o dedo em um golpe de cutelo. O irmão assentiu, ele já fora vítima das mesmas paixões da idade. Luís voltou a falar com Marisa e ela recusou pela segunda vez. Explicou: Inácio fora salvar uma vira-lata e seus filhotes do ataque de um pit bull pertencente ao capitão Ernesto. Os dentes do cão arrebentaram sua perna de um jeito que os médicos a amputaram. Luís chorou, mas não desistiu. Saltou o muro cheio de cacos de vidro do capitão Ernesto pronto para o sacrifício. O cão veio e lhe estraçalhou um braço e uma perna. As pessoas na cidade o apelidaram de Pirata. Foi bater à casa de Marisa. Ela estava de luto, véu e mantilha preta. Parecia uma velha. Antes de pedí-la em namoro, Luís perguntou sobre Inácio. Ela apontou para a urna sobre a mesa da sala e então contou-lhe:
Inácio se prontificou a resgatar o gato da dona Brasilina. O bichano subira numa das árvores da praça do coreto e não conseguia mais descer. Um toró se achegava. Quando estava para salvar, um raio caiu e incinerou Inácio. Restaram cinzas. Luís resignou-se: pegou um vidro de álcool e se imolou ali mesmo na sala de Marisa, derretendo parte da mobília. Depois de queimar tudo e antes dos pais chegarem, ela varreu as cinzas, misturou bem com as de Inácio, espalhou na cama como se fossem pétalas e deitou nua sobre o lençol vermelho, ela e todos seus dez dedos das mãos.








*
(Desenvolvido originalmente para o Encaixe-se - tema corpo)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Telegrama

almodoVALADÃO





Falou com ela.
Não deu para responder. Mas deu para dar.










*

Achados





a)Sheela na Gig

Para vaginas gigantes na parede das catedrais, veja post sobre história da arte no Belogue.

b)R.Sikoryak

Há algum tempo, postei uma história de R.Sikoryak sobre Kafka/C.Brown sem imaginar que existisse uma análise crítica de seu trabalho, bem feita e em português: aqui. Pra quem não se lembra, Sikoryak desenvolve paródias literárias usando quadrinhos clássicos.

c)Caso você esteja em Portugal nesta semana (9 a 12 de julho de 2009), uma opção "familiar" :a feira erótico medieval.

d)Quadrinhos antigos em inglês: histórias raras.

e)Gulliveriana: quadrinhos de Milo Manara. Uma versão erótica das Viagens de Gulliver. Quando assisti a "Fale com Ela", a sequência do "El Amante Minguante" me remeteu a esta HQ.

Encontrei menções na internet que a inspiração teria sido um conto de Charlie Bukowski. Não falo italiano e também pesquisei a fundo.

Continuando no assunto "mulheres gigantes", me lembro também de um número especial da Kripta, revista de terror da década de 70, na qual todas as histórias giravam ao redor da mesma imagem: a inversão de papéis do filme King Kong, onde uma loira gigante sobre um edifício era atacada por esquadrilhas aéreas.

f)Caso você goste de mulheres "grandes", poderá encontrar algumas neste site (The human marvels) que traz os perfil (em inglês) de muitos "artistas/freaks" antigos circenses: anões, obesos, siameses, "pinheads", magos, comedores de gelo, fortões, pessoas gigantes, etc.

f)Para quem não conhece, Jece Valadão dançando tango com Elis Regina.

terça-feira, 7 de julho de 2009

telegrama




Coerência

“Um exemplar não-otimizado de Homo Sapiens mantém coerência de estado por apenas dois ou três gigassegundos antes de sucumbir à necrose”

(esta frase veio de um post do Mundo Fantasmo, blog do escritor Bráulio Tavares. Quem quiser, pode buscar lá a explicação desta sentença. E, caso você queira mais, segue um outro post sobre Ficção Científica. Ah... vem aí Portal Stalker)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

urobouros ou porque, apesar de tudo, sua mãe permanece com seu pai





E uma lamenta o interesse subentendido nos gestos, eu sei que gosta de mim, então do que tem medo? e a outra confirma, os homens estão todos perdidos, não sabem mais o que querem, se querem, para que querem; não sabem mais lidar com a gente e a de cabelos tingidos em cores impossíveis pondera, quando são novos procuram as mais liberais, as safadas e sem frescura, mas depois que a própria barriga incha e os cabelos caem, percebem que podem tomar um ou dois chifres eventuais e pronto! reclamam que só tem vagabunda poraí, e uma das que voltam do xixi descreve, primeiro, vem como amigos, sem compromisso, e então se espantam, mas você saiu com meu irmão ontem? Ué, mas não era só amizade? Eles cantam liberdade, mas é liberdade só para eles. Enquanto termina de dedilhar um torpedo que não obterá resposta, pois o homem está com a filha do primeiro casamento, o que resultará em uma discussão encerrada por um tapa sem boletim de ocorrência, aquela de cabelos tingidos conclui:

-Amigos, amigos. Eu não quero mais saber de amigos, só quero inimigos, porque tudo que os inimigos querem é te foder e mais nada.















a fome





{Aeroporto, fila do check-in}


Vítor, vem para cá.
Vai demorar muito, pai?
Não. Daqui a pouco, a gente já vai.

{O menino caminha alguns passos, distrai-se com o chão todo preto e branco, preto e branco. Pensa no xadrez do avô, mas ainda não aprendera a jogar. Gosta dos nomes das peças, são nomes completos, que se explicam: a torre, o cavalo, o bispo, o rei, a rainha. O único que lhe causa estranheza é o peão. Já tentara fazer a peça girar sobre si mesma, mas não conseguiu e nunca viu ninguém fazendo. Sua mãe lhe deu uma bronca, disse-lhe para não mexer nas coisas do avô que ele ficaria bravo. Então, o menino perambulava pela casa do avô, observando aqueles móveis antigos, retratos e lembranças de viagem. Viu um telefone de disco, já haviam lhe explicado como funcionava, colocar um dedo sobre o número depois girar até aquele ferrinho em forma de gancho. Dizem que antigamente as coisas eram melhores e mais bonitas, mas aquela idéia de usar um disco no telefone parecia tão besta, porque não faziam um botão logo, não era mais fácil que discar? O menino imagina se este método dos discos era usados para tudo: nos elevadores, nos brinquedos, nos automóveis, nos aviões, para dar corda nos relógios. Um painel imita um barulho como se alguém embaralhasse cartas e os números dos vôos e horários mudam digitalmente.}


...tá demorando...

Tem que esperar, Vítor. Não tá vendo a fila? Espera mais um pouquinho que a gente já vai.


{Experimenta pisar apenas nos quadrados brancos. Mas era chato, sempre tinha alguém passando apressado com uma mala de rodinhas, todo mundo o ignorava, como o mar ignorava seus castelos de areia na praia, não importava a dedicação e o esforço em fazer o castelo maior com fossos, torres, janelas, pontes, lagos, palitos de sorvete, tampas de plástico, o mar vinha e derrubava tudo. No dia seguinte, já não havia rastro. A praia permanecia a mesma. Mas eles não estavam indo para praia, nem eram férias, nem era a casa do avô. O menino bufou para não parecer um suspiro.}


Por que a gente tem que ir?
Eu tenho que trabalhar, Vítor. Já falei pra você.

Por que você tem que trabalhar?
Porque senão a gente morre de fome. Você quer ficar com fome?

{O menino baixa a cabeça e agora decide pisar nos quadrados pretos. Distraído, não percebe que a fila anda. Quando levanta a cabeça, vê que está sozinho e exclama, não tão alto quanto gostaria:}

Pai? PAI?


Aqui, Vítor.



{E o pai confere as passagens e documentos, enquanto o menino agarra-se à barra da calça. Vítor pode não saber jogar, mas reconhece a essência de um xeque mate.}

















*(Editado em 06/07/09. Alterei ligeiramente a conclusão. Desculpem, mas a ideia só me veio óbvia e ululante depois que já havia postado)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

telegramas




"Hoje, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente à cabeça é: porque ela me ajuda a viver. Não é mais o caso de pedir a ela, como ocorria na adolescência, que me preservasse das feridas que poderia sofrer nos encontros com pessoas reais; em lugar de excluir as experiências vividas, ela me faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e me permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mais densa e mais eloqüente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a literatura amplia nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos dão: primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real mais pleno de sentido e belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada ás pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano."

A Literatura em Perigo, Tzvetan Todorov