quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Onirogrito
Vivendo em vísceras
Não sei quem criou a primeira cidade dentro de um organismo. O Mestre Jonas de Zé Rodrix se recusa a sair da Baleia, mas sei de um episódio de “Viagem no Fundo do Mar”, onde um batiscafo tripulado pelo Almirante Nelson e uma cientista russa é engolido por uma baleia. Li um pequeno conto dos innuite (vulgo esquimós) que narra as descenturas das duas esposas de um marido violento que se fogem dele e se escondem nos restos putrefatos e fétidos de uma enorme baleia. Moral da história: melhor uma baleia podre e fedida do que um mau marido. No quase-subversivo desenho das Aventuras de FlapJack, o protagonista mora dentro de uma baleia bem maternal, chamada Bolha. Lembro-me que em uma das viagens de Sindbad ele chega a uma ilha que na verdade é uma monstruosa tartaruga, ideia que foi reaproveitada depois na primeira história em quadrinhos dos novos X-Men, no qual toda uma ilha bombardeada por testes atômicos adquire uma única consciência mutante. Mas nem Sindbad nem os X-Men foram engolidos como aconteceu com Jonas e com Pinóquio; talvez se aproximem mais do conceito por trás do game Shadow of Colossus no qual um guerreiro precisa enfrentar Gigantes pendurando-se e escalando seu corpo (nunca joguei, só li a respeito). Algo semelhante a um quadrinho do Quarteto Fantástico onde a equipe chega a um Planeta Vivo onde enfrenta milhares de criaturas que Reed Richards identificou como anticorpos. Talvez estas histórias sejam reflexos das incomensuráveis criaturas da cosmologia primitiva na qual o mundo era chato, boiando em um pires, carregado por criaturas monstruosas cada vez mais desmesuradas, como era o caso por exemplo de um Bahamut. Em outras histórias, as pessoas é que se apequenam: em Viagem Fantástica um submarino é injetado no organismo de um diplomata que sofreu um atentado, a ideia é tentar remover o coágulo formado em seu cérebro. Lembro da cena dos escafandristas na lágrima. Deste filme derivou o mais recente e abobalhado Viagem Insólita, com Meg Ryan e Dennis Quaid. Mais insano foi o episódio de South Park no qual um camundongo introduzido no ânus de um pervertido realiza uma jornada épica pelas tripas do homem.
Tudo isto ainda não é o mundo dentro do monstro. Como diria Neil Gaiman em seu conto "Golias", criado para o site do filme Matrix: "Um sonho dentro de um pesadelo". Recentemente, houve um filme que misturava atores de carne e osso com animação chamado Osmosis Jones : este explora a ideia de uma cidade numa célula, ameaçada por vírus e bactérias. Virou desenho animado no cartoon network. A verdade é que me recordo mais da série de desenho animado do que do filme. Sei de um gibi chamado Gutsville (“Cidade-tripa”? ), ainda não publicado no Brasil, mas que parte da ideia de uma cidade nas entranhas de alguma criatura enorme. Mas o primeiro lugar em li a respeito de uma cidade surgir dentro de uma criatura foi através do conto de Moacir Scliar, “As Ursas”, que usa uma passagem da Bíblia como base, mas que, segundo me disseram, teria sido inspirado em um outro, mais antigo, que não li e não sei o nome, de Maupassant.
Quando adolescente escrevi um quadrinho com a história de um duende que era apaixonado por uma princesa, e que só podia encontrá-la em seus sonhos. Para isto, ele invadia sua boca todas as noites. Nunca terminei e nem sei onde foi parar este caderno. E também não havia cidade alguma dentro dos sonhos daquela menina. E nunca houve nos meus.
(a foto acima foi a vencedora do Prêmio Veolia de Fotografia da Vida Selvagem: trata-se de um salto de um raro lobo ibérico flagrado por uma máquina de disparo automático na Espanha. Descobri pelo Neatorama. Clique na imagem para ir ao site e vê-la com melhor definição)
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