segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Escadas


Nº15: Anáfora





Primeiro um pé. Depois outro pé. E mais um pé. Depois outro pé. E vai um pé. Depois outro pé. E vem um pé. Depois outro pé. E então o pé. Depois outro pé. E sobe o pé. Firmam-se os pés.

Surge a garota, indo em direção à plataforma. A escada é rolante, portanto ela só faz é descer descer descer descer descer.

No meio do percurso, eles se vêem. Coração fazia Tum e Tum e Tum e Tum e Tum e Tum e Tum, porém agora é tumtumtumtumtumtumtumtumumtumtumtumumtumtum.

Ele deveria voltar seu caminho e ir falar com ela. Mas pra quê? Pra levar um fora como naquela vez? E teve mais aquela vez. E houve uma outra com a Ana. E daquela vez, então? E todas as vezes que não lhe deram vez ou voz. Ele continuou subindo.

Veio o metrô, que em seguida foi embora túnel adentro. Mas logo veio novo trem. Parou e foi embora. Em seguida, chegou outra composição. Deixou as pessoas, levou as pessoas, apitou e tchau. Veio mais um trem, burururum, sai aquele povo, entra outro povo, toca o sinal, fecha as portas e bye.

Ela também vai. Num destes trens, numa destas vezes.













(
Relembrando (retomando?) um "projeto" à la Raymond Queneau. 
Aproveitando, Matt Madden fez algo mais fiel à ideia original, 99 ways to tell a Story - Exercises in style (em quadrinhos) que deve sair por aqui pela Cosac Naify 
)

(imagem via SuperBlackSampler)

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