domingo, 2 de dezembro de 2012

Telegrama






(Páprika, o anime)

1)

"O mundo dos vivos já contém suficientes maravilhas e mistérios sendo como é; maravilhas e mistérios agindo sobre nossas emoções e inteligências de modos tão inexplicáveis que quase justificariam a vida como um estado de encantamento."

Joseph Conrad, ao justificar seu desapego ao Sobrenatural, em introdução para o livro "A Linha de Sombra".

2)

Dois trechos (fora de ordem) de  uma antiga (2009) matéria de Audrey Furlaneto (na Folha de São Paulo) sobre Jorge Furtado, diretor da TV Globo e de filmes, como “O Homem que Copiava” e “Meu Tio Matou um Cara” e que fez a versão de Decamerão (Bocaccio).

a)

Em 2002, hospedado com a equipe num hotel para as filmagens de “O Homem que Copiava”, Furtado descobriu na TV do quarto um canal que exibia imagens da recepção em tempo real.”Eu ficava olhando a TV no quarto e me dei conta de que toda a equipe assistia”, lembra, rindo.

“Tem uma compulsão pela realidade, com Big Brother e todos os realities, os blogs, o YouTube. E o atrativo é: isso está acontecendo. Tudo bem. A “TV Portaria” está realmente acontecendo. O cara está realmente chegando com a pizza, está realmente entregando a pizza para a pessoa. E daí? Qual o valor dramático disso? O que eu aprendo com isso? É quase um voyeurismo e eu acho que a poesia é outra coisa. A arte é uma outra coisa.

Ou pelo menos, pode ser outra coisa que não tem nada a ver com a realidade.”


b)

Numa casa de matéria em que tudo remete ao século XIX, há uma caneca de plástico esquecida sobre a mesa. Nela, lê-se a frase de Rimbaud: “Jamais réel et toujours vrai”(Nunca real e sempre verdadeiro). Foi escrita à mão por Jorge Furtado, porque sintetiza sua busca como diretor de cinema e televisão: quer estar distante da realidade e perto da mágica.


(“Abaixo o realismo na TV”
Folha de São Paulo, caderno Ilustrada, sexta-feira, 22 de maio de 2009)



3)


- Lembre-se: é a verdade que surge da ficção.

(Páprika, anime de 2006 dirigido por Satoshi Kon)

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