segunda-feira, 24 de agosto de 2009

matruska








Bem-te-vi ao longe. Mormaço de tarde lerda. Bateram palmas no portão. A neta foi ao quarto da avó. Vó, levanta. A senhora saiu do cochilo e obedeceu, a longa e branca cabeleira um rio de nuvem. A neta circulando a fossa do castelo da cama. A velha grampeou os cabelos até cabrestarem num coque. Depois os dedos de unhas largas e cheios de veias tatearam o chão pelos chinelos. A neta viu a poeira crescendo que nem mato sob o estrado. Aranhas pelas teias dos pés. Depois a senhora rasteou a sola de borracha nos tacos e tapetes. A neta foi atrás, imitando passo. Avião ronronava distante. O homem pediu algo. A vó foi à cozinha, encheu de água o copo. Entre as roseiras e a conversa dos adultos, a neta escutou amarelo, azul e vermelho. As veias são violetas. O homem agradeceu e foi embora, balançando em passo pesado na calçada. Cantarolava um samba antigo. A avó acompanhou com os olhos aquele homem, copo vazio na mão. O sol detrás fez das nuvens um incêndio branco. A neta continuava futricando joaninhas e tatuzinhos nas plantas. A velha comentou para a menina, certa que não seria ouvida, “Aquele bêbado era para ser seu avô”. Depois mandou a neta sair dali para não ferir os olhos nos espinhos.













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