segunda-feira, 31 de março de 2014

Achados



(Foto do Facebook de Julio Carvalho)

a)Moscas na pintura clássica, numa postagem da Beluga. Um exemplo de Giovanni Santi, Man of Sorrows (1490) Szépmûvészeti Múzeum, Budapeste




Trecho: 
"Moscas nos quadros é que são uma coisa admirável. Ao que parece, tudo começou com Giotto, que segundo conta Vasari, pintou moscas para brincar com o mestre Cimabue. É que Giotto foi um percursor da pintura do Renascimento, eliminando os fundos dourados da pintura bizantina, reproduzindo a natureza e dando às personagens santas um semblante e expressões menos hieráticas. A par dos anjos que choram, das árvores que despontam atrás de uma procissão, das arquiteturas com pormenor, as moscas faziam parte de uma realidade profana que agora passava a figurar em temas sacros, sem que nem o que era secular nem o sacro ficasse prejudicado. Encontrei as moscas destas pinturas, mas em algumas foi impossível, não porque as moscas não estivessem lá (tenho a certeza que estão), mas porque simplesmente não sei do rasto das pinturas em questão. Além disso, Andor Pigler já fez esse trabalho, um trabalho que eu gostaria de ter feito; ou seja, o levantamento da representação da mosca em toda a pintura. 
Podemos pensar que os autores pintaram moscas para nos alertar quando às vaidades terrenas (no caso de Naturezas mortas), para colocarem nos quadros segredos, pormenores que só eles conheciam, para brincar connosco, para parodiar o seu tempo..."


b)Contardo Calligaris e o fim da infância. Ou dos adultos, depende.

Trecho: " Quando as notícias comunicam o número de mortos e feridos num atentado, numa catástrofe ou numa chacina, nunca falta o número de crianças. Podemos não saber se morreram mais homens ou mulheres, mas, se houve crianças entre as vítimas, seremos informados. E, das imagens que a reportagem nos mostrará, a mais tocante será a de um pai ou de uma mãe, carregando o corpo inerte do filho ou da filha.

Menos de dois séculos atrás, a frase "houve 12 vítimas, entre as quais quatro crianças" produziria provavelmente um pequeno alívio, como se a perda das crianças fosse menos deplorável do que a dos adultos. Hoje, é o inverso.

Da mesma forma, hoje, se a imprensa escrevesse que houve, entre as vítimas, cinco idosos, reagiríamos pensando que é uma pena, claro, mas, menos mal: eles já estavam de saída. Ora, um hipotético leitor de dois séculos atrás pensaria que os idosos são a perda irreparável: afinal, uma criança, ninguém sabe no que ela vai dar, enquanto um idoso é patrimônio consolidado. Num incêndio, você prefere que queime um caderno quase virgem ou o outro, no qual você anota seu diário há décadas?"

c)Morar numa vila.


"Criadas na Dinamarca, as cohousings espalham-se pelo mundo e chegam ao Brasil, pregando um morar leve no planeta e que descomplica a rotina das famílias.

É quase um condomínio, no qual cada família tem seu espaço privativo. A diferença está na possibilidade de reduzir o tamanho das casas ou dos apartamentos em troca de ambientes usados por todos. Um exemplo é a lavanderia comunitária, em que três ou quatro máquinas de lavar resolvem a demanda de dez ou mais grupos.

Nas cohousings - que surgiram na Dinamarca nos anos 70 e hoje são comuns principalmente na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá -, é assim também com a biblioteca, a horta, a oficina, a brinquedoteca, o refeitório, a sala de TV e, em alguns casos, até os carros. "Compartilhar diminui o consumo e o impacto ambiental, além de facilitar o dia a dia dos moradores, que ganham qualidade de vida, com menos necessidade de trabalho e dinheiro", afirma o arquiteto Rodrigo Munhoz, do escritório Guaxo Projetos Sustentáveis, de Piracicaba, SP.

"Desse modo, as pessoas se sentem mais seguras, num clima de vida no interior, embora tenham acesso a tudo o que a cidade grande oferece", completa Munhoz, que está formando um grupo para criar em sua cidade a primeira cohousing brasileira, com habitações sustentáveis, princípios de boa vizinhança e cotidiano menos dispendioso."


Bom... a ideia parece boa. Lamento apenas que exija espírito comunitário, uma substância que deve ter sido extinta e as pessoas procuram desesperadamente encontrá-la novamente.

 
Ou talvez eu esteja sendo velho, não sei.

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