sábado, 12 de dezembro de 2020

três personagens


 

 


 

Agnangá, o Barba Branca

Cervo Bruxo que habita a floresta de Montesa, na Garganta da Neblina. Recebe também o nome de Barba Branca por conta da pelagem branca que se projeta de sua cabeça em direção ao peito. Sua pelagem é negra, mas está recoberta de signos arcanos de proteção e sorte. Dentre essas marcas se destacam pegadas em seu lombo, dizem que pertencem às virgens que o montaram para voar.

Há quem diga que nas noites de lua cheia se transforma em um velho que invade as casas na beira da floresta atrás de doces ou dedos de bebês. Também o acusam de seduzir e engravidar moças magras. Outros afirmam que Agnangá foi um bruxo, que, para escapar de um inimigo poderoso, se escondeu sob a sombra de um cervo, preferindo ser apenas um animal.

Em seu pescoço carrega uma trouxinha com fumo e um pequeno cachimbo de osso. Se você preparar e acender este cachimbo para Agnangá pitar, ele poderá lhe prestar um favor. O Barba Branca também gosta que lhe façam um colar de ranúnculos, neste caso poderá lhe deixar uma charada ou uma profecia.

 

 

Thortle, o tortle do trovão

 


 


Os bárbaros tortles não costumam ser grandes contadores de histórias, são criaturas práticas e rústicas, mais dadas à ação do que a conversa. Seus poemas ensinam como desviar rios e levantar muros, são naturalmente desconfiados de pessoas e seres de fala rápida. Uma exceção é a Canção de Thortle, um épico que narra a história de um de seus poucos heróis lendários.
 

Thortle nascera com um defeito na perna e estava destinado a ser o xamã-curandeiro de sua aldeia por ser considerado incapaz de trabalhos físicos ou de lutar. O primeiro terço do épico é uma longa lista de piadas cruéis e de comentários revoltantes sobre sua condição, do ponto de vista do restante da comunidade e de seu próprio clã familiar.

Durante um ataque de missionários aarakocras, Thortle foge para a floresta e se esconde sob as raízes de um jacarandá assombrado. Ali, encontrou um buraco de tatu que o levou para uma caverna e dentro da caverna encontrou um machado (ou segundo outras versões, um martelo) e que essa arma daria poderes do Senhor do Trovão ao detentor honrado.

O segundo terço da Canção conta boa parte de suas aventuras, enfrentando gigantes e monstros e libertando seu povo dos missionários aarakocras. O último terço do poema geralmente não é cantado, exceto nos enterros de algum tortle importante. Descreve a queda de Thortle, de como decide renegar seu clã e sua aldeia, ressentido por todas as crueldades durante sua juventude. E, por conta disso, perde a capacidade de invocar os poderes do Senhor do Trovão. No final, Thortle consegue se redimir, mas morre devido aos graves ferimentos na guerra contra os wererats.

 

 

Kiana, a genasi do mar profundo  

 

Transportávamos as princesas gêmeas para o arquipélago de Saman, onde elas deveriam ficar protegidas da Invasão dos Ataches. Juntamente com elas, embarcaram membros da corte, responsáveis por sua educação, saúde e companhia. Eu era um rapaz simples, conhecia mais as coisas do mar do que do Palácio, então me surpreendi com a presença daquelas pessoas, tão diferentes de nós. Havia um idoso dos mares do Trópico, fazia de qualquer objeto um instrumento musical, e só se comunicava por meio de assobios. Havia uma família de anões, pai, mãe e filhos, todos muito simpáticos e sorridentes, que faziam todos rirem... exceto pelo primogênito, forte como um touro, calado como uma faca e que ficava sempre nos bastidores. Havia um fauno, professor e poeta, impossível de se vencer nas rimas. E havia Kiana, a genasi.

Kiana era uma das damas-de-companhia das princesas. Conforme os demais membros da corte, raspava os cabelos e usava peruca, era uma forma prática de evitar piolhos. Foi por conta dessa prática, que acabamos descobrindo que Kiana era uma genasi.

Durante a viagem, fez um dia ensolarado e o mar estava tranquilo, quase sem vento. Kiana então decidiu levar as gêmeas para o convés. Ali ela rasparia os cabelos das meninas com uma navalha curta. Devia ser algo prazeroso, pois as meninas começaram a disputar quem seria a primeira a ter o cabelo cortado. Elas brigaram e, no empurra-empurra das crianças, deixaram cair um baú pela amurada.

O baú era um presente da Matriarca-Avó e as crianças começaram a chorar. Kiana se levantou, olhou para o mar e foi falar com o Capitão Vahid. Estávamos bem no meio do Estreito de Saman, onde há uma fenda no solo do oceano. Não sei o que conversaram, nem o que fez para convencê-lo, mas o Capitão aceitou. Ordenou que voltássemos e aquartelamos o navio. Então, no momento de baixar a âncora, Kiana retirou suas vestes e peruca e desceu juntamente no mar. As pessoas acompanharam por longos e tensos minutos o mergulho, esperando movimentos na corda. A genasi retornou do outro lado, o baú em mãos, entregou às princesas e fez com que se desculpassem e agradecessem a Vahid

Naquela noite, eu me aproximei dela e perguntei como havia feito aquilo, de afundar sem se afogar. Depois me disseram que foi muito atrevimento; que por muito menos, plebeus levavam esculachos e puxões de orelha. Mas Kiana me recebeu bem, talvez pela minha pouca idade, talvez por não se importar com essas questões de sociedade. Contou-me que sua mãe era de uma família de jangadeiros pescadores; que sua mãe foi engravidada pelas ondas, após a linha de arrebentação; que foi criada na praia entre os pescadores; que, por sua beleza, foi vendida e adotada por uma marquesa; que, tinha jeito com crianças, e atraiu atenção dos tutores do palácio; que a vida na corte era um porre, que era importante ter comida para o corpo, mas liberdade era alimento para o espírito.

 
Depois de alguns dias, chegamos à Fortaleza de Verão no Arquipélago de Saman. Ajudei a descarregar as bagagens dos membros da corte, cheguei a ver as princesas desembarcarem, mas notei que Kiana não estava no grupo. Fui para a murada da proa e pude vê-la nadando nua para não voltar. Parecia feliz. Gostaria de saber a cor verdadeira de seus cabelos.


 

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