Alibaba e os quarenta ladrões
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Com seu site Taobao, o Alibaba copiou o eBay. Com Tmall, reinventou a Amazon. Com Alipay, reimaginou o pagamento on-line, à maneira PayPal. E com o China Yahoo, assumiu o controle do Yahoo no China. Se acrescentarmos a esses ativos uma plataforma especializada em transações entre profissionais – o modelo econômico inicial do Alibaba - , um site bancário de empréstimos para pequenas e médias empresas, venda de seguros on-line e um serviço inovador de cloud computing (Aliyun), podemos ter uma ideia do império Alibaba. Um império que estendeu muitas de suas ambições desde que passou a ser cotado na Bolsa de Nova York, em 2014, numa operação financeira que foi ao mesmo tempo a maior estreia de uma empresa tecnológica na história e o valor mais alto alcançado por uma empresa chinesa (da ordem de 223 bilhões de dólares, mais que eBay, Twitter e LinkdIn juntos). Se no Ocidente são temidos hoje em dia os abusos de posição dominante dos “GAFA” (Google, Apple, Facebook e Amazon), na China passou-se a temer o monopólio dos “BAT” (Baidu, Alibaba e Tencent).
“Nossa força está no alcance do mercado nacional”, prossegue Alex [
Jianbing Gujb, diretor de marketing do Alibaba]. A internet na China não é mais um setor geograficamente deslocado nem de terceirização; temos nossas próprias empresas. Nossa fragilidade é a criatividade e a inovação. Temos os melhores engenheiros, mas nos faltam ideias e patentes. E então nos voltamos para o que é feito lá fora. Mas todas as empresas americanas fracassaram aqui: YouTube, eBay, Yahoo, Google e Twitter não conseguiram se implantar. Nós as vencemos.”
Venceram? Ou plagiaram? As cópias são a solução inventada pela China para resolver um problema de criatividade acompanhado de um problema existencial: como construir uma internet forte sem ser dominado pelos americanos? Como inovar quando faltam ideias? A solução chama-se Renren (pronuncia-se Jenjen, o Facebook chinês), Youku (YouTube), QQ (MSN), Weibo (Twitter), Beidou (GPS), Meituan (Groupon), Weixin (WhatsApp) e sobretudo Baidu (um buscador que se parece com o Google). Seus “modelos” americanos foram proibidos, bloqueados, censurados, ou então comprados – sem motivo oficial real, pois a priori nada impede que um site americano esteja presente no território chinês. Visitando a maioria dessas cópias numa dezena de grandes cidades chinesas, assim como suas filiais em Hong Kong, Cingapura e Taiwan, entendi que os chineses queriam ter acesso aos mesmos sites e serviços que os americanos, sem por isso depender deles. E que, portanto, bastava duplicar.
E conseguiram! No trem-bala que liga Xangai a Beijing, dou-me conta do que é a China em marcha. Num percurso de 1.300 quilômetros, pontes e estações faraônicas foram construídas, além de autoestradas de contorno. No interior dos vagões luminosos, jornais e livros praticamente desapareceram. As telas invadiram o espaço de lazer, mas também os espaços de informação e relações interpessoais. No bar, bebendo chá de crisântemo e compartilhando uma fatia de bolo Strawberry Dragon Dumpling, um grupo de jovens chineses se comunica pelo Renren e pelos weibos, conversando pouco entre eles. Mal levantam os olhos quando o trem atravessa a grande velocidade o rio Azul e rio Amarelo.
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(Trecho de Smart – o que você não sabe sobre a internet, Frédéric Martel (2015)) imagem Via