“A imagem preferida da Internet é de um sistema solar
eletrônico nebuloso, uma “nuvem” cósmica. Tenho uma prateleira cheia de livros
sobre a Internet, e todos têm praticamente a mesma imagem na capa: uma bolha de
linhas suavemente luminosas, misteriosas como a Via Láctea – ou o cérebro
humano. Na realidade, pensar na Internet como uma coisa física saiu tanto de
moda que é mais provável que a vejamos como uma extensão de nossa mente do que
como máquina. “O futuro ciborgue está aqui”, proclamou o escritor de tecnologia
Clive Thompson em 2007. “Quase sem notar, terceirizamos funções periféricas
importantes do cérebro ao silício que nos cerca”.
(...)
Kevin Kelly, o filósofo do Vale do Silício, diante do abismo
entre o aqui, físico e o lá, virtual e perdido, ficou curioso se poderá haver
uma maneira de pensar neles reunidos novamente. Em seu blog, solicitou desenhos
dos “mapas que as pessoas têm na mente, quando entram na Internet”. O objetivo
desse “Projeto de Mapeamento da Internet”, como ele descreveu, era tentar criar
uma “cartografia popular” que “pudesse ser útil para algum semiótico ou
antropólogo”. E o projeto saiu do éter dois dias depois – por uma psicóloga e
professora de comunicação da Universidade de Buenos Aires chamada Mara Vanina
Osés. Ela analisou mais de cinquenta dos desenhos que Kelly recolheu e criou
uma taxonomia de como as pessoas imaginavam a Internet: como uma malha, um anel
ou uma estrela; como uma nuvem ou emitindo raios, como o sol; com elas próprias
no centro, na base, à direita ou à esquerda. Estes mapas mentais foram
divididos principalmente em dois campos: expressões caóticas de um infinito
obscuro, como pinturas de Jackson Pollock, ou uma imagem da Internet como uma
aldeia, desenhada como uma cidade de livro infantil. São perceptivas e revelam
plenamente a consciência que temos de como vivemos na rede. Parece-me, porém,
que em nenhum caso aparecem as máquinas da Internet. “Todo esse silício” não
está em lugar nenhum. Parece que trocamos milhares de anos de cartografia
mental, uma ordenação coletiva da Terra que remonta a Homero, por um mundo liso
e sem lugares. A realidade física da rede não é nada real – é irrelevante. O
que a cartografia popular de Kelly retratou mais nitidamente foi que a Internet
é uma paisagem mental.”
Andrew Blum, em Tubos – o mundo físico da Internet (2012)
-achei o livro um tanto técnico demais pro meu gosto (poderia ser diferente?), mas o prefácio vale-
(Imagens do "Projeto de Mapeamento da Internet" via Brainpickings)
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