segunda-feira, 25 de abril de 2011
de segunda
O Homem de Carne desperta: outro pesadelo com ganchos, aventais, cutelos, frigideiras. Sua mulher aconselha a procurar um especialista. Ele se recusa, seus nervos estão em ordem. O Homem de Carne prefere ambientes fechados e refrigerados. Sua esposa adoece, sempre espirrando por viver em ares gelados. O Homem de Carne senta falta lá de fora; percorre melancólico o álbum de família repleto de fotografias de pastos, ruminantes e um ou outro coelho. Os dedos deixam marcas sangrentas nas páginas.
Um dia, a esposa precisa viajar. Uma semana longe, em outra cidade. O Homem de Carne teme ficar sozinho, mas não admite. Não confessará seus medos: antes de tudo é um Homem. Como se fosse combinado, há um corte de energia: os aparelhos de refrigeração são desativados. As horas passam e ele se sente putrefazer. As moscas varejeiras infiltram-se pelas frestas e o Homem de Carne divide a poltrona com um enxame. Bate um desespero e o Homem de Carne tenta fugir, mas acaba devorado por vira-latas.
A esposa do Homem de Carne ficou triste, mas não muito. Logo ela arrumaria casamento com um Salame.
(.)
imagem via Le Zébre bleu: fotografia de Sarah Sudhoff - Murder, Male, 40 years old (II).
“death’s invisibility enhances its terror”
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