quinta-feira, 4 de junho de 2009

pequeno infinito




Sei que é uma forma bastante subjetiva de enxergar, mas qualquer coisa acima do que se possa contar já é um infinito. Portanto, para mim, que nunca consegui contar até 1000, 1000 é um infinito. Quando criança, me pediam para ir até cem, antes de começar a procurar os outros no esconde-esconde. Eu acelerava cada vez mais a contagem, enquanto escutava as risadinhas e os gemidos nas minhas costas, alguém reclamava e mandava que eu gritasse os números mais alto e eu gritava a sequência numérica, os olhos abertos fitando os braços, na esperança de pegar alguma sombra que revelasse os movimentos. Adrenalina no sangue, gritava Lá vou eu! Um dia, minha mãe me chamou antes de terminar a contagem. Já era noite, cheiro da janta no ar. Fui embora, não os avisei que a brincadeira terminara. Durante a madrugada, os pais bateram à porta de casa. Eram as mães preocupadas com os filhos que não voltaram para casa. Os dias passaram e eles nunca reapareceram. Acharam que era culpa minha e fico pensando se não foi. Tenho medo de um dia olhar debaixo da cama e encontrar um deles, preservado, ainda criança. Talvez isto ainda aconteça. Acho que eles estão lá escondidos, no infinito.

















2 comentários:

  1. Adorei. como você conseguiu conduzir de uma coisa que parecia, de início, simples à um fechamento que me fez não querer mais guardas tênis debaixo da cama.
    abraços

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  2. Caro Brontops:
    Assim que tiver tempo escrevo no Belogue um post relativo à proposta/sugestão que me fez. Desculpe não ter respondido mais cedo. Obrigada por aparecer por lá. Cumprimentos, Beluga

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