quinta-feira, 4 de junho de 2009

Onirogrito

Panfleotário




1

Pã ou Pan, deus grego e fanho, protetor dos bosques, campos, rebanhos, pastores. Morava em grutas, vagava por vales e montanhas. Divertia-se com a caça ou tocando músicas para as ninfas: inventor da sírinx e do pandeiro. Feito Caipora e Curupira, era temido por quem atravessasse a mata durante a noite, ou pelos caçadores. Esta semelhança é justificada por a) uma evolução convergente; b) um misterioso laço de parentesco que só poderia ser explicado por atlantes ou deuses alienígenas antediluvianos; c) por uma memória arquetípica cromossômica. Caipora era um menino montado em um porco do mato. Pã tem algo de
trickster: menino travesso e animal perigoso na mesma criatura. O Curupira tinha pés invertidos: calcanhares voltados para frente, acompanhando os joelhos. Pã possuía patas de bode no lugar de pernas e, como tal, os joelhos dobravam para trás. O medo que provocava à noite deu origem a palavra Pânico. Segue Bulfinch: “Como o nome do deus significa tudo, considerou-se Pã símbolo do universo e personificação da natureza, e mais tarde, enfim, foi olhado como representante da todos os deuses e do próprio paganismo.” Tudo também significava medo, medo que significava tudo. Tudo dava medo ou se tinha medo de tudo ou tudo era medo?

Às vezes, o lado humano e o lado animal de Pã se dividem, como em Peter Pan, na qual o menino sai voando e os meninos selvagens seguem o garoto como bichos de estimação. Às vezes se sobressai, restando apenas a fera, como no caso da Pantera.

Otário: nós todos, os malandros e os otários, somos todos otários. Nome comum de uma espécie de foca preta, muito esperta e fofa, utilizada em espetáculos circenses para bater palmas e tocar musiquinhas em cornetas.

2

Um otário me disse que voltei panfleotário: me disse que não melhor nem pior ninguém para dizer como as coisas tinham ou precisavam ser.

3

Um otário me disse que a arte precisa ser como música: atingir os ouvidos e a alma e não precisar dizer nada.

4
Um otário me disse para falar apenas sobre aquilo que é inerte: aquilo que só serve para entreter.

5

Um otário me disse para ser escapista, mesmo sabendo que escapismo produz escapistas.

6

Um otário me disse para ficar quieto: o melhor efeito é não fazer efeito: que entre falar besteira e falar nada, melhor o nada.

7

Me falaram: a favela tem razão, não porque tenha razão, mas porque o que ela diz, vende.

8

Um otário me disse que harmonizar e puxar o saco é a mesma coisa

9
melhor não revelar o que Deus é

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Um otário me disse que todos são otários por não gostarem daquilo que os otários gostam: é preciso aprender a consumir arte. Se não precisar aprender, então não é arte.

11

Estilo prescinde mensagem.

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13

Nós queremos que o mundo acabe, mas não sabemos o que colocar no lugar dele.












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