sexta-feira, 8 de maio de 2009

inconsciente coletivo







Distraíra-se com os grafites do muro branco do cemitério. Bocejou. Quando deu por si, ela continuava a seu lado, embora não soubesse precisar desde quando. Ele estava sem fone, o ipod caíra no chão e não havia mais música. Os demais bancos do ônibus vazios e ela sentada ao seu lado e concentrada no livro. O balanço das curvas lhe facilitou ver a capa. A biografia de Eric Clapton. Olhou sem disfarçar o rosto dela. Uma mulher simples.



Você não tem cara de quem gosta de rock.

Eu não gosto. Tenho este livro pela história do filho dele.


Do filho?


É, um filho dele caiu da janela de seu apartamento. Tinha quatro anos de idade. Foi aí que ele compôs tears in heaven
(Cantarola melodia).


Ah... Lembro. Tocou bastante.



Ela fecha o livro, se levanta e aperta a campainha para parar o ônibus.


Gostaria de ter aprendido a tocar um instrumento.


Diante do silêncio do outro, continuou.


Quando meu filho de quatro anos caiu, não tive escolha a não ser saltar atrás.


Antes de qualquer coisa, ela já não estava mais lá.

















(The Bus, by Paul Kirchner - fonte imagens)

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