Como todos, você nasceu em uma gaiola. Seus cabelos são brancos, brancos demais para alguém tão novo. Você é bem-alimentado e toda sua família está lá, no mesmo presídio. Pelas grades, você escuta as pequenas conversas, fofocas, os gritos das crianças, as brigas, os partos, as mortes. Ouvem-se fodas, você imagina se são os seus pais ou seus irmãos. Logo você terá sua vez, pode ser sua prima, sua irmã. Nesta noite, você sonha com arranhas-céus verdes e helicópteros ameaçadores. Você nasceu em uma gaiola, mas está bem-alimentado e pode se exercitar e periodicamente o retiram para realizar exames. Nestes momentos, pode acontecer um carinho. Ainda assim, luta com os irmãos e irmãs, os derrotados encolhidos em um canto, cabeça baixa, olhando a paisagem entre as grades. Você só sabe que é noite quando todos se vão e apagam o sol. Restam estrelas verdes e vermelhas no horizonte e vocês cantam histórias antigas sobre planícies e abóbadas celestes, sobre a morte vinda dos céus e do chão, sobre o outono e o inverno e sobreviver. Mesmo sem querer, você conclui que este é o paraíso. Pelo menos até a injeção de agentes bacterianos. Sem placebos, apenas como controle do outro grupo de cobaias.
(Streptococus. Imagem daqui. )
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