sexta-feira, 8 de julho de 2016

Telegrama


Frilas





Encontrei [Richard Greenwald] num café em Williamsburg, no Brooklyn, cheio de gente trabalhando grudada em laptops, as quais ele passara anos estudando: a saber, freelancers. Professor de história e sociologia no St.Joseph College no Brooklyn, onde é reitor, Greenwald começou pesquisando temas mais tradicionais, como a ascenção do sindicato dos trabalhadores em vestuário feminino. Mas em seu trabalho de jornalista e ativista, ele percebeu que o mundo à sua volta fazia pouca referência aos redutos sindicais da força de trabalho urbana, que era seu objeto de estudo. De fato, aquilo era muito diferente do mundo de abundância e altos salários que tinham caracterizado a vida corporativa durante gerações. E também não consistia em trabalhadores do conhecimento “controlando os meios de produção” numa “sociedade pós-capitalista”, conforme o falecido Peter Drucker havia profetizado (...). Greenwald via as pessoas pulando de bico em bico, numa trajetória ainda mais irregular e precária de desemprego quase permanente.


“O setor de serviços autônomos é o de mais rápido crescimento em nossa economia”, ele me disse. É difícil fazer uma contagem dos freelancers hoje. Fazer declaração de imposto de renda como autônomo não significa que você não tem emprego permanente, e o Bureau of Labor Statistics não faz uma estimativa desde 2005, mas estimativas razoáveis chegam a um número entre 25 e 30% da força de trabalho norte-americana. Esses números estão crescendo também nos países europeus, levando alguns autores a falar de um proletário precário nos escritórios ou “precariado”. Alguns desses trabalhadores precários preferem sair da força de trabalho permanente, e muitos são expelidos dela. Muitos não têm planos de saúde, muitos estão numa constante e “desesperada necessidade de dinheiro”. E sofrem da “ilusão de que nem tantos deles são explorados”. (...)


Certamente, como Greenwald explicou, o cenário é complicado. A partir de várias conversas com freelancers e com quem os contrata, ele descobriu que o trabalho por prestação de serviço proporciona uma certa liberdade. Nas atitudes dos entrevistados, foi identificado um “sentimento de orgulho e identificação com o trabalho” (...). As pessoas em indústrias criativas, como design gráfico, falam da satisfação obtida com o trabalho. Freelancers que trabalham bem têm um controle substancial sobre os horários e o trabalho que produzem. Como quaisquer outros, eles vendem seu trabalho, mas os melhores podem estipular o preço.


Ao mesmo tempo, junto com a satisfação, vem “um monte de preocupação”. Quando os freelancers SÃO explorados – quando têm que aceitar um trabalho por pouco dinheiro e não há mais nada em vista, mas as contas vão chegar de qualquer jeito -, eles se sentem “impotentes para evitar a exploração”. (...) Geralmente, as pessoas trabalham sozinhos e muitas se denominam “empreendedoras”, o que frequentemente significa que se consideram únicas. Isso quer dizer que, quando fracassam, assumem inteiramente a culpa, em vez de atribuí-las ao sistema. Greenwald (...) culpa a enorme quantidade de livros de autoajuda de freelancers por promover uma intensificação da atitude dessa classe de trabalhadores com relação ao contrato de trabalho, que raramente informa as dificuldades a serem enfrentadas.

(...)

Do ponto de vista dos empregados na força de trabalho permanente, freelancers e temporários parecem gozar de maior autonomia. São os prestadores de serviço que determinam a modalidade de trabalho (autônomo) ou a duração do trabalho (temporários). Mas o trabalho contingente não admite maiores reivindicações. É notória a dificuldade de obrigar o contratante a cumprir o contrato com um freelancer. Quando mais fraco é o mercado de trabalho, mais forte é o controle das empresas sobre as forças do trabalho. (...) O número de freelancers e de outras formas de trabalho informal pode estar sendo subestimado. Nesse aspecto, os Estados Unidos estão voltando à era pré-industrial (...). Em meados do século XIX, o mercado de trabalho era vasto e não regulamento, e os trabalhadores não eram contados de forma sistemática. Dado o aumento de empregos precários, ou a precariedade de empregos permanentes, o trabalho parece estar caminhando não para frente, mas para trás, para uma era de insegurança. Não por coincidência, o próprio escritório pode estar desaparecendo, pelo menos na forma que surgiu no início do século XX.



Cubiculados -  Nikil Saval (Anfiteatro/ Rocco)

imagem veio DAQUI