Frilas
Encontrei [Richard Greenwald]
num café em Williamsburg, no Brooklyn, cheio de gente trabalhando grudada em
laptops, as quais ele passara anos estudando: a saber, freelancers. Professor
de história e sociologia no St.Joseph College no Brooklyn, onde é reitor, Greenwald
começou pesquisando temas mais tradicionais, como a ascenção do sindicato dos
trabalhadores em vestuário feminino. Mas em seu trabalho de jornalista e
ativista, ele percebeu que o mundo à sua volta fazia pouca referência aos
redutos sindicais da força de trabalho urbana, que era seu objeto de estudo. De
fato, aquilo era muito diferente do mundo de abundância e altos salários que
tinham caracterizado a vida corporativa durante gerações. E também não
consistia em trabalhadores do conhecimento “controlando os meios de produção”
numa “sociedade pós-capitalista”, conforme o falecido Peter Drucker havia
profetizado (...). Greenwald via as pessoas pulando de bico em bico, numa
trajetória ainda mais irregular e precária de desemprego quase permanente.
“O setor de serviços
autônomos é o de mais rápido crescimento em nossa economia”, ele me disse. É
difícil fazer uma contagem dos freelancers hoje. Fazer declaração de imposto de
renda como autônomo não significa que você não tem emprego permanente, e o Bureau
of Labor Statistics não faz uma estimativa desde 2005, mas estimativas
razoáveis chegam a um número entre 25 e 30% da força de trabalho norte-americana.
Esses números estão crescendo também nos países europeus, levando alguns autores
a falar de um proletário precário nos escritórios ou “precariado”. Alguns desses
trabalhadores precários preferem sair da força de trabalho permanente, e muitos
são expelidos dela. Muitos não têm planos de saúde, muitos estão numa constante
e “desesperada necessidade de dinheiro”. E sofrem da “ilusão de que nem tantos
deles são explorados”. (...)
Certamente, como Greenwald
explicou, o cenário é complicado. A partir de várias conversas com freelancers
e com quem os contrata, ele descobriu que o trabalho por prestação de serviço
proporciona uma certa liberdade. Nas atitudes dos entrevistados, foi
identificado um “sentimento de orgulho e identificação com o trabalho” (...).
As pessoas em indústrias criativas, como design gráfico, falam da satisfação
obtida com o trabalho. Freelancers que trabalham bem têm um controle
substancial sobre os horários e o trabalho que produzem. Como quaisquer outros,
eles vendem seu trabalho, mas os melhores podem estipular o preço.
Ao mesmo tempo, junto com a
satisfação, vem “um monte de preocupação”. Quando os freelancers SÃO explorados
– quando têm que aceitar um trabalho por pouco dinheiro e não há mais nada em
vista, mas as contas vão chegar de qualquer jeito -, eles se sentem “impotentes
para evitar a exploração”. (...) Geralmente, as pessoas trabalham sozinhos e
muitas se denominam “empreendedoras”, o que frequentemente significa que se
consideram únicas. Isso quer dizer que, quando fracassam, assumem inteiramente
a culpa, em vez de atribuí-las ao sistema. Greenwald (...) culpa a enorme
quantidade de livros de autoajuda de freelancers por promover uma
intensificação da atitude dessa classe de trabalhadores com relação ao contrato
de trabalho, que raramente informa as dificuldades a serem enfrentadas.
(...)
Do ponto de vista dos
empregados na força de trabalho permanente, freelancers e temporários parecem
gozar de maior autonomia. São os prestadores de serviço que determinam a
modalidade de trabalho (autônomo) ou a duração do trabalho (temporários). Mas o
trabalho contingente não admite maiores reivindicações. É notória a dificuldade
de obrigar o contratante a cumprir o contrato com um freelancer. Quando mais
fraco é o mercado de trabalho, mais forte é o controle das empresas sobre as
forças do trabalho. (...) O número de freelancers e de outras formas de
trabalho informal pode estar sendo subestimado. Nesse aspecto, os Estados
Unidos estão voltando à era pré-industrial (...). Em meados do século XIX, o
mercado de trabalho era vasto e não regulamento, e os trabalhadores não eram
contados de forma sistemática. Dado o aumento de empregos precários, ou a
precariedade de empregos permanentes, o trabalho parece estar caminhando não
para frente, mas para trás, para uma era de insegurança. Não por coincidência,
o próprio escritório pode estar desaparecendo, pelo menos na forma que surgiu
no início do século XX.
Cubiculados - Nikil Saval (Anfiteatro/ Rocco)
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