terça-feira, 26 de junho de 2012

Onirogrito

Outros espelhos distantes


















Uns meses atrás, alguns artigos reclamavam do cenário habitualmente sombrio da ficção científica. Dentro do caderno Link do Estadão, o colunista Alexandre Matias dava espaço às ideias do neurocientista palmeirense Miguel Nicoelis. Conforme Nicoelis afirma, a ficção científica prefere os futuros apocalípticos: “Hoje em dia você pega um filme de Hollywood ou um livro best-seller, é tudo assim: ‘Vamos destruir a raça humana… Vai acabar o mundo… Vamos criar um híbrido de não sei o quê… Os computadores vão nos deixar obsoletos…’

Escritores gringos de ficção científica também se comunam nesta percepção. O artigo de Alexandre Matias cita o norte-americano Neal Stepherson e o crítico e escritor Antonio Luiz M.C.Costa analisa Shine, uma antologia do holandês Jetse de Vries que se propunha a ficção científica em um contexto otimista. Costa ainda discorre sobre os motivos históricos que levaram a uma preponderância das distopias e cenários pessimistas na Ficção Científica, que, para mim, soou mais interessante que os contos de Shine.

O fato é que esta conversa toda inverte a questão.

A ficção não molda a realidade. A realidade é quem molda a ficção.

A ficção fornece “lentes” que permitem diferentes interpretações da realidade. Mas quem escolhe as interpretações são os indivíduos. Qualquer pessoa que viveu os últimos trinta anos de transformações abraçou – principalmente via consumismo – todas as grandes mudanças que a ciência e tecnologia disponibilizou à humanidade. O impacto destas mudanças acelerou a economia e a vida e trouxe muitos benefícios. E, também malefícios. É inegável o sentimento de descontrole, de se estar perdido em meio ao turbilhão.

E isto se espelha na ficção de, pelo menos, duas formas: ou na fantasia de indivíduos absurdamente poderosos… ou na distopia apocalíptica ou totalizadora na qual as pessoas são meros joguetes.
Não existe bem ou mal. Existem gestos, ações e reações. Para cada passo a frente, um mundo fica para trás, e tudo que é belo e horrível também desaparece. Hoje não conseguimos imaginar o que seria o mundo sem celulares, televisão , internet. E também não conseguimos imaginar o que é silêncio, que estar sozinho é diferente de estar solitário. “Acreditar” ne evolução do homem, “acreditar” nos benefícios da tecnologia, “acreditar” que o futuro sempre será melhor, é ignorar a realidade.


(Publicado originalmente aqui, na Terracota. Fonte da imagem: o tumbrl Metropolis of Tomorrow


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Achados




a)Penas

Dá para fazer mais coisas com penas, além de travesseiros e adereços de madrinhas de bateria.

Vejam as obras de Kate MccGwire. Via La Zèbre Bleu





b)Ars vita est

Ótimo tumblr com arte, poesia, fotografia e outras cositas más. Com mais
"conteúdo" que o habitual do tumbrl (imagens, fotografias e aforismos) e com séries de postagens, organizado de um modo que jamais consegui fazer por aqui.

De lá veio a imagem abaixo, (Jean-Léon Gérôme, Le Barde Noir, 1888) de uma série de postagens "Orientalistas" (referência a Said)






c)Pombos Fotógrafos

Em 1908, um farmacêutico alemão chamado Julius Neubronner usava pombos-correio para a entrega de medicamentos. Ele desenvolveu um equipamento para que fotografar o voo dos pombos (sob o ponto de vista deles, lógico, senão não haveria graça). A falta de interesse militar ou comercial após a Primeira Guerra, fez Julius abandonar seus experimentos, mas a ideia ressurgiu brevemente após a década de 30, por um relojoeiro suíço e pelas forças armadas da França, Alemanha e a CIA. Fonte AQUI.

Via Pratinho de Couratos e Coisas do Arco da Velha.

A história soa fidedigna; muitos sites repetem a história, inclusive há recortes antigos de jornal sobre o assunto. Por outro lado, algumas imagens dos pombos com câmeras penduradas "parecem" colagem. Além disso, o que é mais estranho, existem poucas imagens disponíveis da rede (google) destas fotografias... São sempre as mesmas.

Mas pode-se considerar a possibilidade da coisa não ter dado lá muito certo e só ficaram as imagens que "deram certo".

Sei lá. Estou com o pé atrás.

domingo, 24 de junho de 2012

Telegrama




Noite de São João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de São João.
Porque há São João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

(Noite de São João, Alberto Caeiro)


Via Beluga




(Já que estamos falando do Pessoa, segue um LINK para uma carta de Fernando Pessoa para Ophelia Queiroz, no blog - sempre muito interessante - "Questões Manuscritas" de Pedro Corrêa do Lago)

(Imagem: Gravura de Michael Heer (1626). Veio daqui)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Onirogrito




eu canto com muita coerência,
sobretudo inteligência
mas não deixo de ser um gangsta besta.


(après Buraka Som Sistema Imagem: Arnold Böcklin, Luta de centauros (1873) )